A Brasileira Que Leva o Chocolate da Amazônia para o Mundo

Forbes, a mais conceituada revista de negócios e economia do mundo. Empresária e chocolatière produz mais de 20 toneladas de chocolates bean to bar na Páscoa, tem mais de 100 pontos de venda e exporta para EUA e Europa O post A Brasileira Que Leva o Chocolate da Amazônia para o Mundo apareceu primeiro em Forbes Brasil.

Abr 18, 2025 - 10:00
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A Brasileira Que Leva o Chocolate da Amazônia para o Mundo

Forbes, a mais conceituada revista de negócios e economia do mundo.

 

Aos 22 anos, Luisa Abram cursava gastronomia depois de uma tentativa frustrada de fazer medicina. Nem sequer sonhava que aos 33 teria uma fábrica de chocolates que produz 65 toneladas no ano, com mais de 100 pontos de venda no Brasil e exportação para diferentes países. “Não tinha ideia de onde estava me metendo”, confessa a responsável pela marca de chocolates bean to bar – do grão à barra – que leva seu nome, em uma videochamada diretamente de Alagoas.

É que depois de produzir mais de 20 toneladas de chocolates para a Páscoa, a chocolatière desfruta de um merecido descanso de frente para o mar. “É o melhor momento do ano, a época de realmente fazer dinheiro.”

Há 11 anos, Luisa produz chocolates feitos com cacau selvagem da Amazônia, colhidos por ribeirinhos. A Páscoa representa cerca de 30% do faturamento anual da empresa, que este ano deve ser de R$ 6 milhões.

Seus chocolates já ganharam medalhas de ouro e bronze em premiações internacionais, como o Academy of Chocolate Awards, em Londres. Também estão presentes em produtos Bacio di Latte, inclusive nos ovos de Páscoa, em uma parceria de quase seis anos. “Eles me procuraram em 2019 e fizemos cerca de 100 testes até criar o primeiro produto.”

Do começo

Para quem ouve a empresária falar com tamanha propriedade dos processos, da precificação e das características específicas do cacau e do chocolate de origem, é difícil acreditar que a ideia inicial não era criar um negócio. “Queria apenas fazer chocolates para a família, seguindo a receita de um livro que havia ganhado“, conta Luisa, que em 2014 foi com o pai conhecer a Comunidade de São Sebastião, no Rio Purus, no Acre. “Eles faziam o processo do cacau fino e exportavam tudo para a Alemanha. Se os alemães estavam levando esse cacau, imaginei que deveria ser bom.”

Luisa nunca havia ido à Amazônia ou experimentado o cacau – e continuou sem provar. Quando chegaram lá, não viram uma fruta sequer no pé. “Fomos em época de seca e da floração do cacau, então não vimos nada. Coisa de amador mesmo.”

Primeiros testes

Voltou para São Paulo com 20kg de cacau de outras safras e se dedicou a estudar o que viria a ser uma grande paixão. “Importei um primeiro moinho de 3kg da Índia e fiquei um ano e meio na despensa da casa dos meus pais fazendo testes.” Em 2021, trouxe máquinas maiores da Itália e abriu uma fábrica em São Paulo.

Na faculdade de gastronomia, não havia aprendido nada daquilo que precisaria desenvolver para produzir seus chocolates nos anos seguintes. “Ninguém me preparou para isso. A faculdade me preparou para ficar com a barriga no fogão numa cozinha.”

Os primeiros testes não agradaram. “Mudava a receita e nada. Queria saber o que tinha de errado, então decidi enviar os chocolates para um crítico dos Estados Unidos”, conta. Depois de receber e provar em Nova York a barra de chocolate feita com cacau da Amazônia, Mark Christian explicou que a chef precisaria acompanhar de perto o beneficiamento do cacau – um conjunto de etapas após a colheita.

