Dados de atividade nos EUA podem adiar corte de juros pelo Fed; no Brasil, Ibovespa sobe com alívio na curva de juros: veja os destaques do dia 

A semana foi marcada pelos indicadores de inflação dos Estados Unidos e Brasil e novas medidas de Trump. Confira. O post Dados de atividade nos EUA podem adiar corte de juros pelo Fed; no Brasil, Ibovespa sobe com alívio na curva de juros: veja os destaques do dia  apareceu primeiro em Empiricus.

Fev 18, 2025 - 15:15
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Dados de atividade nos EUA podem adiar corte de juros pelo Fed; no Brasil, Ibovespa sobe com alívio na curva de juros: veja os destaques do dia 

A semana foi dominada por indicadores de inflação tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos, com os dados americanos surpreendendo para cima e intensificando a pressão sobre a curva de juros. Esse cenário reforçou a justificativa para que o Federal Reserve mantenha sua postura cautelosa e adie a retomada do ciclo de cortes na taxa de juros. Hoje, novos dados de atividade econômica serão divulgados nos EUA, e, caso mostrem um mercado ainda aquecido, a expectativa por uma flexibilização monetária pode ser empurrada ainda mais para frente.

Ao mesmo tempo, os mercados internacionais demonstram um certo alívio em relação às tarifas comerciais anunciadas por Donald Trump, que, por enquanto, parecem menos severas do que inicialmente temido. A sinalização de que as chamadas “tarifas recíprocas” serão implementadas em uma etapa posterior trouxe um tom mais ameno para os ativos de risco. Ainda assim, o tema segue como um ponto de atenção, especialmente para o Brasil, que historicamente impõe tarifas mais elevadas sobre produtos americanos do que o contrário. Apesar do risco, há margem para negociações, o que pode suavizar os impactos sobre o comércio global.

· 00:51 — Como o governo vai reagir?

Por aqui, o Ibovespa registrou alta no pregão de ontem (13), acompanhando o alívio na curva de juros ao longo da semana. Os últimos indicadores reforçaram que a atividade econômica já dá sinais de desaceleração desde o quarto trimestre de 2024, o que pode restringir a necessidade de um ciclo prolongado de aperto monetário pelo Banco Central. O dado que mais chamou atenção foi a retração de 1,1% nas vendas do varejo ampliado em dezembro, contrariando a expectativa de alta de 0,1%. O desempenho fraco dos setores mais dependentes de crédito evidenciou um impacto maior das condições financeiras restritivas. Se, por um lado, esse cenário reduz a pressão sobre os juros, por outro, eleva as tensões em Brasília. O Ministério da Fazenda já revisou para baixo a projeção de crescimento do PIB deste ano, de 2,5% para 2,3%. O grande questionamento agora é: como o governo pretende reagir a essa nova realidade?

As primeiras respostas indicam um reforço nas pautas prioritárias de Lula, como a ampliação da faixa de isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil e a criação do novo consignado privado. No entanto, como já discutimos antes, essas medidas funcionam como tentar acelerar com o freio de mão puxado em um ambiente de política monetária contracionista. Com o espaço fiscal cada vez mais reduzido, qualquer nova iniciativa desse tipo tende a desancorar ainda mais as expectativas, pressionando a curva de juros e adicionando volatilidade aos mercados.

Para piorar, soma-se à equação a reformulação do novo Auxílio Gás, mais uma medida que amplia despesas sem qualquer contrapartida de ajuste fiscal. A impressão que fica é que o governo está se esforçando ao máximo para evitar enfrentar o problema real: a necessidade de conter o crescimento descontrolado dos gastos. Em vez disso, segue flertando com medidas populistas, o que pode custar caro no médio e longo prazo.

