“Sem alarmismo”, Europa tem de se preparar para conflitos, alerta líder das secretas
O secretário-geral do Sistema de Informações da República Portuguesa (SIRP) disse esta quinta-feira que é necessário consciencializar o país para a importância do investimento na defesa e preparação militar perante o agravamento do quadro geopolítico, que pode piorar com outra guerra no futuro. “A preparação militar e civil tem vindo e deve continuar a ser […]


O secretário-geral do Sistema de Informações da República Portuguesa (SIRP) disse esta quinta-feira que é necessário consciencializar o país para a importância do investimento na defesa e preparação militar perante o agravamento do quadro geopolítico, que pode piorar com outra guerra no futuro.
“A preparação militar e civil tem vindo e deve continuar a ser um tema de reflexão prioritária. Temos de encarar – sem alarmismo, mas com seriedade – a necessidade de nos prepararmos para crises várias. Ou até mesmo para cenários – por hipotéticos que por vezes pareçam – de eventuais conflitos alargados na Europa”, afirmou o embaixador Vítor Sereno, na terceira edição da conferência sobre o Relatório Draghi, organizada pelo ECO e dedicada ao pilar da Defesa e Segurança.
Segundo o secretário-geral do SIRP, Portugal não pode ficar “arredado” desta reflexão, sobretudo quando outros países europeus e até Bruxelas constataram a urgência deste caminho de investimento e capacitação de meios humanos, economias e instituições.
Na visão do embaixador, mais do que um “exercício académico ou intelectual”, passou a ser “um imperativo coletivo, cívico e de Estado” debater a inovação, a sustentabilidade industrial e a segurança devido ao contexto geopolítico. Hoje, “talvez mais do que nunca desde o fim da Segunda Guerra Mundial”, são necessários espaços para convergência de ideias.
A crescente fragmentação e imprevisibilidade geopolíticas, o realinhamento das cadeias de valor globais, os avanços tecnológicos trepidantes e as tensões que se agudizam em várias regiões do mundo impõem-nos uma resposta à altura dos nossos valores e ambições
O líder das ‘secretas’ admitiu que, em fevereiro de 2022, após a invasão da Ucrânia pela Rússia, tanto a sociedade civil como os dirigentes políticos tornaram-se mais conscientes das ameaças, ressalvando que a agudização de tensões não é recente, como se viu no 11 de Setembro, Primavera Árabe, crises bolsistas e a dívida, ocupação da Crimeia e pandemia.
O receio é que esta agressão “sem precedentes na história europeia contemporânea” leve à “exaustão” dos cidadãos e militares ucranianos “ou até que, terminada esta guerra, outra venha a ser lançada, por mão mais ou menos visível, porventura até contra um Estado-membro da NATO”, advertiu.
Vítor Sereno mencionou ainda desafios paralelos que mostram como é necessário reinvestir na defesa e segurança, entre os quais a intensificação de “múltiplos” focos de ameaça digital (sabotagem, ciberataques e/ou desinformação).
Então, qual é o papel das secretas neste contexto? “Logo à partida, cabe à Intelligence compreender o contexto global que nos rodeia e a forma como interage, condiciona e afeta o entorno nacional”, explicou o secretário-geral do SIRP, garantindo à audiência que a ação destes serviços “é sempre conduzida no pleno respeito pela Constituição e pelos valores que a enformam”.
Em termos de documentos orientadores das políticas públicas, Vítor Sereno deu como exemplos o Relatório Niinistö, publicado em outubro de 2024, e o Livro Branco da Defesa, de março deste ano, além do Relatório Draghi sobre o futuro da competitividade europeia. A propósito deste trabalho do ex-primeiro ministro italiano e antigo presidente do BCE, Vítor Sereno referiu que “exorta a Europa – e Portugal, naturalmente – a repensar o seu modelo económico e estratégico face aos desafios do nosso tempo” com “clareza e ambição”.
A terceira edição da conferência ECO dedicada ao Relatório Draghi parte da declaração do ex-presidente do BCE Mario Draghi sobre defesa europeia: “A Europa tem de reagir a um mundo de geopolítica menos estável, no qual as dependências se estão a transformar em vulnerabilidades, e não pode continuar a depender de outros para a sua segurança”. Declarações proferidas meses antes da nova administração ter chegado à Casa Branca, que deu mais relevância ao tema quer numa perspetiva militar quer ao nível da independência estratégica nas matérias-primas e cadeias de abastecimento.