Como a maternidade impulsionou a carreira de empreendedoras

Segundo uma pesquisa da Fundação Getúlio Vargas, metade das mulheres que têm filhos são demitidas em até dois anos após o retorno da licença-maternidade. Por isso que ser mãe é, em muitos casos, um catalisador para o empreendedorismo entre as mulheres. De acordo com uma pesquisa do Sebrae, 67% das empreendedoras femininas no Brasil são mães. Na mesma pesquisa, intitulada “Empreendedorismo Feminino”, de 2023, 68% delas disseram que a dedicação aos filhos influenciou muito a... O post Como a maternidade impulsionou a carreira de empreendedoras apareceu primeiro em Meio e Mensagem - Marketing, Mídia e Comunicação.

Mai 9, 2025 - 20:11
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Como a maternidade impulsionou a carreira de empreendedoras

(Crédito: GoodStudio/Shutterstock)

Segundo uma pesquisa da Fundação Getúlio Vargas, metade das mulheres que têm filhos são demitidas em até dois anos após o retorno da licença-maternidade. Por isso que ser mãe é, em muitos casos, um catalisador para o empreendedorismo entre as mulheres. De acordo com uma pesquisa do Sebrae, 67% das empreendedoras femininas no Brasil são mães. Na mesma pesquisa, intitulada “Empreendedorismo Feminino”, de 2023, 68% delas disseram que a dedicação aos filhos influenciou muito a escolha de empreender, enquanto que este número entre os homens foi de 56%.

Michelle Terni, cofundadora e CEO da Filhos no Currículo e mãe de três filhos, foi uma dessas mulheres que a maternidade impulsionou a empreender. “Com a chegada dos meus filhos, comecei a repensar a minha carreira e a questionar se aquilo que me fazia acordar todos os dias para trabalhar ainda fazia sentido. Foi a partir dessa dúvida, e também ao observar o sofrimento e as dificuldades de tantas mães em conciliar seus papéis, que surgiu a ideia de criar a consultoria Filhos no Currículo, ao lado da minha sócia Camila Antunes”, conta. 

O caso de Aline Pedrazzi, mãe de duas filhas, foi semelhante, porém com um fator agravante: uma depressão pós-parto. Por trabalhar num hospital psiquiátrico, Aline teve rápido apoio e tratamento por parte de seus colegas, mas aquele momento plantou uma semente que viria a se tornar o Mãe-Estar, healthtech que promove uma gestação mais segura e mais saúde e bem-estar na jornada materna. “Eu, que até então nunca tinha tido um quadro de depressão, me assustei com o impacto do pós-parto na saúde mental, mesmo com muito apoio, licença remunerada e o desejo da gestação”, diz.

“Em uma das noites amamentando minha bebê de 3 meses, exausta, veio a ideia: quero fazer algo para ajudar outras mães. Foi assim que nasceu a Mãe-Estar”, afirma Aline. O negócio começou como um canal de informações sobre saúde materna, ainda em 2021, e logo Thais Vieira se uniu como sócia para expandir e alavancar o negócio. 

Aline Pedrazzi e Thais Vieira, do Mãe-Estar (Crédito: Divulgação)

Ana Patrícia Rosa, hoje CEO da Roana, marca de roupas e acessórios infantis, assumiu o negócio que sua mãe, Leila Rosa, criou quando ela ainda era uma criança e conta como a oportunidade de negócio surgiu. “A maternidade foi a maior inspiração da minha mãe. Ela fazia questão de nos mandar à escola com adereços que ela mesma produzia. Foi assim que as mães das coleguinhas começaram a encomendar com ela laços e tiaras, e foi ali que ela percebeu a oportunidade de um negócio”, conta.

Equilibrando os pratos

Fabiana Bruno, fundadora e CEO da Suba, agência de marketing de influência, também empreendeu após a maternidade, e afirma que um dos maiores desafios foi “o gerenciamento do tempo e estar por inteiro aqui [no trabalho], mesmo que com o meu coração sempre batendo em dois peitos fora de mim. E, quando me pedem presença, explico que aquele papel também é importante para a mamãe, que sou mais feliz por isso e que sempre estou pertinho e pensando neles em cada ato meu”, reflete.