· 01:45 — Se recuperando

Nos EUA, as ações encerraram o pregão de ontem (13) em alta, impulsionadas pelo forte desempenho das gigantes de tecnologia — Tesla (TSLA34) e Nvidia (NVDC34)avançaram mais de 3%, enquanto a Apple (AAPL34)registrou alta de aproximadamente 2%. Já a Meta (M1TA34), em um impressionante rali, engatou seu 19º dia consecutivo de valorização. Com esse movimento, os principais índices americanos estão à beira de novas máximas históricas, uma vez que os cenários tarifários mais temidos parecem ter sido, ao menos temporariamente, colocados em espera. Além do otimismo com o setor de tecnologia, a queda nos rendimentos dos Treasuries também forneceu suporte ao mercado.

No entanto, o cenário inflacionário segue no radar dos investidores. Após a surpresa altista do índice de preços ao consumidor (CPI) na quarta-feira (12), os dados de preços ao produtor (PPI) confirmaram um início de ano pressionado pela inflação. Ainda assim, a leitura qualitativa dos números trouxe alguns elementos que indicam uma dinâmica inflacionária menos alarmante do que os números brutos sugeriam. Mesmo assim, o Federal Reserve terá um caminho desafiador pela frente, e as expectativas para o ciclo de flexibilização da política monetária continuam incertas. Hoje (14), o foco do mercado se volta para os dados de vendas no varejo de janeiro. Caso o indicador venha acima do esperado, poderá reforçar a percepção de uma economia mais resiliente e, consequentemente, adiar ainda mais o início dos cortes de juros pelo Fed.

· 02:38 — Brando?

O presidente Donald Trump assinou ontem (13) um memorando determinando a adoção de tarifas recíprocas contra países que impõem taxas elevadas sobre produtos americanos. Diferentemente dos decretos utilizados para formalizar suas medidas protecionistas anteriores, os memorandos são diretrizes menos rígidas, servindo como orientações para futuras ações governamentais. A opção por esse formato sugere uma abordagem mais flexível e aberta à negociação, já que não estabelece tarifas específicas para determinados países, mas sim um princípio geral de reciprocidade.

A decisão de Trump foi interpretada como menos agressiva do que se temia. O presidente encomendou à equipe de comércio exterior, liderada pelo empresário Howard Lutnick — considerado um dos nomes mais qualificados do governo —, a formulação de um plano que equilibre tarifas, impostos e barreiras não tarifárias, como subsídios, requisitos regulatórios e políticas cambiais. Esse plano será apresentado em abril e seguirá cinco critérios principais:

  • i) tarifas impostas aos produtos americanos por outros países;
  • ii) tributos considerados injustos sobre bens e serviços dos EUA;
  • iii) impacto econômico das barreiras estrangeiras sobre empresas e consumidores americanos;
  • iv) manipulação cambial e
  • v) quaisquer outras práticas comerciais identificadas como desleais.

O amplo escopo da análise e o prazo indicam que a medida pode ter sido desenhada para pressionar negociações bilaterais.

O Brasil surge naturalmente como um dos possíveis alvos, já que, em média, impõe tarifas mais altas sobre produtos americanos do que o inverso. Um exemplo citado foi o etanol: enquanto os EUA aplicam uma tarifa de apenas 2,5% sobre o produto, o Brasil impõe uma taxa de 18% sobre o etanol americano. Como consequência, em 2024, os EUA importaram mais de US$ 200 milhões em etanol do Brasil, enquanto suas exportações para o mercado brasileiro não passaram de US$ 52 milhões.

No entanto, o Brasil possui um déficit comercial com os EUA, o que pode funcionar como um argumento a favor de uma flexibilização na aplicação das tarifas recíprocas, já que o plano prevê que a prioridade em taxar países com os quais os EUA registram os maiores déficits comerciais. Diante disso, há espaço para negociações que podem resultar em um impacto menos severo para a economia brasileira e para os mercados do país, tornando a medida menos problemática do que o inicialmente temido.

· 03:22 — O poder do DOGE

Ainda nos Estados Unidos, a Câmara dos Representantes propôs um aumento de US$ 4 trilhões no teto da dívida para o orçamento fiscal de 2025, reforçando a realidade de que, apesar de sua posição econômica dominante, os EUA também enfrentam um problema fiscal significativo. Nesse contexto, o papel de Scott Bessent, secretário do Tesouro, será fundamental para reduzir o déficit de 6% para 3% do PIB — uma missão desafiadora, considerando a resistência do governo americano em conter seus gastos.

