Da ‘arte da negociação’ para ‘arte da capitulação’: Recuos de Trump permitem recuperação parcial dos ativos globais; veja os destaques desta semana

Como era de se esperar, a guerra comercial de Donald Trump segue monopolizando a atenção dos mercados globais. Nos últimos dias, no entanto, alguns recuos da Casa Branca — inevitáveis diante do estrago inicial — têm permitido uma recuperação parcial dos ativos, depois do banho de sangue que se seguiu ao anúncio das tarifas ditas […] O post Da ‘arte da negociação’ para ‘arte da capitulação’: Recuos de Trump permitem recuperação parcial dos ativos globais; veja os destaques desta semana apareceu primeiro em Empiricus.

Abr 14, 2025 - 14:26
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Da ‘arte da negociação’ para ‘arte da capitulação’: Recuos de Trump permitem recuperação parcial dos ativos globais; veja os destaques desta semana

Como era de se esperar, a guerra comercial de Donald Trump segue monopolizando a atenção dos mercados globais. Nos últimos dias, no entanto, alguns recuos da Casa Branca — inevitáveis diante do estrago inicial — têm permitido uma recuperação parcial dos ativos, depois do banho de sangue que se seguiu ao anúncio das tarifas ditas “recíprocas”.

A Ásia teve um dia positivo, os ativos europeus operam em alta nesta manhã e os futuros americanos esboçam algum alívio — ainda que o pano de fundo permaneça sombrio: o consenso de menor crescimento para os EUA se fortalece, enquanto o risco de choques inflacionários derivados das tarifas continua sobre a mesa. A grande dúvida, claro, é se o protecionismo mais agressivo dos EUA veio para ficar — um novo regime estrutural — ou se tudo não passa de mais um capítulo caótico, porém passageiro. Por ora, a resposta dos mercados tem sido inequívoca: o excepcionalismo americano, que ancorou portfólios globais na última década, está sendo desmontado peça por peça. O dólar derreteu para a mínima em seis meses, os Treasuries perderam força e as bolsas americanas ficaram para trás.

A lógica é simples: não se brinca impunemente com a credibilidade de um país que se acostumou a ser visto como porto seguro global. A guerra comercial de Trump começou como um problema de fluxo, virou um problema de crescimento — e agora é, acima de tudo, um problema de confiança. Por isso mesmo, novas capitulações da Casa Branca — como a isenção temporária concedida na sexta-feira passada para parte dos produtos eletrônicos importados da China (que representam entre 25% e 30% do comércio bilateral) — acabam funcionando como pequenos pontos de estabilização no meio da tempestade. Mas o estrago reputacional já está feito.

Na agenda da semana, mais curta por conta do feriado da Sexta-feira Santa, os investidores terão poucos respiros. Decisão de política monetária na Europa, dados de PIB na China e temporada de resultados nos EUA ganham destaque. Tudo isso temperado, claro, pela variável mais imprevisível de todas: qualquer novo gesto — ou recuo — da Casa Branca tem potencial para mexer com os preços. Para cima ou para baixo. Como sempre, com Trump, o improviso segue sendo a única certeza.

· 00:54 — Esvaziado

No Brasil, o clima para os próximos dias tende a ser de relativa tranquilidade no front doméstico — o que, na prática, significa que os ativos locais devem continuar reféns do humor internacional. A semana já seria naturalmente mais curta, em função do feriado da Sexta-feira Santa, mas o calendário ainda reserva mais um pregão de descanso na segunda-feira que vem, dia 21 de abril. Resultado: dois dias de mercado fechado e o investidor local olhando, de camarote, o desenrolar da guerra comercial lá fora.

O único destaque de maior relevância na cena doméstica deve ser a apresentação da proposta de Orçamento para 2026, prevista para esta terça-feira (15). A equipe econômica promete incluir, mais uma vez, a meta de superávit primário — desta vez, de 0,25% do PIB, depois de um 2025 desenhado com déficit zero (pelo menos no papel). 

Na prática, no entanto, sabemos bem como essa história costuma terminar. Sem bloqueio de gastos ou contingenciamento relevante, o cenário mais provável continua sendo de déficit em 2025 — a menos, claro, que a Receita Federal continue surpreendendo como tem feito recentemente. Mas o problema estrutural, como venho insistindo, não está na arrecadação. Está na trajetória das despesas, que seguem crescendo num ritmo difícil de sustentar. O gasto público brasileiro ganhou um novo padrão de velocidade — e ninguém dentro do governo parece disposto a, de fato, enfrentá-lo. Isso, claro, ficará para o próximo inquilino do Planalto, a partir de 2027.

