Retaliações à guerra comercial de Trump, dados de inflação nos EUA e incertezas sobre a economia global: veja os destaques desta quinta-feira (13)

A paciência com as medidas tarifárias de Donald Trump parece estar se esgotando nas economias globais. Leia mais. O post Retaliações à guerra comercial de Trump, dados de inflação nos EUA e incertezas sobre a economia global: veja os destaques desta quinta-feira (13) apareceu primeiro em Empiricus.

Mar 13, 2025 - 15:12
 0
Retaliações à guerra comercial de Trump, dados de inflação nos EUA e incertezas sobre a economia global: veja os destaques desta quinta-feira (13)

Lá fora, a paciência com Donald Trump está se esgotando, e as retaliações comerciais já começaram. O mais recente capítulo da guerra tarifária foi disparado quando o presidente americano decidiu avançar sobre o setor de aço e alumínio, atingindo aliados. A União Europeia e o Canadá agora se sentem traídos e já anunciaram suas contramedidas. O Brasil, também na linha de fogo, ainda aguarda um acordo semelhante ao de 2018 — a dúvida é se Trump está disposto a negociar ou se continuará dobrando a aposta no protecionismo. Esse ambiente de tensão comercial está aumentando o nível de incerteza sobre a economia global.

O impacto já se reflete nas bolsas asiáticas, que fecharam em queda nesta quinta-feira (13), enquanto os mercados europeus tentam, com pouco sucesso, recuperar as perdas do início do dia. O cenário segue volátil, com os investidores de olho nos dados de inflação ao produtor nos EUA. Depois de um CPI levemente abaixo do esperado, o PPI ganha ainda mais relevância, já que reflete diretamente o poder de precificação das empresas — um indicador importante para entender até que ponto tarifas e impostos comerciais estão sendo repassados ao longo da cadeia produtiva. 

· 00:57 — Algum sinal?

No Brasil, a inflação de fevereiro veio dentro das expectativas, mas isso não significa que o cenário seja confortável. O IPCA acelerou, impulsionado pelo efeito rebote da devolução do bônus de Itaipu, como falamos ontem, e já acumula mais de 5% em 12 meses. A tendência é que o índice siga subindo nos próximos meses, podendo romper a marca dos 6% antes de voltar a ceder no segundo semestre e fechar 2025 próximo de 5,5%. Embora qualitativamente o dado não tenha sido desastroso, a inflação continua sendo um problema persistente, com uma dinâmica que ainda preocupa.

Por outro lado, começam a surgir sinais de desaceleração da atividade econômica, o que poderia facilitar a vida do Banco Central no processo de corte de juros. O problema é que essa trajetória depende de um ajuste fiscal minimamente coordenado, e o governo parece caminhar na direção oposta. Ontem, por exemplo, Lula assinou a MP do Consignado Privado, um estímulo direto ao crédito que reforça a impressão de que o governo quer “acelerar com o freio de mão puxado”. Enquanto o BC tenta conter a inflação, o Planalto flerta com medidas heterodoxas que jogam na direção contrária.

Ainda na novela do ajuste fiscal, finalmente tivemos um sinal de vida do Orçamento de 2025, que segue sem aprovação – um feito notável, considerando que já estamos no fim do primeiro trimestre. A notícia não foi das piores, mas também não há muito o que comemorar. O governo anunciou um corte de R$ 7,7 bilhões no Bolsa Família para fechar as contas do ano que vem, mas a realidade é menos austera do que parece. O valor inclui a incorporação do Vale Gás, estimado em R$ 3 bilhões, e o corte no Bolsa Família reflete o pente-fino realizado no programa no ano passado, parte do pacote de contenção de despesas. Ou seja, nada muito além do esperado. Pelo menos, é uma evolução em relação ao pacote fiscal do ano passado, que previa uma redução bem mais modesta, de R$ 2 bilhões, na despesa com o Bolsa Família em 2025.