A dificuldade de conciliar a maternidade com a carreira é um dos maiores desafios para as mulheres profissionais. Por vezes, há um sentimento de que é preciso escolher um ou outro, mas para Ana Paula Passarelli, cofundadora da Brunch, esta não era uma escolha. “Criei a Brunch quando estava grávida de 39 semanas, depois de uma gestação que me trouxe um senso de urgência e clareza sobre o real equilíbrio que eu buscava entre vida pessoal e profissional. Entendi que eu não queria optar por um ou outro, eu queria os dois, então resolvi criar uma empresa onde fosse possível fazer minha vida, integralmente, existir”, relata.

Ana Paula Passarelli, cofundadora da Brunch (Crédito: Karine Britto)

Este mesmo desafio de equilibrar todos os pratos também apresenta uma oportunidade para as lideranças abraçarem a fragilidade. “Por muito tempo achei que vulnerabilidade era um sinal de fraqueza, que eu deveria ser uma super mulher. Hoje, entendo que é justamente essa capacidade de se permitir vulnerável que me aproxima das pessoas e me torna uma líder que tenta todos os dias ser melhor. O empreendedorismo me ensina a ser uma mãe melhor, e ser mãe me ensina a ser uma melhor empreendedora”, ressalta Ana Paula.

Rede de apoio familiar e corporativa

Ana Patrícia conta como a mãe começou o negócio ainda dentro de casa. “Ela precisou adaptar um cômodo de sua casa para dar início às demandas da época com a ajuda de um funcionário. Era só ela e o marido para cuidar dos três filhos, ao voltar do trabalho. Quando as vendas começaram a aumentar e ela precisou viajar para a captação de novos clientes, contou com uma babá que ficava com as crianças e com o apoio dos avós”, relata Ana Patrícia.

Ana Patrícia Rosa e Leila Rosa, da Roana (Crédito: Vanessa Martins)

Por isso, contar com uma rede de apoio é fundamental para qualquer mãe, seja empreendedora ou não. Para Aline, ter uma equipe que acredita na visão do seu negócio foi essencial para conciliar os papeis. “Sentir-se pertencente, fazendo a diferença neste mundo, e ver sua ideia sair do papel e ganhar holofotes em grandes empresas por meio de um tema tão necessário e pouco levado a sério me faz ter energia em dobro para conciliar maternidade com o empreendedorismo e ser suficientemente boa nos dois papéis, entendendo que alguns pratos vão cair ao longo do caminho e faz parte da jornada”, destaca.

Mãe e profissional

Não existe a separação da mulher empreendedora e profissional da mulher mãe. São papéis diferentes, mas exercidos pela mesma pessoa e, muitas vezes, as demandas de ambos serão concomitantes e conflitantes. Para Fabiana Bruno, a solução foi integrar os dois. “Construí a Suba com o Enrico bebê e, durante toda a gestação do Antonio, trabalhei muito. Antonio veio trabalhar por dois anos comigo, enquanto amamentava. Fiz muitas reuniões com ele no colo e até levei ele em lugares que não aceitavam crianças, mas que reverteram essa prática. Acredito que encorajei muitas mulheres que me viam vivendo a minha maternagem a entenderem que era possível”, conta a executiva.

Fabiana Bruno, fundadora e CEO da Suba (Crédito: Divulgação)

Para Michelle Terni, equilibrar a maternidade com trabalho exigiu aceitar a imperfeição. “Conciliar esses papéis não é sobre perfeição, e, sim, sobre consciência: saber onde alocar minha energia de forma intencional e responsável. Há momentos em que esse equilíbrio se rompe e tudo bem, desde que essa seja uma escolha minha, e não algo que simplesmente me atropela”, afirma. 

