A novidade integral e ainda atual dos Cieps
Em 8 de maio de 1985, foi inaugurado no bairro do Catete, no Rio de Janeiro, o primeiro Centro Integrado de Educação Pública (Ciep) – escola de ensino integral, com atividades esportivas e culturais, refeições, atendimento médico e odontológico para as crianças. A arquitetura do local, concebida por Oscar Niemeyer, tinha particular importância. A escola era composta de um bloco principal com as salas de aula, tendo à esquerda a quadra esportiva e no recuo posterior direito a biblioteca. O prédio tinha uma escala imponente e mantinha a fluidez do térreo, com os pilotis suspendendo o edifício do chão. Não havia nada parecido no Rio de Janeiro entre as construções escolares. A meta do governador Leonel Brizola e de seu vice, o antropólogo Darcy Ribeiro – que conceberam os Cieps – era construir quinhentas dessas escolas até 1987. Em seus dois mandatos, o governador ergueu 506. “O aprendizado começava com a criança tomando um banho diário ou escovando os dentes e podendo se alimentar com três refeições completas”, conta Lúcia Velloso Maurício, responsável pelo Programa de Formação de Professores dos Cieps entre 1991 e 1994. Eram operações cotidianas inimagináveis para muitas dessas crianças, escreve Alexandre Benoit, na edição deste mês da piauí. The post A novidade integral e ainda atual dos Cieps first appeared on revista piauí.

Em 8 de maio de 1985, foi inaugurado no bairro do Catete, no Rio de Janeiro, o primeiro Centro Integrado de Educação Pública (Ciep) – escola de ensino integral, com atividades esportivas e culturais, refeições, atendimento médico e odontológico para as crianças. A arquitetura do local, concebida por Oscar Niemeyer, tinha particular importância. A escola era composta de um bloco principal com as salas de aula, tendo à esquerda a quadra esportiva e no recuo posterior direito a biblioteca. O prédio tinha uma escala imponente e mantinha a fluidez do térreo, com os pilotis suspendendo o edifício do chão. Não havia nada parecido no Rio de Janeiro entre as construções escolares.
A meta do governador Leonel Brizola e de seu vice, o antropólogo Darcy Ribeiro – que conceberam os Cieps – era construir quinhentas dessas escolas até 1987. Em seus dois mandatos, o governador ergueu 506. “O aprendizado começava com a criança tomando um banho diário ou escovando os dentes e podendo se alimentar com três refeições completas”, conta Lúcia Velloso Maurício, responsável pelo Programa de Formação de Professores dos Cieps entre 1991 e 1994. Eram operações cotidianas inimagináveis para muitas dessas crianças, escreve Alexandre Benoit, na edição deste mês da piauí.
Também foi desenvolvido um novo material didático, que abordava temas como negritude, indigenismo, igualdade de gênero e América Latina. O aprendizado partia da realidade das comunidades em que as crianças estavam inseridas. A articulação de todas as atividades era feita pelos animadores culturais, profissionais escolhidos dentro da própria comunidade que poderiam usar a arte como elo geral.
Não demorou para que os “brizolões” – como os Cieps passaram a ser conhecidos – atraíssem forte reação da oposição. A começar pela grande imprensa, que nunca manteve uma relação cordial com Brizola. Uma das acusações dizia que o orçamento dos Cieps era maior que o de duas ou três secretarias de estado juntas, sugerindo que os demais serviços públicos estavam sendo sucateados em decorrência dos gastos com as novas escolas. Um deputado do PMDB chegou a dizer que iria abrir uma CPI contra o ensino integral, pois não fazia sentido uma criança estudar tantas horas por dia. O governo reagiu com ironia e inteligência. Reproduziu em anúncios nos jornais as matérias da imprensa estrangeira sobre os Cieps, como a publicada no New York Times, cujo título era Nas novas escolas do Brasil, a primeira aula é o café da manhã.
Os ataques aos Cieps resultavam muitas vezes da rivalidade política, mas também eram fruto do preconceito de classe e cor. As novas escolas estavam baseadas na multiplicação do tempo das crianças pobres, com a educação integral. Isso significava fornecer a essas crianças mais tempo educacional do que a sociedade estava disposta a bancar. Para que investir na formação de cidadãos conscientes de seus direitos, usufruindo de vantagens que são dadas somente a uma elite, se essas crianças serão, na vida adulta, cidadãos de segunda linha, trabalhadores precarizados ou excluídos?
Não é difícil perceber a novidade que os Cieps representaram para o ensino e ainda representam, tanto mais se contrastados à conjuntura atual, bastante regressiva, mesmo em termos educacionais, a ponto de ressuscitar o modelo cívico-militar para as escolas.
Assinantes da revista podem ler a íntegra do texto neste link.
The post A novidade integral e ainda atual dos Cieps first appeared on revista piauí.