Armadilha fotográfica da Funai revela mistérios de indígenas isolados no Brasil
A Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) registrou, em fevereiro de 2024, fotos inéditas de um povo indígena isolado em Rondônia, na Terra Indígena Massaco. A população leva o nome do rio que atravessa seu território de atuação — Massaco —, mas, como nunca houve contato com eles, ninguém sabe como se chamam entre si. Vídeo mostra tribo isolada se aproximando de áreas de extrativismo na Amazônia Pintura rupestre revela história milenar da ocupação na Amazônia Eles vivem na fronteira com a Bolívia, no primeiro território indígena demarcado exclusivamente para povos isolados, segundo contou Janete Carvalho, diretora de Proteção Territorial da Funai, à BBC News Mundo. Como a política da Funai é a de não contato, as imagens foram capturadas com armadilhas fotográficas posicionadas estrategicamente no território. O povo Massaco e seus registros Segundo Carvalho, a Funai descobriu os Massaco em outubro de 1988, quando foram encontradas pegadas, trilhas, pontos de coleta de alimento e de caça da população. Com observações desses vestígios e do tamanho e número de habitações deixadas para trás (já que suas atividades são nômades), a fundação chegou à estimativa de uma população entre 220 e 270 pessoas. -Entre no Canal do WhatsApp do Canaltech e fique por dentro das últimas notícias sobre tecnologia, lançamentos, dicas e tutoriais incríveis.- A Funai compartilhou algumas imagens registradas desse povo com o Canaltech, que você pode conferir abaixo: Registro do povo Massaco feito em fevereiro de 2024, com armadilha fotográfica: todos eram homens (CGIIRC/Funai) Registro do povo Massaco feito em fevereiro de 2024, com armadilha fotográfica: todos eram homens (CGIIRC/Funai) Registro do povo Massaco feito em fevereiro de 2024, com armadilha fotográfica: todos eram homens (CGIIRC/Funai) Registro do povo Massaco feito em fevereiro de 2024, com armadilha fotográfica: todos eram homens (CGIIRC/Funai) Moradias temporários dos Massaco, feitas com folha de palmeira e babaçu, chamadas tapiri (CGIIRC/Funai) Moradias temporários dos Massaco, feitas com folha de palmeira e babaçu, chamadas tapiri (CGIIRC/Funai) Moradias temporários dos Massaco, feitas com folha de palmeira e babaçu, chamadas tapiri (CGIIRC/Funai) Em 1987, especialistas haviam avaliado os resultados do contato pacífico com povos isolados e concluíram que essa abordagem trazia doenças e miséria aos indígenas — isso levou a uma política de não contato, que segue até hoje. Desde então, sertanistas e indigenistas como Altair Algayer, que coordena a Funai na região de Rondônia, seguem acompanhando os povos de longe. Segundo Algayer contou ao jornal The Guardian, as fotografias mostraram detalhes importantes, como a semelhança com o povo Sirionó, que vive na margem oposta do Rio Guaporé, na Bolívia. A primeira imagem do povo isolado Massaco surgiu em 2019, quando as armadilhas fotográficas foram movidas para o centro da reserva indígena. As novas fotos foram obtidas após a instalação de novas câmeras, em 2021. Junto aos aparelhos, a equipe da Funai deixou machados e facões na trilha, ato que visa desencorajar a movimentação dos indígenas para fazendas e outras regiões fora da reserva em busca de ferramentas. Mesmo coletando os itens, nenhum deles se aproximou da câmera, que estava bem à vista. Foram registrados nove homens, entre 20 e 40 anos de idade. Antes de sair, eles deixaram armadilhas cortantes chamadas estrepes para trás, lascas pontiagudas de madeira posicionadas em locais onde humanos se apoiam ou colocam o peso do corpo. Entre 1980 e 1990, segundo Carvalho, houve muita movimentação de carros e pessoas na reserva: caminhonetes da Funai, Ibama e Polícia Federal foram furados pelas armadilhas à época, bem como caminhões e até tratores dos madeireiros. Um estrepe, armadilha feita para perfurar, com um espinho enterrado no chão (CGIIRC/Funai) Nas trilhas percorridas pelo povo Massaco, especialistas da Funai encontraram diversos estrepes, capazes até de furar botas (CGIIRC/Funai) Nas trilhas percorridas pelo povo Massaco, especialistas da Funai encontraram diversos estrepes, capazes até de furar botas (CGIIRC/Funai) Um estrepe, armadilha feita para perfurar, com um espinho enterrado no chão (CGIIRC/Funai) Um dos aspectos intrigantes é o tamanho das flechas usadas pelos Massaco: mais de três metros. Embora outros povos usem arcos e flechas grandes, como os Sirionó, Carvalho não sabe dizer como seria feito o manejo em meio à selva e cerrado. Os Massaco matam antas, queixadas, macacos e veados, que não são fáceis de abater de outra forma. Algayer também não sabe resolver esse mistério. As fotos, junto a imagens de satélite, vão ensinando os especialistas, aos poucos, como é a vida e a vivência dos povos indígenas. Já sabemos, por exemplo, que os Massaco se movem devido a mudanças sazonais, como seca e chuva, e variações na vegetação. Por enquanto, a prioridade tem sido a garantia da proteção dos recursos do território, que garante a sobrevivênc

A Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) registrou, em fevereiro de 2024, fotos inéditas de um povo indígena isolado em Rondônia, na Terra Indígena Massaco. A população leva o nome do rio que atravessa seu território de atuação — Massaco —, mas, como nunca houve contato com eles, ninguém sabe como se chamam entre si.
