A publicidade vai me demitir sem justa causa

Recebi a notícia a seguir lendo o resultado da pesquisa do Great Place to Work sobre as agências de publicidade. Apenas 5% de seus colaboradores têm entre 45 e 54 anos e acima dos 55 anos o percentual cai para 2%. Uma participação praticamente simbólica, eu diria. Aos 41, sendo muito otimista e com certa sorte, posso considerar que tenho alguns poucos anos produtivos pela frente. Levando em conta que a expectativa (conservadora) de vida... O post A publicidade vai me demitir sem justa causa apareceu primeiro em Meio e Mensagem - Marketing, Mídia e Comunicação.

Abr 23, 2025 - 12:00
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A publicidade vai me demitir sem justa causa

Recebi a notícia a seguir lendo o resultado da pesquisa do Great Place to Work sobre as agências de publicidade. Apenas 5% de seus colaboradores têm entre 45 e 54 anos e acima dos 55 anos o percentual cai para 2%. Uma participação praticamente simbólica, eu diria. Aos 41, sendo muito otimista e com certa sorte, posso considerar que tenho alguns poucos anos produtivos pela frente.

Levando em conta que a expectativa (conservadora) de vida está em quase 77 anos, tenho mais 36 anos de boletos para pagar. A conta não fecha. Por isso, passei algum tempo pensando em hipóteses que expliquem estes números assustadores para ver se tenho alguma chance de me salvar. Aqui estão duas delas:

 

1. O etarismo é uma realidade

Em entrevista para o Meio & Mensagem a gerente de growth marketing do GPTW, Daniella Azevedo, disse: “o fato de muitas agências de publicidade terem predominância de funcionários jovens (…) reflete algumas dinâmicas e desafios específicos relacionados ao ambiente de trabalho em si já que, em sua maioria, são ambientes que exigem aptidões com redes sociais e acompanhamento constante de tendências do mundo pop – características mais facilmente encontradas em jovens adultos”.

Na sequência, ela defende a ideia da diversidade etária, mas para este artigo vou usar o recorte trazido nas aspas. Publicitários precisam ser camaleões, da mesma forma que tem novatos criando campanhas para remédios de doenças que nunca tiveram, pessoas mais velhas também são capazes de criar para os mais novos. Para além disso, também tem toda uma bagagem de experiências e aprendizados que não pode ser ignorada.

 

2. Os publicitários estão desistindo da carreira

O equilíbrio entre vida profissional e vida pessoal tem sido uma pauta cada vez mais frequente. Entre os entrevistados pelo GPTW, 37% falaram que qualidade de vida é o principal motivo para se manter em uma agência. Eu amo trabalhar em agências, mas são muito poucas aquelas que proporcionam um ritmo salubre de trabalho. Com a idade, a tendência é aceitar menos a engrenagem rodando do jeito que ela roda hoje, e olhando por este prisma me bate uma curiosidade imensa de como o mercado vai se configurar quando a nova geração tão criticada pela pouca tolerância ao intolerável for a maioria.

Conheço muitos publicitários que empreendem no paralelo buscando o momento de migrar de vez. E outros que foram para outras áreas da comunicação ou até se aventuraram em profissões diferentes. Boa parte deles com pelo menos uma síndrome de burnout no currículo.

Não bastasse a minha idade, o fato de ser uma líder mulher também depõe contra mim. A mesma pesquisa mostrou que a liderança feminina caiu 11% em relação ao ano anterior. Mas esse é assunto para outro artigo.

Claro que a conversa é muito mais complexa e profunda do que o que eu apresentei aqui. Foi um início de reflexão que achei relevante colocar na roda para discutir e tentar entender. Fato é que me preocupa ter uma perspectiva quase nula sobre o meu futuro profissional e tenho certeza de que a mesma apreensão está batendo na porta de outros colegas.

Devo começar a investir em uma nova carreira ou me mantenho nadando mesmo com medo de morrer na praia? O mercado está dando seu recado. Em quatro anos, volto para contar se consegui me manter entre os 5% ou se virei mais uma nessa estatística constrangedora.

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