Como será a preparação para as atualizações da norma sobre saúde no trabalho?

Entra em vigor, no final de maio, a atualização da Norma Regulamentadora nº 1 (NR-1), que aborda questões de saúde e segurança no ambiente trabalho, agora com a inclusão de fatores de risco psicossociais aplicados Gerenciamento de Riscos Ocupacionais (GRO) das empresas. Durante 2025, a norma terá caráter adaptativo. A decisão foi tomada pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) ainda em abril, após conversas com representantes da bancada de trabalhadores e empregadores, conforme informações... O post Como será a preparação para as atualizações da norma sobre saúde no trabalho? apareceu primeiro em Meio e Mensagem - Marketing, Mídia e Comunicação.

Abr 29, 2025 - 12:48
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Como será a preparação para as atualizações da norma sobre saúde no trabalho?

Entra em vigor, no final de maio, a atualização da Norma Regulamentadora nº 1 (NR-1), que aborda questões de saúde e segurança no ambiente trabalho, agora com a inclusão de fatores de risco psicossociais aplicados Gerenciamento de Riscos Ocupacionais (GRO) das empresas.

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Empresas terão um ano para se preparar para as novas diretrizes da NR-1 (Crédito: Shutterstock)

Durante 2025, a norma terá caráter adaptativo. A decisão foi tomada pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) ainda em abril, após conversas com representantes da bancada de trabalhadores e empregadores, conforme informações do Governo Federal. As auditorias e fiscalizações passarão a ser feitas apenas a partir de 26 de maio de 2026 – exatamente um ano após o início do processo de implementação educativa.

A atualização da diretriz, que existe desde a década de 70 e é uma referência para demais regulamentações acerca do trabalho do País, vem em decorrência de uma série de transformações pelas quais o trabalho vem encarando nas últimas décadas. A sofisticação tecnológica somada à chegada de novas gerações no mercado, marcando a convivência simultânea de até cinco grupos geracionais nas corporações, deu um novo significado ao trabalho, classifica Laís Vasconcelos, gerente da Robert Half.

Além disso, a aceleração da vida traz um novo paradigma e demanda maiores questões relacionadas à saúde mental. Diana Gabanyi, CEO e head de experiências corporativas da The School of Life, indica que a pandemia desencadeou uma das maiores rupturas no mundo do trabalho, seja pelos novos modelos ou pela percepção do que ele significa. Daí, surge a ambição de produzir com propósito, pertencimento e qualidade de vida, corrobora a gerente.

Com a crescente tendência do home office, e sua posterior queda pós-Covid, funcionários viram novas possibilidades de trabalho – e o regime híbrido, por exemplo, já é um critério de seleção por parte dos candidatos. Conectado a isso, tem havido maior valorização da vida pessoal e busca pelo equilíbrio com o âmbito profissional.

Paralelas às novas demandas, estão os crescentes riscos associados ao trabalho, como excesso de carga laboral, falta de autonomia, assédio moral e sexual, falta de reconhecimento, isolamento social, estresse crônico, ansiedade e burnout, elenca Charles Betito, consultor e especialista em treinamento e desenvolvimento da Mind Station.

“Com a atualização da NR-1, se obriga a criação de burocracias, documentos assinados, contratos, que comprovam que a empresa está olhando para a saúde mental e geral das pessoas de uma maneira mais efetiva”, explica.

Dados do Ministério da Previdência Social mostram que 472 mil solicitações de licença no Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) foram atendidas por questões de saúde mental – recorde histórico dos últimos dez anos. Entre os motivos das licenças estão transtornos de ansiedade, episódios depressivos, transtorno depressivo recorrente e transtorno afetivo bipolar.

“O que nos traz a esse cuidado da NR-1 através dessa regulamentação nova do governo, é tratar essas questões urgentes vinculadas à nova forma de trabalho e a necessidade da população que está adoecida”, afirma Laís, da Robert Half. Em 2019, a Organização Mundial da Saúde (OMS) reconheceu o burnout como um fenômeno ocupacional.

O que já está sendo feito?

