Avalição de jurada de carnaval do Rio viraliza por conter preconceito
Unidos de Padre Miguel contesta nota por uso de iorubá em samba-enredo e anuncia recurso contra rebaixamento


Polêmica na justificativa dos jurados
A avaliação da jurada Ana Paula Fernandes sobre o samba-enredo da Unidos de Padre Miguel gerou repercussão após a escola perder 0,3 pontos no quesito. Entre as justificativas, a avaliadora apontou “excesso de termos em iorubá” na letra do samba, o que motivou críticas da agremiação e de internautas. Em publicação no X, a escola classificou a decisão como um erro de julgamento e afirmou que “despontuar uma escola por utilizar o dialeto de sua cultura é, no mínimo, uma avaliação despreparada”. A nota oficial destacou ainda que a agremiação não pretende modificar sua identidade linguística para se adequar a um “acadêmico não negro”.
No caderno de avaliação, Fernandes argumentou que “há trechos de difícil entendimento devido ao excesso de termos em iorubá (muitas estrofes)”. A justificativa foi amplamente criticada, especialmente porque o enredo homenageou Francisca da Silva, a Iyá Nassô, ialorixá que fundou o Terreiro da Casa Branca do Engenho Velho, em Salvador, no século 19. O tema exaltava sua importância na introdução do modelo de candomblé no Brasil.
No Livro Abre-Alas, a escola explicou a presença dos termos em iorubá como essenciais para a experiência do Axé da Casa Branca e como forma de resistência cultural, contextualizando a trajetória de Iyá Nassô.
Reações à avaliação
A justificativa da jurada gerou indignação entre especialistas e políticos. João Raphael, mestre em educação pela UFRJ, classificou a retirada de pontos como um reflexo do despreparo dos jurados para avaliar temas africanos. “Retirar ponto da Unidos de Padre Miguel por excesso de termos em iorubá, além de racismo explícito, é um excelente exemplo do despreparo dos jurados em relação a temas ligados ao continente africano, que, diga-se de passagem, povoaram belamente a Sapucaí este ano”, escreveu.
A vereadora Tainá de Paula também criticou a decisão. “Um enredo que trata sobre Iyá Nassô, matriarca do candomblé Ketu, deveria cantar sua história em termos europeus?”, questionou. Nas redes sociais, internautas ressaltaram que a escola incluiu um glossário com os termos em iorubá no Livro Abre-Alas.
Outras penalizações e impacto no resultado
Além do desconto pelo uso de iorubá, a jurada retirou mais 0,2 pontos da escola. Um dos trechos do samba, “Vou voltar mainha, eu vou, Vou voltar mainha, chore não, Que lá na Bahia Xangô fez revolução”, foi apontado como falho na narrativa. Outra justificativa foi de que “a obra apresenta encadeamento linear, sem maiores inovações dentro da linguagem do samba-enredo”.
A Unidos de Padre Miguel recebeu 9,7 pontos no quesito samba-enredo, a menor nota registrada, mas o valor foi descartado no somatório final. Apesar disso, a escola acabou rebaixada ao somar 266,8 pontos. Em nota, a diretoria reconheceu falhas técnicas, mas classificou as notas recebidas como “baixas e injustas”, afirmando que o resultado final “não condiz com o que a agremiação apresentou na avenida”.
Pedido de revisão
Diante do resultado, a Unidos de Padre Miguel anunciou que entrará com um recurso na Liga Independente das Escolas de Samba (Liesa). A escola argumenta ter identificado “inconsistências graves”. O rebaixamento à Série Ouro será contestado oficialmente nos próximos dias.
O espaço segue aberto para posicionamentos, declarações e atualizações sobre o caso.
Retirar ponto da Unidos de Padre Miguel por excesso de termos em Iorubá, além de racismo explícito é um excelente exemplo do despreparo dos jurados com relação aos temas relacionados ao continente africano que esse ano, diga-se de passagem, povoaram belamente a Sapucaí.… pic.twitter.com/cn8cnEmpFc
— O Afroliterato (@Afroliterato) March 7, 2025
É inadmissível que a UPM seja rebaixada pela inaptidão do corpo de jurados, que não conhece a diversidade brasileira e não estuda os enredos.
— Tainá de Paula (@tainadepaularj) March 7, 2025