Samuel de Saboia sobre álbum: “Sempre gostei de tudo que me tirasse da realidade”
Por Jose Antonio Algodoal Aos 27 anos, Samuel de Saboia já trilha um caminho notável no circuito das artes visuais. Com traços intensos e uma pintura carregada de expressão, o artista multidisciplinar pernambucano vem conquistando espaço em instituições internacionais — no ano passado, tornou-se o mais jovem a integrar as coleções do Los Angeles Contemporary […] O post Samuel de Saboia sobre álbum: “Sempre gostei de tudo que me tirasse da realidade” apareceu primeiro em Harper's Bazaar » Moda, beleza e estilo de vida em um só site.


Foto: Rafael Pavarotti
Por Jose Antonio Algodoal
Aos 27 anos, Samuel de Saboia já trilha um caminho notável no circuito das artes visuais. Com traços intensos e uma pintura carregada de expressão, o artista multidisciplinar pernambucano vem conquistando espaço em instituições internacionais — no ano passado, tornou-se o mais jovem a integrar as coleções do Los Angeles Contemporary Art Museum (LACMA) e do Museo Thyssen-Bornemisza, em Madrid. Entre passagens por Paris, onde participou da primeira residência artística do novo braço criativo da Comme des Garçons, e colaborações com grifes como Dior, Prada e Calvin Klein, Samuel também mantém diálogos constantes com publicações britânicas e marcas independentes como a VEHR.
Sempre inquieto, animado e notadamente apaixonado por tudo o que faz, Samuel agora amplia ainda mais sua expressão artística com o lançamento de seu primeiro álbum, As Noites Estão Cada Dia Mais Claras. “Esse título vem de uma experiência muito própria, assim, do meu ritmo de trabalho. Durante a gravação, eu tive algumas pontes aéreas e teve uma muito específica, porque eu fiz Salvador, Paris, Tóquio e então eu voltei para São Paulo. E dentro desse processo, eu me vi vivendo umas noites sem fim. Eu chegava, entrava no fuso horário, saia em outro completamente diferente. Os meus dias se tornaram loops. E eu fui vendo que era nesse pedaço de noite que me sobrava, onde eu tentava encaixar o sono, que muitas ideias apareciam. E aí, eu me vi em um estado que não era insônia, era simplesmente uma reconexão, um re-entendimento dessa luz que existe só de noite, né? Dessa clareza que existe dentro da cabeça, dentro do corpo”, explica o artista.

Foto: Rafael Pavarotti
Com dez faixas de estúdio e uma gravada ao vivo, o álbum explora as múltiplas influências de Samuel, que vão da brasilidade de músicos como Geraldo Azevedo, Novos Baianos, Timbalada até a psicodelia dos anos 1960. E toda essa mistura improvável, somada às letras poéticas e pessoais, resultou em um trabalho consistente. E isso não aconteceu por acaso, desde o início Samuel fez questão de ter controle sobre sua obra: “Eu fiz toda a produção fonográfica porque já era um sonho que eu pagasse por tudo dentro desse álbum, eu queria completa liberdade. Não assinei com nenhum selo ou identidade que me tirasse os direitos que tivesse cessão de direitos, foi algo completamente estudado e decidido desde o começo”, diz o Samuel, que também assinou a direção musical e os arranjos.
Embora esse seja o álbum de estreia, a música não é exatamente uma novidade em sua vida. “Eu carrego umas histórias de palco que ninguém sabe, umas inserções que ninguém viu. Muita coisa aconteceu literalmente na noite, a portas fechadas, com grupos de pessoas — e isso tudo virou parte dessa identidade, inclusive espiritual, que agora sente necessidade de aparecer”, conta ele. Sobre a formação musical, relembra: “Volta à grande clássica da igreja, meus pais pastores tocando e cantando desde que eu tinha uns dez, 11 anos. Mas além disso, vi dentro de casa e da cena recifense — meus pais sempre cantaram para si. A gente sempre teve essa ritualística, desde o mais simples, lavando um prato ou arrumando algo, até altas horas da noite. Eu vivi cenas muito específicas: na segunda, ia pro Edifício Texas; na terça, pra Terça do Vinil; na quarta, pro culto; na quinta, tocava escondido com identidade falsa na Batekoo de Recife — eu era um dos DJs.”

Foto: Rafael Pavarotti
Esse envolvimento com a música — e com a cidade — era constante. “Na sexta, saía pro bar da Kelly, depois um sarau, uma calourada. No sábado tinha Clube do Livro, no domingo, Marco Zero. E entre tudo isso, sempre teve festival, tudo que fazia a música ecoar na cidade — e eu fazia questão de estar”, afirma Samuel. Para ele, tudo isso também é sobre resistência: “Até 2010, ser preto no Brasil não era algo interessante dentro de uma lógica financeira, estatística, de presença, de letramento. Já aconteciam grandes revoluções, mas fora das grandes mídias. Depois de 2010, veio esse acesso, essa lembrança de que somos um país preto, indígena, historicamente, culturalmente e espiritualmente diverso. Sempre gostei de tudo que me tirasse dessa dureza da realidade. Fui mergulhando. Comecei a escutar música muito cedo.”
SOBRE O ÁLBUM
Iniciando com a faixa Vingança Colorida, com sabor de anos 1970, As Noites Estão Cada Dia Mais Claras passa pela contemporaneidade de Deusa dos Prazeres Bobos, a deliciosa psicodelia dançante de Meteoros de Haxixe, a densidade de Sangue, a suavidade de Amigo e Rei de Nada e revela que esse é um álbum que merece ser ouvido de uma vez, como uma obra íntegra. Ele já está disponível digitalmente nas plataformas de streaming, mas Samuel revela que em breve teremos notícias sobre os formatos físicos, pois já pensa em uma prensagem de vinil e um lançamento em fita cassete. No momento a prioridade é o show de lançamento, que acontecerá no dia 5 de junho na Casa de Francisca, em São Paulo e que provavelmente será o primeiro de muitos.
“Já já vou saber como é que é esse negócio ao vivo mas já tenho sonhos com o figurino que a gente vai usar na turnê do Japão”, diz Samuel, e conhecendo sua determinação sabemos que ele está falando sério. “Eu não fui apadrinhado, fui receber a bênção do Caetano só dois anos atrás quando a Regina Casé me levou na casa dele para ele dar um beijo na minha mão. Eu tive além de tudo o desejo de tornar as coisas reais. Sei o quanto sou abençoado por Deus, quanto sou guiado pelos meus orixás, pelos meus ancestrais isso é algo com o qual eu tenho completo acordo. Mas nada acontece se se não existe vontade. O desejo quando bem usado ele é uma força motora incrível. Ele é realmente uma coisa formidável. Mas desejo sem movimento não é nada”.

Foto: Rafael Pavarotti
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