Habilidades maternais e profissionais

Ambos os papéis, maternidade e empreendedorismo, na verdade, exigem habilidades muito semelhantes. “Empreender exige tempo, dedicação, suor e muita, muita resiliência. É, de certa forma, parecido com a maternidade. Claro que existem dias bons e dias difíceis, que você pensa em desistir, mas enquanto existir o direcionamento pelo propósito, a gente vai superando as dificuldades e se ajustando, escolhendo as batalhas que vamos travar naquele momento. Assim como não existe maternidade perfeita, também não existe empreender sem cometer erros e ajustes no caminho”, pontua Aline.

Empreender enquanto mãe também exige muito planejamento. No caso de Aline, ela se preparou financeiramente para pedir demissão do seu trabalho em que tinha um cargo alto com boa remuneração. “Achava que em um ano já estaria financeiramente confortável e me preparei para não ter salário por esse período. O tempo para chegar ao break even (equilíbrio financeiro) de uma startup é bem mais longo do que eu imaginava. Passei dois anos sem nenhum pró-labore”, lembra.

No final, saber onde concentrar seus esforços e recursos é uma das habilidades mais importantes para as mães empreendedoras. “Hoje, o maior desafio é decidir onde colocar minha energia, estando sempre atenta às necessidades dos meus filhos. No empreendedorismo, há ainda o desafio de crescer antes de estar completamente estruturada. Muitas vezes é preciso fazer muito com poucos recursos. Surge uma vontade de realizar, de acolher, de abraçar mais do que os braços suportam. Por isso, é fundamental filtrar, escolher os projetos que realmente geram impacto”, afirma Michelle Terni.

Michelle Terni, cofundadora e CEO da Filhos no Currículo (Crédito: Divulgação)

A experiência com a maternidade não é feita apenas de desafios, mas é também uma escola que ensina habilidades importantes para empreendedoras e lideranças. “Enganam-se as empresas e lideranças que enxergam a chegada de um filho como um obstáculo. Quando uma mãe entra em licença, ela não está ‘parando’: ela está mergulhada em uma das mais intensas jornadas de desenvolvimento humano. As habilidades socioemocionais que tanto valorizamos no mercado, como empatia, resiliência, pensamento crítico, flexibilidade e inteligência emocional transbordam todos os dias na criação de uma criança. É hora de reconhecer esse valor, e parar de tratar a parentalidade como um problema a ser resolvido, e sim como um ativo potente na vida profissional”, destaca Michelle.

Negócios e carreiras inclusivas

Além de ensinar grandes habilidades, para Terni, a maternidade e o empreendedorismo a impulsionou a construir um ambiente com aspectos importantes para apoiar mães profissionais, como a flexibilidade. “Na prática, contar com uma jornada flexível e um time empático é essencial para que eu possa exercer minha maternidade com presença. Inclusive, a flexibilidade é um pilar que defendemos na Filhos no Currículo, por ser um desejo legítimo e um modelo de produtividade mais sustentável no longo prazo”, destaca a CEO.

Na Suba foi a mesma coisa. “Implementei algumas práticas a favor da maternidade: aqui, celebramos cada gravidez, na volta das licenças-maternidade as mães podem trazer seus bebês, criamos uma sala de amamentação e um cantinho para a maternagem. Incentivo as mulheres a serem livres para escolher ter ou não filhos”, afirma Fabiana.

Nem toda maternidade significa uma “pausa” na carreira, como no caso dessas empreendedoras, mas a pausa e o descanso também são importantes para qualquer profissional, principalmente para as mulheres que acumulam tarefas e papéis. “Às vezes, o maior ato de coragem que podemos ter é parar. Nos ensinaram que devemos sempre seguir, que somos imparáveis, e realmente somos. Mas a pausa e o descanso é um direito. A lógica de trocar o pneu com o carro em movimento se vale para profissionais homens ou sem filhos, mas para mães, que geralmente enfrentam tripla jornada de trabalho, o direito de parar deve estar no topo das prioridades”, conclui Passarelli.

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