- Vídeo mostra tribo isolada se aproximando de áreas de extrativismo na Amazônia
- Pintura rupestre revela história milenar da ocupação na Amazônia
Eles vivem na fronteira com a Bolívia, no primeiro território indígena demarcado exclusivamente para povos isolados, segundo contou Janete Carvalho, diretora de Proteção Territorial da Funai, à BBC News Mundo. Como a política da Funai é a de não contato, as imagens foram capturadas com armadilhas fotográficas posicionadas estrategicamente no território.
O povo Massaco e seus registros
Segundo Carvalho, a Funai descobriu os Massaco em outubro de 1988, quando foram encontradas pegadas, trilhas, pontos de coleta de alimento e de caça da população. Com observações desses vestígios e do tamanho e número de habitações deixadas para trás (já que suas atividades são nômades), a fundação chegou à estimativa de uma população entre 220 e 270 pessoas.
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Entre no Canal do WhatsApp do Canaltech e fique por dentro das últimas notícias sobre tecnologia, lançamentos, dicas e tutoriais incríveis.
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A Funai compartilhou algumas imagens registradas desse povo com o Canaltech, que você pode conferir abaixo:
Em 1987, especialistas haviam avaliado os resultados do contato pacífico com povos isolados e concluíram que essa abordagem trazia doenças e miséria aos indígenas — isso levou a uma política de não contato, que segue até hoje. Desde então, sertanistas e indigenistas como Altair Algayer, que coordena a Funai na região de Rondônia, seguem acompanhando os povos de longe.
Segundo Algayer contou ao jornal The Guardian, as fotografias mostraram detalhes importantes, como a semelhança com o povo Sirionó, que vive na margem oposta do Rio Guaporé, na Bolívia. A primeira imagem do povo isolado Massaco surgiu em 2019, quando as armadilhas fotográficas foram movidas para o centro da reserva indígena. As novas fotos foram obtidas após a instalação de novas câmeras, em 2021.
Junto aos aparelhos, a equipe da Funai deixou machados e facões na trilha, ato que visa desencorajar a movimentação dos indígenas para fazendas e outras regiões fora da reserva em busca de ferramentas. Mesmo coletando os itens, nenhum deles se aproximou da câmera, que estava bem à vista. Foram registrados nove homens, entre 20 e 40 anos de idade.
Antes de sair, eles deixaram armadilhas cortantes chamadas estrepes para trás, lascas pontiagudas de madeira posicionadas em locais onde humanos se apoiam ou colocam o peso do corpo. Entre 1980 e 1990, segundo Carvalho, houve muita movimentação de carros e pessoas na reserva: caminhonetes da Funai, Ibama e Polícia Federal foram furados pelas armadilhas à época, bem como caminhões e até tratores dos madeireiros.
Um dos aspectos intrigantes é o tamanho das flechas usadas pelos Massaco: mais de três metros. Embora outros povos usem arcos e flechas grandes, como os Sirionó, Carvalho não sabe dizer como seria feito o manejo em meio à selva e cerrado. Os Massaco matam antas, queixadas, macacos e veados, que não são fáceis de abater de outra forma. Algayer também não sabe resolver esse mistério.
As fotos, junto a imagens de satélite, vão ensinando os especialistas, aos poucos, como é a vida e a vivência dos povos indígenas. Já sabemos, por exemplo, que os Massaco se movem devido a mudanças sazonais, como seca e chuva, e variações na vegetação. Por enquanto, a prioridade tem sido a garantia da proteção dos recursos do território, que garante a sobrevivência desse e de outros povos.
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