É justamente por isso que o Departamento de Eficiência Governamental, conhecido pela sigla em inglês DOGE, comandado por Elon Musk, tem gerado tanto alvoroço nos últimos dias. Com uma abordagem ousada e pouco convencional, Musk e sua equipe de jovens programadores estão aplicando uma lógica de eficiência operacional ao mastodôntico aparato estatal americano. Enquanto processos burocráticos tradicionais levariam anos para mapear e eliminar desperdícios, o DOGE promete encontrar cortes em questão de segundos, expondo gargalos e ineficiências estruturais.

A iniciativa já desperta controvérsias — e não poderia ser diferente. A resistência política será inevitável, mas a ideia central do projeto se alinha à visão pró-business do governo Trump 2.0: menos burocracia, menores impostos e uma regulação mais enxuta, fatores que historicamente beneficiam os ativos de risco. A grande questão é se Musk e seus aliados conseguirão reduzir gastos sem atropelar prerrogativas do Congresso ou provocar uma desaceleração econômica indesejada. Se conseguirem, o plano começa a fazer sentido matematicamente, reforçando a confiança dos mercados.

Mais do que um mero show midiático, o DOGE já se mostra uma peça-chave na estratégia do governo Trump. Seu êxito ou fracasso não apenas definirá o ritmo e a profundidade da agenda econômica da nova administração, mas também consolidará Elon Musk como algo além de um empresário excêntrico — um arquiteto da tentativa mais ambiciosa de enxugar e modernizar a máquina pública americana. Se bem-sucedido, o modelo pode se tornar um paradigma global de eficiência governamental, servindo de inspiração até mesmo para o Brasil, onde a tão necessária Reforma Administrativa continua sendo apenas um projeto distante.

· 04:14 — Quando será a eleição?

Um memorando interno do Novo Partido Democrático do Canadá, de esquerda, alerta seus candidatos para a possibilidade de uma eleição federal ser convocada já em 10 de março, antecipando drasticamente o cronograma eleitoral. Como mencionei anteriormente, o Parlamento canadense segue paralisado até que o Partido Liberal defina seu novo líder, um processo desencadeado pela renúncia de Justin Trudeau no início do ano, após nove anos no poder. O fator decisivo nesse cenário é a possível escolha de Mark Carney, ex-presidente do Banco do Canadá (autoridade monetária), para liderar os liberais em 9 de março. Se isso acontecer, ele pode convocar eleições já no dia seguinte, levando os canadenses às urnas muito antes do previsto — afinal, pelo calendário oficial, a votação só ocorreria em 25 de outubro de 2025.

A lógica por trás dessa possível antecipação eleitoral é evidente: reduzir os danos eleitorais ao Partido Liberal ao capitalizar a renovação de liderança. Carney entende que o atual cenário político favorece figuras menos alinhadas ao progressismo emblemático de Trudeau, tornando sua ascensão uma tentativa de reposicionar o partido diante de um eleitorado cada vez mais inclinado à mudança. Ainda mantenho minha avaliação de que o Canadá será mais um exemplo da tendência global de rejeição a governos incumbentes e do avanço do pêndulo político em direção à direita. 

No entanto, caso as eleições sejam realmente adiantadas, o impacto dessa transição pode ser amortecido, reduzindo a margem de vitória da oposição em relação às projeções anteriores. Seja como for, o desenrolar desse processo no Canadá também pode servir de termômetro para o que esperar no Brasil em 2026.

· 05:05 — De olho nos fundos imobiliários

O início de 2025 trouxe desafios consideráveis para os investidores do setor de fundos imobiliários. Após um forte rali na segunda metade de dezembro, impulsionado por uma recuperação nos preços das cotas, o mercado abriu o ano sob intensa pressão vendedora. Além da natural realização de lucros, a incerteza gerada pelo veto presidencial à regulamentação da nova Reforma Tributária adicionou um fator de risco significativo ao setor, levantando dúvidas sobre a manutenção da isenção fiscal.

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