Trabalho análogo à escravidão: mulher de desembargador é incluída em Lista Suja

Ana Cristina Gayotto de Borba, mulher do desembargador Jorge Luiz de Borba, acusado de manter Sônia Maria de Jesus em cativeiro por 40 anos, está entre empregadores flagrados submetendo pessoas a condições análogas à escravidão

Abr 10, 2025 - 09:05
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Trabalho análogo à escravidão: mulher de desembargador é incluída em Lista Suja

O Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) divulgou, ontem, a nova atualização da chamada Lista Suja do Trabalho Escravo, incluindo 155 empregadores flagrados submetendo pessoas a condições análogas à escravidão. Entre os nomes, está o de Ana Cristina Gayotto de Borba, mulher do desembargador Jorge Luiz de Borba, do Tribunal de Justiça de Santa Catarina (TJ-SC), acusado de manter Sônia Maria de Jesus em cativeiro por 40 anos.

O cadastro, criado em 2003 e reconhecido pelo Supremo Tribunal Federal (STF) como constitucional, é atualizado semestralmente. Não representa uma punição judicial, mas uma medida de transparência pública prevista na Lei de Acesso à Informação. Os nomes permanecem na lista por dois anos e têm impactos diretos, como restrição a crédito em bancos públicos e exclusão de programas governamentais.

De acordo com o relatório do MTE, entre as atividades com maior número de registros incluídos nesta atualização, estão criação de bovinos, cultivo de café, trabalho doméstico, produção de carvão vegetal e extração de minerais diversos. A inclusão de pessoas físicas ou jurídicas no Cadastro de Empregadores só acontece depois da conclusão do processo administrativo que analisou o auto de infração por trabalho análogo ao de escravo. Para que o nome seja incluído, é necessário que a autuação tenha sido considerada válida em decisão final, sem possibilidade de recurso.

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Caso Sônia Maria

Sônia Maria foi resgatada por auditores fiscais do trabalho em junho de 2023. Mas, dois meses depois, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) revogou a decisão de resgate, por entender que havia insuficiência de provas, e autorizou a volta da mulher à casa dos patrões. Nos registros do combate moderno ao trabalho escravo, iniciado em 1995, é a primeira vez que ocorre um "desresgate", termo que passou a ser usado pelo Ministério Público do Trabalho (MPT), responsável pelo caso.

Segundo o coordenador nacional da Coordenadoria de Erradicação do Trabalho Escravo do Ministério Público do Trabalho (MPT), procurador Luciano Aragão Santos, a inclusão da mulher do desembargador de Santa Catarina no cadastro oficial do governo é resultado de um processo administrativo com provas robustas.

"Apenas o nome dela consta no cadastro, mas isso não isenta os demais familiares de eventual responsabilidade como coautores na submissão ao trabalho análogo à escravidão", afirmou.

Para a advogada Juliana Hashi Stamm, representante da família de Sônia, a inclusão apenas de Ana Cristina, e não o desembargador, "parece uma escolha política. No entanto, reconhecemos que a inclusão na lista representa um passo fundamental para a reconstrução da história e da dignidade de Sônia".