De toda forma, o Brasil ao menos tem um trunfo nada desprezível nesse momento de turbulência global: sua posição privilegiada na geografia do comércio internacional. Em meio à escalada protecionista de Donald Trump, o país conseguiu ampliar suas exportações simultaneamente para os três principais polos da economia mundial — Estados Unidos, China e União Europeia. Numa guerra em que ninguém sai ileso, estar vendendo para todos os lados já é um excelente começo.

· 01:43 — Rompendo com uma dinâmica de décadas

Nos EUA, as primeiras doze semanas do segundo mandato de Donald Trump já foram mais do que suficientes para deixar investidores ao redor do mundo em permanente estado de tensão. Não é para menos. Desde o fim da Segunda Guerra Mundial, os EUA ocuparam a posição central na construção da ordem econômica internacional — não apenas como maior economia do planeta, mas como fiador institucional do comércio global, da estabilidade financeira e, acima de tudo, da previsibilidade geopolítica. Foram décadas liderando a criação de organismos multilaterais e impulsionando a expansão do comércio mundial pela via da redução de tarifas, do livre fluxo de capitais e da mediação de conflitos via regras claras e instâncias internacionais.

Mais do que o maior PIB, os EUA ofereceram ao mundo uma moeda forte, um sistema financeiro profundo e uma rede de alianças baseada em confiança mútua e previsibilidade. Pois bem. A grande inquietação dos mercados hoje não está apenas na escalada tarifária em si, mas no efeito corrosivo que essa postura tem sobre a credibilidade dos EUA enquanto parceiro confiável. O temor é simples: o que acontece com o sistema global quando o próprio arquiteto dessa ordem deixa de respeitar as regras que ele mesmo ajudou a criar? Essa dúvida explica a queda.

Nos últimos dias, no entanto, houve algum alívio. A decisão de postergar por 90 dias a aplicação das tarifas mais agressivas — equalizando a maior parte dos parceiros comerciais na alíquota de 10% (com a óbvia exceção da China) — trouxe um mínimo de previsibilidade a um cenário que parecia fora de controle. Some-se a isso a expectativa de algum suporte futuro do Federal Reserve, e um nível de preço nos ativos mais convidativo após o estresse recente, e os mercados conseguiram, ao menos temporariamente, recuperar o fôlego. Ainda assim, a lista de preocupações está longe de ter sido reduzida. As falas dos CEOs dos grandes bancos americanos, que divulgaram seus números na última sexta-feira, deixaram isso bastante claro: ninguém sabe, com precisão, qual será o desfecho da política comercial americana.

Nos próximos dias, os olhos dos mercados estarão voltados para a nova bateria de resultados corporativos nos EUA. Vão a público os números de nomes de peso como Goldman Sachs, Bank of America, Citigroup, Johnson & Johnson, ASML, American Express, Blackstone, Charles Schwab, Netflix e TSMC. Além disso, o dado de vendas no varejo americano promete oferecer mais pistas sobre o nível de atividade — e sobre a resiliência (ou não) do consumidor americano em ao novo ambiente de incerteza. 

· 02:35 — Mais novidades

Na sexta-feira à noite (11), a Casa Branca resolveu parte da confusão criada por ela mesma. Em um memorando, o presidente Trump apresentou “esclarecimentos” sobre as exceções ao seu plano de tarifas recíprocas, tentando acalmar o setor mais ruidoso e influente da economia americana: o de tecnologia. Na prática, o documento detalha 20 categorias de produtos eletrônicos que ficariam temporariamente livres da alíquota recíproca de 125% imposta sobre importações da China. A lista inclui justamente os itens mais sensíveis e com maior impacto no bolso do consumidor e no balanço das empresas: semicondutores, smartphones, computadores, cartões SD e TVs de tela plana. Juntos, esses produtos somam algo próximo de US$ 390 bilhões em importações anuais dos EUA — dos quais mais de US$ 100 bilhões vêm da China.

Mas é bom não se iludir: as gigantes de tecnologia não estão exatamente livres do problema. Esses produtos podem ter escapado da tarifa recíproca de 145%, mas continuam sujeitos à tarifa geral de 10% sobre todas as importações e, se fabricados na China, ainda enfrentam a tarifa adicional de 20% que antecedeu esse novo pacote. Para piorar, o governo já sinalizou que tarifas específicas sobre semicondutores devem ser anunciadas em breve. Ou seja: é um alívio parcial, temporário e, convenhamos, mais uma demonstração da natureza errática da política comercial americana atual.

