Surf: O quase regresso às aulas, a falta de patrocínios e a inédita qualificação. O ano de Afonso Antunes
Calculadora numa mão e de olhos postos nas eventuais mexidas do ranking europeu.Foi nesta postura que Afonso Antunes assistiu, em terra, ao fecho do Caparica Surf Fest, última etapa do Qualifying Series, circuito regional da Liga Mundial de Surf (WSL).O surfista português, 21 anos, chegou à praia do Paraíso, Costa de Caparica, em 3.º da hierarquia europeia. Viria a ser afastado na ronda 64. No entanto, a queda em fase precoce não impediu a inédita qualificação para o Challenger Series (CS), circuito de acesso ao circuito mundial de surf (Championship Tour 2026).Terminou em 4.º da tabela do circuito de qualificação europeu da Liga Mundial de Surf (WSL), dentro do top 7 que garante as vagas diretas para a 2.ª divisão do surf mundial.Afonso Antunes falou ao SAPO Desporto sobre a temporada, um ano de tudo ou nada. Do quase regresso à escola, da equação de uma pausa sabática, da falta de patrocínios e da vontade indómita de continuar a prosseguir sonho e a paixão de surfar, agora, na antecâmara do circuito de elite da WSL.“Comecei bem o ano, tive logo dois resultados fortes, por isso, antes da Caparica, já sabia que era quase certo ficar dentro do top 7”, disse.Explicou. “As etapas de Pantin (Espanha) e Anglet (França), foram QS de 3000 pontos. Na altura, os outros atletas dentro do top 10 já tinham feito duas etapas antes, a primeira em Inglaterra e a segunda, em Lacanau (França)”, anotou.Num circuito no qual são contabilizadas as quatro melhores etapas, “tudo o que fosse fazer, Marrocos e Caparica, sabia punha só etapas a somar, por isso, se não ficasse dentro do top 7, era mesmo por um azar grande”, constatou.O azar não espreitou.Aprender com os errosNa etapa marroquina, Afonso Antunes terminou em 33.º. “Saber que já estava praticamente apurado, talvez me tenha relaxado um pouco em Marrocos e daí o resultado. Perdi nos últimos 10 segundos para o Luís Perloiro”, revisitou.“Mexeu um bocado comigo, não estava mesmo nada à espera, ainda por cima com as ondas e as direitas que estavam, assentam bem no meu estilo de surf, adoro surfar aquelas ondas, são as minhas ondas favoritas”, relembrou.$$caption$$“Foi um meio choque, estava a começar a ir um bocado abaixo e tirei uma pausa de uma semana e meia, duas, só para voltar ao foco e correu bem”, relatou.“Na Costa, não digo desleixo, mas talvez um pouco de falta de concentração no heat. Fui pouco flexível dentro de água, fiquei muito tempo parado à espera de um certo tipo de ondas que só quebrava num sítio, não fui capaz de mudar o chip durante o heat e quando o fiz já era tarde demais”, assumiu. “O resultado não o mostra, mas estava-me a sentir bem e foi um erro que, às vezes, acontece”, admitiu.“São erros que aprendemos com eles, e sem dúvida, que Marrocos e Costa foram dois campeonatos que aprendi mais do que aprendi em Anglet e Pantin”, confessou.“Podia ter custado a qualificação, mas não custou, e agora é continuar a trabalhar para os Challenger e não cometer estes erros”, perspetivou.A vitória e a falta de patrocíniosNa hora do sucesso, os atletas, por norma, recordam o trabalho desenvolvido desde curta idade até à hora de abrir a porta ao novo caminho. Afonso Antunes, remete, contudo, para outra cronologia.“Diria que, no meu caso, foi todo o trabalho feito desde miúdo até há dois anos, até dar um pouco de espaço aos campeonatos, esse trabalho foi essencial”, considerou o medalha de bronze (sub-16) no Mundial de Juniores ISA, em 2019.“Para ser sincero, no início do ano, tinha o objetivo de entrar no top 10 do QS, não era top 7”. Mas algo provocou a mudança de planos.“A vitória em Pantin”, assinalou. “A vitória em Patim foi um “está aqui, continua e agarra-te a este caminho, é este o caminho”. Foi assim que senti”, exprimiu.“Não tenho patrocínios e não tinha muito dinheiro para estar a fazer os QS todos e optei só por fazer os 3000 e sabia que teria que dar tudo nos QS 3000”, informou.“Como não havia dinheiro, ia ser o meu último ano a tentar à séria. Mas, graças a Deus ganhei em Pantim e a seguir as meias finais em Anglet, ajudou imenso”, frisou.Os estudos e a pausa sabáticaColocou sempre todas as fichas no surf. Questionado sobre se não se qualificasse para o CS que ano poderia esperar, Afonso Antunes respondeu. “Não sei, na realidade nunca cheguei a pensar. Se não conseguisse chegar a lado nenhum, ou não conseguisse os meus objetivos, sabia que ia ser uma pausa, não sabia se definitiva, ou não, mas pelo menos até arranjar ajuda monetária”, equacionou.Uma pausa sabática e um regresso posterior à competição foram ingredientes que cozinharam o pensamento do surfista português.$$caption-2$$“Nunca cheguei a pensar no plano B, sempre coloquei isto na cabeça e fui para a frente com este plano. Felizmente deu certo. Mas talvez seria um Afonso a voltar aos estudos, talvez para a universidade”, confidenciou.“Na idade que estou, 21, é mais ou menos que, quando se quer chegar lá, temos que começar mesmo a dar tudo e a decidir o que fazemos e o que queremos”, explicou.“E, p

Calculadora numa mão e de olhos postos nas eventuais mexidas do ranking europeu.
