Virar o slide

Opinião de Rodrigo Gralheiro, Head of Digital Brand NOS

Abr 11, 2025 - 22:22
 0
Virar o slide

Por Rodrigo Gralheiro, Head of Digital Brand NOS

O mundo está a mudar. Quem nunca escreveu este título numa apresentação que atire o primeiro slide. Ele muda, pula e avança, mas avança e pula para onde?

A semana passada as redes estiveram a arder – ardem todos os dias, fica a dica – com a história da Madalena Sá Fernandes. Corrijo: estiveram a arder com a história de um Gouvarinho da crítica literária, para quem “o lugar da mulher era junto ao berço, não na biblioteca”.

Naquele vídeo o mundo pulou e retrocedeu. Nas reações, pulou e avançou. É uma história que não daria para romance, talvez uma razoável novela. Um bom ensaio, de certeza.

Já na publicidade, a causa deu muito boas campanhas, mas o historial dá-nos uma terrível apresentação:

Slide 1: Mulher no Lar – Retratada como dona de casa, enquanto o homem era o provedor.

Slide 2: Objetificação – Usada como isco visual para vender produtos.

Slide 3: Padrões de Beleza – Impôs um ideal inatingível e excludente.

Slide 4: Fragilidade – Vista como emocionalmente frágil e dependente.

Slide 5: “Pinkwashing” – Marketing reforçou estereótipos femininos.

Slide 6: Mudança – O feminismo trouxe avanços, mas há desafios.

Fizemos esforços. Há menos sexualização, algumas campanhas contribuíram para nivelar o discurso, promover a igualdade e autonomia da mulher (consegui não usar a palavra empoderamento). Também é inequívoco que há mais mulheres a liderar. Por outro lado, ainda há uma pressão e um padrão de beleza inatingível e continuam a persistir estereótipos: a mãe, a cuidadora.

Continuamos com muitas marcas e agências Gouvarinhas. Cheias do “Feminismo de marketing”, que falam e escondem os esqueletos. Marcas do ativismo de outdoor e do atavismo indoor.

A publicidade reflete a realidade. Enquanto esta for desigual no trabalho, em casa, na literatura ou na política, a publicidade continuará a reproduzir esses padrões. É verdade, mas é também uma desculpa. Há quem diga que estamos a virar a página, eu acho que apenas mudámos de slide.