Na prática, empresas como Apple (AAPL34) e Nvidia (NVDC34) — com produção fortemente concentrada na China — ganham algum fôlego antes da próxima rodada de tarifas. Mas a sensação que fica, mais uma vez, é que o problema não está apenas no nível das tarifas, mas na total imprevisibilidade da estratégia americana. O governo anuncia, recua, anuncia de novo, cria exceções, depois ameaça revogá-las… e, nesse vai-e-vem, instala-se o que os mercados mais detestam: incerteza. Porque o problema das tarifas é o impacto no custo. Mas o problema das idas e vindas, das exceções improvisadas e dos anúncios contraditórios… esse, sim, é o que mina a confiança no processo.

· 03:21 — Mais um avanço no vizinho

Na sexta-feira (11), o ministro da Economia da Argentina, Luis Caputo, anunciou uma das mudanças mais relevantes da política econômica do país em muitos anos: o fim do limite para a compra de dólares à cotação oficial por pessoas físicas. A partir de agora, o câmbio oficial passará a flutuar dentro de uma banda, com piso de 1.000 pesos e teto de 1.400 pesos por dólar. Além disso, as empresas poderão transferir dividendos para o exterior sem restrições a partir do exercício de 2025, dentro do novo regime cambial. A banda cambial será ajustada à razão de 1% ao mês, e o relaxamento dos controles cambiais — um resquício do intervencionismo econômico que marcou o país — era uma exigência explícita do FMI para destravar um novo empréstimo de US$ 20 bilhões. Trata-se, sem exagero, de mais um passo relevante na desmontagem do velho e ultrapassado arcabouço peronista-kirchnerista que, por décadas, aprisionou a economia argentina em práticas atrasadas e ineficientes.

O mercado, naturalmente, recebeu bem a sinalização, ainda que a expectativa, no curto prazo, seja de uma provável desvalorização do peso — um movimento esperado e até necessário para a correção dos desequilíbrios acumulados. O anúncio veio logo após a conclusão de um novo acordo entre a Argentina e o FMI, reforçando a narrativa de que o projeto de Javier Milei começa a se consolidar de forma cada vez mais robusta. Caso esse processo continue a mostrar resultados concretos, não será surpresa ver Milei ampliar sua base de apoio no Congresso nas eleições de meio de mandato ainda neste ano. Aliás, o movimento que se observa na Argentina está longe de ser um fenômeno isolado. A reeleição de Daniel Noboa no Equador, no último fim de semana, caminha na mesma direção: uma guinada liberal e reformista em meio à exaustão dos modelos intervencionistas da região. Uma dinâmica que — quem diria — começa a ganhar contornos relevantes até no Brasil, com vistas ao pleito de 2026. O pêndulo político da América do Sul, pelo visto, voltou a se movimentar. E, desta vez, o sinal que emana dos vizinhos ao sul é claro: mais pragmatismo, menos populismo.

· 04:17 — O acordo iraniano

Autoridades dos Estados Unidos e do Irã se preparam para a rodada de negociações de mais alto nível sobre o programa nuclear iraniano desde 2022 — um raro gesto de diplomacia em meio a um ambiente de desconfiança mútua crônica e uma lista extensa de complicações. O governo de Donald Trump sequer conseguiu chegar a um consenso sobre o que seria, exatamente, um “acordo melhor” do que o firmado em 2015 — tratado que o próprio Trump desmontou no seu primeiro mandato.

Nem mesmo a logística básica do encontro está resolvida. Enquanto Trump insiste que as conversas sejam presenciais, frente a frente, em Omã, os iranianos preferem o habitual arranjo de salas separadas, com um mediador servindo de ponte entre as partes. Superado esse impasse inicial, existe um caminho possível para um acordo. Teerã poderia aceitar restrições à sua atividade nuclear e se comprometer formalmente a não desviar seus esforços para fins militares. Em troca, os Estados Unidos teriam que suspender as sanções que asfixiam a economia iraniana e reconhecer, ainda que com ressalvas, o direito do Irã de enriquecer urânio para fins pacíficos (energia).

O problema está no fator imprevisibilidade. O presidente americano já avisou que, se nenhum acordo for costurado, recorrerá a um ataque militar direto contra o Irã. Uma ameaça que, por sua vez, já recebeu resposta proporcional de Teerã: se vier agressão, haverá retaliação. Nada que fuja muito do manual básico das relações internacionais quando conduzidas por testosterona e ausência de estratégia de longo prazo.

· 05:02 — Desacoplar

A esta altura, qualquer observador atento já consegue enxergar o desenho por trás dos movimentos da Casa Branca: Donald Trump está decidido a desconectar os Estados Unidos, ao menos parcialmente, do resto do mundo. A estratégia é explícita — reduzir, na marra, os déficits comerciais bilaterais e, de quebra, usar a arrecadação gerada pelas tarifas para financiar cortes de impostos e planos de gastos internos…

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