Foi nesta postura que Afonso Antunes assistiu, em terra, ao fecho do Caparica Surf Fest, última etapa do Qualifying Series, circuito regional da Liga Mundial de Surf (WSL).
O surfista português, 21 anos, chegou à praia do Paraíso, Costa de Caparica, em 3.º da hierarquia europeia. Viria a ser afastado na ronda 64. No entanto, a queda em fase precoce não impediu a inédita qualificação para o Challenger Series (CS), circuito de acesso ao circuito mundial de surf (Championship Tour 2026).
Terminou em 4.º da tabela do circuito de qualificação europeu da Liga Mundial de Surf (WSL), dentro do top 7 que garante as vagas diretas para a 2.ª divisão do surf mundial.
Afonso Antunes falou ao SAPO Desporto sobre a temporada, um ano de tudo ou nada. Do quase regresso à escola, da equação de uma pausa sabática, da falta de patrocínios e da vontade indómita de continuar a prosseguir sonho e a paixão de surfar, agora, na antecâmara do circuito de elite da WSL.
“Comecei bem o ano, tive logo dois resultados fortes, por isso, antes da Caparica, já sabia que era quase certo ficar dentro do top 7”, disse.
Explicou. “As etapas de Pantin (Espanha) e Anglet (França), foram QS de 3000 pontos. Na altura, os outros atletas dentro do top 10 já tinham feito duas etapas antes, a primeira em Inglaterra e a segunda, em Lacanau (França)”, anotou.
Num circuito no qual são contabilizadas as quatro melhores etapas, “tudo o que fosse fazer, Marrocos e Caparica, sabia punha só etapas a somar, por isso, se não ficasse dentro do top 7, era mesmo por um azar grande”, constatou.
O azar não espreitou.
Aprender com os erros
Na etapa marroquina, Afonso Antunes terminou em 33.º. “Saber que já estava praticamente apurado, talvez me tenha relaxado um pouco em Marrocos e daí o resultado. Perdi nos últimos 10 segundos para o Luís Perloiro”, revisitou.
“Mexeu um bocado comigo, não estava mesmo nada à espera, ainda por cima com as ondas e as direitas que estavam, assentam bem no meu estilo de surf, adoro surfar aquelas ondas, são as minhas ondas favoritas”, relembrou.$$caption$$
“Foi um meio choque, estava a começar a ir um bocado abaixo e tirei uma pausa de uma semana e meia, duas, só para voltar ao foco e correu bem”, relatou.
“Na Costa, não digo desleixo, mas talvez um pouco de falta de concentração no heat. Fui pouco flexível dentro de água, fiquei muito tempo parado à espera de um certo tipo de ondas que só quebrava num sítio, não fui capaz de mudar o chip durante o heat e quando o fiz já era tarde demais”, assumiu. “O resultado não o mostra, mas estava-me a sentir bem e foi um erro que, às vezes, acontece”, admitiu.
“São erros que aprendemos com eles, e sem dúvida, que Marrocos e Costa foram dois campeonatos que aprendi mais do que aprendi em Anglet e Pantin”, confessou.
“Podia ter custado a qualificação, mas não custou, e agora é continuar a trabalhar para os Challenger e não cometer estes erros”, perspetivou.
A vitória e a falta de patrocínios
Na hora do sucesso, os atletas, por norma, recordam o trabalho desenvolvido desde curta idade até à hora de abrir a porta ao novo caminho. Afonso Antunes, remete, contudo, para outra cronologia.
