A ambição tem gênero. Mas não deveria.  

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Mar 22, 2025 - 03:18
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A ambição tem gênero. Mas não deveria.  

Por muito tempo, ensinaram às mulheres que demonstrar ambição era algo a ser evitado, especialmente quando o assunto era dinheiro. Falar em ganhar bem, negociar aumento, buscar retorno sobre investimentos ou querer enriquecer soava inadequado, quase depreciativo. Como se nossas metas devessem ser mais modestas e discretas, e como se ter ambições fosse algo exclusivamente permitido ao gênero masculino.

Mas a ambição feminina não deveria ser problematizada, afinal trata-se do desejo legítimo de crescer, de assumir responsabilidades maiores, de gerar valor e ser reconhecida por isso. Está presente em profissionais de alta performance e deveria ser igualmente incentivada em homens e mulheres. O desconforto que ainda existe quando uma mulher diz, com todas as letras, que quer ganhar muito dinheiro, liderar grandes projetos ou multiplicar seu patrimônio é reflexo de estereótipos que já deveriam ter sido extintos. Acontece que, como não foram, interferem diretamente nas formas como muitas de nós se veem.

Em 2020, um estudo do banco UBS mostrou que 93% das brasileiras acreditam que seus companheiros entendem mais de dinheiro e investimentos do que elas. Mesmo entre as mais bem-sucedidas e informadas, ainda há uma lacuna entre capacidade e confiança — lacuna esta que a sociedade ajudou a construir e que cabe a nós desfazer.

Segundo a Anbima, apenas 35% dos investidores brasileiros são mulheres. O FMI mostra que menos da metade das mulheres participa ativamente do mercado de trabalho global — contra 72% dos homens. E, no entanto, 49,1% dos lares brasileiros são chefiados por mulheres.

Em outras palavras: estamos assumindo responsabilidades, mas, muitas vezes, sem as ferramentas — ou o incentivo — para assumir também o controle financeiro das nossas vidas. E isso precisa mudar.

Tal mudança começa antes mesmo da educação financeira. Começa quando paramos de duvidar que esse é um assunto nosso e passamos a entender que podemos aprender, investir, tomar decisões — e conquistar nossas ambições. A educação vem como aliada. Não para que todas se tornem especialistas, mas para garantir o mínimo necessário para escolher com autonomia, sem medo ou dependência.

Isso vale para todos. Mas é especialmente urgente para nós, mulheres.

Esta pouca intimidade feminina com universo financeiro, ainda impede, por exemplo, que muitas mulheres com desempenho excelente negociem aumento, discutam bônus ou imponham seus termos em um contrato. Não por falta de capacidade — mas por falta de treino, e de um ambiente que normalize essa conversa desde cedo. É estrutural, mas é possível transformar com acesso, informação e incentivo.

Vale dizer que temos avançado. O número de mulheres investindo na Bolsa teve um aumento recorde de 7%. Já somos mais de 1,3 milhão na B3. É um crescimento importante. Mas ainda estamos longe de onde podemos — e merecemos — chegar.

Nossas ambições não precisam ser justificadas. Não temos que pedir desculpas. O mercado tem muito a ganhar com mulheres mais preparadas, mais confiantes e mais ambiciosas. Porque quando dominamos o próprio dinheiro, dominamos também as nossas escolhas. E isso muda tudo.

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