Crime organizado lucra mais com venda de combustível ilegal do que com cocaína

Relatório do Fórum Brasileiro de Segurança Pública aponta receita anual de R$ 146,8 bilhões do crime organizado com produtos legais

Fev 13, 2025 - 05:34
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Crime organizado lucra mais com venda de combustível ilegal do que com cocaína

Um estudo do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, divulgado nesta quarta-feira (12/2), mostra que o crime organizado lucra mais com a venda ilegal de combustível do que de cocaína. O estudo estima que a receita da ilegalidade, desde 2022, atingiu R$ 146,8 bilhões anuais em produtos como ouro, bebidas, combustíveis e lubrificantes, e cigarro. 

O mercado mais lucrativo é o de combustíveis e lubrificantes, com arrecadação de R$ 61,5 bilhões, representando 41,8% da receita do crime organizado. Na sequência está o setor de bebidas, com R$56,9 bi (38,8% da receita), depois, a extração e produção de ouro, equivalente a R$18,2 bilhões (12,4%). Por fim, está a venda de tabaco, que arrecada R$ 10,3 bi e representa pequena fatia de 7% da receita. 

Em comparação com os principais produtos que geram arrecadação, o estudo mostra que o tráfico de cocaína, por exemplo, rende apenas R$ 15 bilhões ao crime organizado. Em contrapartida, os crimes virtuais e os furtos de celulares, em apenas um ano, entre julho de 2023 e 2024, renderam R$ 186 bi. 

A falta de controle e rastreabilidade dos produtos foi apontado pelo relatório como os principais pontos que contribuem para esse cenário.

"A falta de integração de dados e informações sobre produção, rastreamento, tributação e segurança entre órgãos como Receita Federal, Polícia Federal e agências reguladoras prejudica o enfrentamento ao crime organizado. A ausência de protocolos de atuação conjunta e de planejamento integrado limita a capacidade de rastreabilidade de produtos e a coordenação de ações para desarticular redes criminosas envolvidas em lavagem de dinheiro, evasão fiscal e controle territorial. Há necessidade de fortalecer iniciativas existentes, como operações multiagenciais e o intercâmbio de dados, além de implementar plataformas integradas e operações coordenadas,sob o controle público do Estado", diz o documento. 

O texto também aponta para a necessidade de maior controle do Estado. "Em áreas com baixo controle estatal, monopolizam serviços essenciais, como transporte e segurança, ampliando sua influência. A baixa presença do Estado Brasileiro em determinados territórios alimenta ciclos de violência, exclusão social e corrupção, dificultando a implementação de políticas públicas e de combate à economia do crime", afirma.

Soluções tecnológicas são sugeridas para melhorar o cenário do crime organizado no Brasil. "Ferramentas tecnológicas como blockchain e marcação isotópica, aliadas a análises preditivas, podem conectar dados logísticos e financeiros, fortalecendo ações coordenadas para desmantelar essas redes criminosas", conclui o relatório.