A vulnerabilidade digital que cruza classes sociais

O relatório mais recente do Banco Mundial coloca o Brasil na última posição do ranking de competência digital da América Latina. Milhões de brasileiros permanecem excluídos do ecossistema digital e o mais alarmante: muitos sequer percebem o quanto isso os vulnerabiliza. Quando falamos em competência digital, não estamos mais tratando apenas de acesso, mas de domínio. Ter um celular na mão ou uma conexão à internet não garante autonomia. Saber navegar, interagir e se proteger... O post A vulnerabilidade digital que cruza classes sociais apareceu primeiro em Meio e Mensagem - Marketing, Mídia e Comunicação.

Abr 15, 2025 - 16:06
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A vulnerabilidade digital que cruza classes sociais

(Crédito: Mary Long/Shutterstock)

O relatório mais recente do Banco Mundial coloca o Brasil na última posição do ranking de competência digital da América Latina. Milhões de brasileiros permanecem excluídos do ecossistema digital e o mais alarmante: muitos sequer percebem o quanto isso os vulnerabiliza.

Quando falamos em competência digital, não estamos mais tratando apenas de acesso, mas de domínio. Ter um celular na mão ou uma conexão à internet não garante autonomia. Saber navegar, interagir e se proteger online tornou-se uma nova forma de alfabetização tão essencial quanto ler e escrever. E a verdade é que nem todos estão acompanhando esse ritmo acelerado.

Vivemos cercados de vulneráveis digitais e, muitas vezes, não são óbvios, e nem percebemos. Eles estão na nossa casa. Nos nossos grupos de família. Entre nossos amigos, colaboradores e colegas de trabalho.

Pense nos idosos, por exemplo. Em qualquer classe social. Muitos têm acesso ao WhatsApp, ao YouTube, mas estão vulneráveis digitalmente diante do golpe disfarçado de notificação, da deepfake que imita a voz do neto pedindo ajuda, da dificuldade em entender o que é real ou gerado por inteligência artificial.

Eles têm acesso, mas não têm proteção. Eles navegam, mas sem bússola. E a cada avanço da IA, o abismo digital só aumenta. Há também outras categorias de excluídos digitais: profissionais que, mesmo qualificados, estão perdendo espaço por não se digitalizarem.

Contadores, advogados, administradores, profissionais da saúde, personal trainers, pequenos empreendedores. Pessoas com experiência, com formação, mas que estão ficando para trás porque não dominam ferramentas digitais, não conseguem vender seus serviços online, não sabem usar ferramentas, automações ou dados para escalar seus negócios.

Letramento digital não é apenas “saber mexer no celular”. É usar a tecnologia a seu favor. É interpretar, aplicar e, muitas vezes, criar soluções. É vender pela internet, divulgar um trabalho nas redes sociais, automatizar tarefas, usar inteligência artificial no dia a dia. É, acima de tudo, uma ponte concreta para novas oportunidades, especialmente para os excluídos digitais.

Deixe-me contar uma história que carrego com orgulho e emoção.

Fomos até Itapiranga, no coração do Amazonas, onde quase metade das mulheres vive em situação de vulnerabilidade. Levamos internet, notebooks e formação digital para um grupo de produtoras de biojoias. Mulheres incríveis, até então à margem do mundo conectado. Em poucos meses, elas aprenderam a se comunicar online, divulgar seus produtos e vender para fora da região. O que começou como um curso digital virou renda. Em alguns casos, a renda dobrou. Virou autonomia. Virou transformação, para elas, suas famílias e toda a comunidade.

Investir em competência digital é investir em justiça social, desenvolvimento econômico e dignidade humana. É hora de tornar o letramento digital uma prioridade real: que ele esteja presente nas decisões de governo, nas metas das empresas e nos programas de educação, antes que o abismo digital se transforme em exclusão irreversível.

Que tal começar uma conversa, hoje mesmo, sobre letramento digital na sua casa e na sua empresa, justamente enquanto se fala tanto sobre inteligência artificial?

Parece óbvio? Não é.

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