Bean to bar – do grão à barra

O ponto de virada foi a chegada de um consultor americano de pós-colheita, que ajudou a criar os processos e passar os conhecimentos que hoje são replicados aos ribeirinhos. “A partir da safra de 2017, comecei a sentir que estava no caminho certo.”

Hoje, o cacau usado nos chocolates Luisa Abram é produzido em comunidades ao longo de oito rios na região Norte do país: Juruá, Purus, Tocantins, Acará, Cassiporé, Iaco, e em breve os rios Muru e Tarauacá. “Cada rio da Amazônia tem o seu tipo de cacau e o seu terroir, a sua origem, com diferenças gustativas e características organolépticas.”

Os chocolates são intensos, não levam leite, e é possível perceber as diferenças no sabor das barras feitas com frutas de diferentes origens. “O cacau é uma planta muito especial. É a única fruta no mundo consumida em larguíssima escala e que ainda conseguimos encontrar no seu estado natural, não domesticado.”

O sucesso do chocolate de origem

Antes mesmo de acertar a receita, Luisa já conseguia vender seus chocolates. “Até o começo de 2017, não era bom, mas eu vendia pela história”, explica. A “história” a que se refere envolve a própria empreendedora, uma mulher jovem, com um modelo de negócio que apoia comunidades ribeirinhas e mantém a floresta de pé. “Sobrevivi de primeiras vendas. As pessoas compravam para apoiar, mas não voltavam.”

A família – que trabalha toda junta no negócio – já imaginava que o apelo da Amazônia chamaria mais atenção no exterior, e seu pai começou a enviar os chocolates para diferentes países, como Itália, Estados Unidos e Alemanha. O primeiro cliente no atacado foi um clube de chocolates na Inglaterra chamado Cocoa Runners, que comprou 800 barras no final de 2015. “Desde o começo, entendemos que a história iria reverberar mais fora do país, então focamos na presença internacional.”

A trajetória da chocolatière já rendeu uma live com o guru do marketing (e apaixonado por chocolate) Seth Godin, além de inspirar livro, podcast e, mais recentemente, um documentário nos Estados Unidos. O mercado americano responde por 20% do faturamento anual da marca – sendo que a Califórnia sozinha representa 15%. Os outros 80% ainda estão concentrados no Brasil, mas a meta é inverter essa balança. Fora do país, onde a Páscoa não é a principal data comercial, os picos de venda acontecem no Valentine’s Day, em fevereiro, e no Halloween, no fim de outubro.

Cacau em crise

Em solo brasileiro, o desafio segue sendo educar o consumidor sobre o chocolate de origem. “Ninguém estava acostumado a chegar numa gôndola de supermercado e ver um chocolate brasileiro – e caro”, diz a empresária, explicando os custos envolvidos na cadeia de produção. “Uma cadeia sustentável tem o seu valor, mas pesa no bolso.”

Mais recentemente, Luisa precisou reajustar os preços dos produtos, acompanhando a disparada histórica do cacau, que enfrenta uma crise global de oferta. Em dezembro de 2024, a tonelada da amêndoa ultrapassou os US$ 13 mil na Bolsa de Nova York — uma alta de até 300% no acumulado do ano, segundo a Associação Brasileira da Indústria da Alimentação. Mas a empresária conseguiu se antecipar ao movimento. “Quando meu pai percebeu algo estranho nos preços, no início de 2024, compramos tudo o que estava disponível”, conta. “A gente já costumava pagar aos fornecedores mais de três vezes o valor de mercado. Por isso, nesse momento, o reajuste ficou em torno de 30%.”

Os desafios do empreendedorismo são muitos, mesmo com o sucesso e os prêmios acumulados, mas a paulistana tem orgulho de ser uma das pioneiras em levar seus chocolates para as gôndolas. No início do negócio, fazia absolutamente tudo. Hoje, as máquinas dão conta de parte do recado, e ela fica com o lado mais estratégico, de desenvolvimento de produtos e relacionamento com os clientes grandes. “Nunca pensei em jogar tudo para o alto e seguir outro caminho.”

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