“Diria que, no meu caso, foi todo o trabalho feito desde miúdo até há dois anos, até dar um pouco de espaço aos campeonatos, esse trabalho foi essencial”, considerou o medalha de bronze (sub-16) no Mundial de Juniores ISA, em 2019.
“Para ser sincero, no início do ano, tinha o objetivo de entrar no top 10 do QS, não era top 7”. Mas algo provocou a mudança de planos.
“A vitória em Pantin”, assinalou. “A vitória em Patim foi um “está aqui, continua e agarra-te a este caminho, é este o caminho”. Foi assim que senti”, exprimiu.
“Não tenho patrocínios e não tinha muito dinheiro para estar a fazer os QS todos e optei só por fazer os 3000 e sabia que teria que dar tudo nos QS 3000”, informou.
“Como não havia dinheiro, ia ser o meu último ano a tentar à séria. Mas, graças a Deus ganhei em Pantim e a seguir as meias finais em Anglet, ajudou imenso”, frisou.
Os estudos e a pausa sabática
Colocou sempre todas as fichas no surf. Questionado sobre se não se qualificasse para o CS que ano poderia esperar, Afonso Antunes respondeu. “Não sei, na realidade nunca cheguei a pensar. Se não conseguisse chegar a lado nenhum, ou não conseguisse os meus objetivos, sabia que ia ser uma pausa, não sabia se definitiva, ou não, mas pelo menos até arranjar ajuda monetária”, equacionou.
Uma pausa sabática e um regresso posterior à competição foram ingredientes que cozinharam o pensamento do surfista português.$$caption-2$$
“Nunca cheguei a pensar no plano B, sempre coloquei isto na cabeça e fui para a frente com este plano. Felizmente deu certo. Mas talvez seria um Afonso a voltar aos estudos, talvez para a universidade”, confidenciou.
“Na idade que estou, 21, é mais ou menos que, quando se quer chegar lá, temos que começar mesmo a dar tudo e a decidir o que fazemos e o que queremos”, explicou.
“E, para ser sincero, nunca fui uma pessoa de estudar muito, acabei o 12º ano, mas a escola nunca foi o meu 'hobby' favorito, a minha paixão”, manifestou. “Mas, sem dúvida, se o surf não desse, tinha de arranjar um plano B e acabar por tirar um curso para depois conseguir ter uma vida e se calhar, quem sabe, se arranjasse um trabalho bom, conseguisse bom dinheiro, voltava a competir”, adiantou.
“Sabe bem ter coisas por mérito”
“O ano vai começar daqui para a frente e agora vou ter que elevar a fasquia, que é para chegar aos Challenger e conseguir bater-me com eles”, anunciou.
A temporada começa em junho, na Austrália. Até lá, as etapas da Liga MEO, circuito que apura o campeão nacional, ajudam na preparação.
“Para além da rodagem de competição e competir contra adversários fortes como temos na Liga, acho que vai ser muito importante agora, não só no free surf, mas, em treinos mesmo, começar a puxar o meu surf para outro patamar, fazer manobras com muito mais força, mais velocidade, trabalhar também nas pranchas para tentar ficar ao mais alto nível e tentar levar o meu melhor para os Challenger”, avançou.
Ao contrário de outros surfistas que fazem viagens pelo globo para se adaptarem às diversas ondas que enfrentarão no circuito de qualificação, Afonso Antunes optou por uma abordagem caseira e nem sequer equaciona ir mais cedo para a Austrália.
“Acho que vou ficar por cá. Por exemplo, já houve surfistas a pedir 'crowdfunding' para irem fazer o Challenger, mas não me sinto muito confortável com isso”, realçou.
“Às vezes, sabe bem ter coisas por mérito. Desde que perdi os patrocínios, uma das coisas que aprendi foi a dar valor a tudo o que oferecem, mas ter mais atenção no dia-a-dia com certas atitudes e com pessoas e dei imenso valor a voltar a fazer as coisas por mim, pelo meu mérito”, sublinhou.
“Acho que consigo fazer as etapas de Challenger, com ou sem patrocínio, se trabalhar e fizer tudo certo, acho que tenho tudo para ter um bom ano”, antevê.
Um circuito que até poderá ser feito “com os 'prize money' que se vai ganhando”, isto é, os prémios monetários servirem de alavanca para a viagem seguinte.
“Na minha perspetiva não é uma coisa má. Para mim, será dinheiro bem”, antecipa.
“Como costumamos dizer, quando sai do bolso é quando uma pessoa faz mais por isso, logo, deixa-me mais motivado. Mas, se aparecer um patrocínio é sempre bem-vindo”, exclama. “Agora está mais fácil ter patrocinadores”, despediu-se, a sorrir.