O aumento dos índices tem incentivado uma sistematização de ações internas. Muito fomentado pela pandemia, empresas passaram a se atentar a questões relacionadas à saúde mental e estruturar programas específicos, fornecer apoio psicológico e financeiro, melhorar os sistemas de denúncia e comunicação, entre outros. A Robert Half viu um aumento de treinamentos e team building ao longo dos anos, a fim de favorecer um ambiente de colaboração e pertencimento.

Então, o que muda com a atualização da NR-1? Agora, deverá haver mensuração das ações e indicativos, associadas a inventário de risco pré mapeados junto a profissionais especializados e equipes multidisciplinares, o que pode incluir médicos, especialistas em cultura organizacional, ergonomistas, entre outros. A partir daí, desenvolve-se um plano de ação, conectado aos riscos mapeados, e que também deve ter impactos mensurados.

Para Betito, a definição de saúde mental perpassa por entender como a mente humana funciona do ponto de vista biológico, induzindo à adaptação de medidas para o mundo moderno. A comunicação é uma das indústrias que sofre com riscos psicossociais envolvendo pressão, estresse e até assédio moral, partindo de lideranças não treinadas, classifica o especialista.

Mais do que treinamentos, a atualização da NR-1 exige o redesenho das regras, acordo com clientes, reorganização de prazos e urgências. “Será um grande redesenho das regras, responsabilidades, rituais internos e acordos entre entre os funcionários das agências desse mercado como um todo”, declara Betito.

Responsabilização e liderança

À medida que há uma demanda por estruturação, especialistas acreditam que deve haver uma co-responsabilidade entre as áreas das empresas, com o C-Level exercendo um papel importante nesta nova etapa para que a mudança seja sistêmica e cultural, sendo cascateada para os colaboradores.

E a saúde mental das lideranças também merece atenção, defendem. Um estudo da The School of Life realizado junto à Robert Half neste ano mostra que 28,12% dos líderes não estão felizes no trabalho. O levantamento ouviu 387 líderes de diferentes regiões do País entre janeiro e fevereiro deste ano. Clima organizacional e relacionamentos positivos, equilíbrio entre vida pessoal e profissional e realização profissional e/ou senso de propósito estão entre os principais critérios para a felicidade no trabalho.

“O mais importante de tudo é a liderança entender que ela também precisa olhar para sua própria saúde mental. Os líderes normalmente são os últimos a olharem para essa questão, porque já se construiu a ideia que eles são líderes e eles estão imunes a isso”, diz Diana, da The School of Life. Este cuidado, diz, reflete na influência que se tem sobre os liderados podendo, consequentemente, impactar no bem-estar.

As porta-vozes acreditam, ainda, que os colaboradores devem exercer parte da responsabilidade quando o assunto é felicidade no trabalho. “Porque não é só o líder a falar ou se posicionar, mas também é também sobre o colaborador querer fazer parte daquele grupo, querer integrar e participar daquelas ações”, pontua Laís.

Curto, médio e longo prazo

De acordo com a gerente da Robert Half, antes mesmo do adiamento da fiscalização da atualização da norma, já havia inseguranças por parte das empresas sobre o tipo de regulamentação que deverão enfrentar, bem como os impactos que deverão sofrer em decorrência de uma auditoria, que tratará temas subjetivos e complexos com o comportamento humano no centro. Trata-se de uma transformação que perpassa por melhoria de tecnologia, processos e comunicação, exemplifica.

Pelo menos para o próximo ano, o mercado de trabalho ainda deve enfrentar a desinformação quanto à subjetividade do tópico, novas diretrizes e possíveis metodologias, indica o consultor da Mind Station. No longo prazo, a eficácia da fiscalização também pode ser determinante.

“Caso a norma seja cumprida direito e de forma correta podemos, sim, ter um uma possibilidade maravilhosa de ter ambientes e trabalhos melhores, pessoas sofrendo menos com menos saúde e uma gestão com de liderança mas antenada com esse lado que é tão importante. Nunca passamos por um problema tão grande”, conclui Betito.

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