Mas, como sempre, há um porém: os gastos com benefícios previdenciários foram ampliados em R$ 8 bilhões, e o programa Pé-de-Meia não foi incluído. No saldo final, continuamos praticamente no mesmo lugar, sem um ajuste estrutural real. Mais cedo ou mais tarde, novas medidas serão necessárias. Em meio a esse cenário, Lula voltou a colecionar falas trágicas, mais uma vez sobre mulheres – algo que pode custar ainda mais popularidade entre esse público e entre os jovens nas próximas pesquisas. No entanto, em um raro momento de lucidez econômica, ele fez um aceno ao ministro Fernando Haddad e defendeu um certo pragmatismo fiscal. Modesta alívio, mas ainda insuficiente. Agora, resta saber se esse discurso será traduzido em ações concretas.

  • VEJA TAMBÉM: Ação de petroleira mais ‘eficiente’ do mercado brasileiro está na carteira mensal de analista da Empiricus; descubra qual é

· 01:45 — Direção

Nos EUA, a inflação abaixo do esperado deu carta branca para Wall Street retomar o apetite por risco, impulsionando ativos que haviam sido duramente penalizados nos últimos pregões. O Nasdaq Composite, referência para o setor de tecnologia, avançou 1,2%, enquanto o S&P 500 subiu 0,5%. A recuperação foi capitaneada por papéis que haviam sido massacrados recentemente, com destaque para Tesla, Micron Technology, Palantir Technologies, Vistra e Nvidia. Aparentemente, o mercado encontrou uma nova rotação, puxando os nomes que mais sofreram desde a máxima em 19 de fevereiro.

Curiosamente, os rendimentos dos títulos do Tesouro também avançaram, mesmo com o índice de preços ao consumidor (CPI) de fevereiro registrando uma alta mensal de apenas 0,2%, abaixo da expectativa de 0,3%. A reação dos preços futuros foi contraditória: enquanto o alívio na inflação deveria reforçar apostas em cortes de juros, as probabilidades implícitas nos mercados indicaram uma redução na expectativa de afrouxamento monetário. Um dos fatores que ajudou a puxar o CPI para baixo foi a queda nos preços das passagens aéreas – um componente altamente volátil, o que reduz a confiabilidade da leitura como um termômetro das tendências inflacionárias.

Ainda assim, a leitura abre espaço para pelo menos um ou dois cortes na taxa de juros no segundo semestre, dependendo da evolução do cenário macroeconômico. Para complementar o quadro, hoje teremos a divulgação da inflação ao produtor (PPI), que pode ajudar a calibrar as expectativas sobre a trajetória da política monetária.

· 02:33 — Retaliou

A União Europeia e o Canadá decidiram responder na mesma moeda às tarifas adicionais de Donald Trump sobre o aço e o alumínio importados. Como retaliação, ambos anunciaram uma enxurrada de impostos sobre produtos americanos, totalizando dezenas de bilhões de dólares. A UE, por exemplo, começará a taxar US$ 28 bilhões em bens dos EUA a partir de 1º de abril, atingindo setores icônicos como uísque e motocicletas. Mas não para por aí – um segundo pacote tarifário, previsto para meados de abril, deverá penalizar aves, soja e outros produtos agrícolas.

Já o Canadá não ficou para trás e respondeu na mesma moeda, impondo tarifas recíprocas de 25% sobre produtos siderúrgicos, além de aumentar impostos sobre ferramentas, computadores, equipamentos esportivos e uma série de outros bens, totalizando US$ 20,8 bilhões. A represália não era uma questão de “se”, mas de “quando”, e a escalada da guerra comercial agora ganha novos contornos.

Trump, por sua vez, já sinalizou sua próxima jogada: tarifas sobre os carros europeus, provavelmente no dia 2 de abril, num jogo de xadrez tarifário que ninguém parece saber onde vai parar. O problema central, porém, não é só a retaliação dos parceiros comerciais, mas o impacto dessa estratégia na economia americana. Se essa política se mostrar inflacionária e recessiva, como tudo indica, o Federal Reserve será forçado a equilibrar a corda bamba entre o risco de estagflação e a necessidade de cortes de juros. O mercado já entrou em modo de proteção – e com razão.

· 03:21 — Ele estava falando sério

Quando Trump mencionou seu interesse no Canal do Panamá, poucos levaram a sério. Pois bem, deveriam. Ele estava falando sério – e já encontrou um caminho para colocar sua influência na região. O plano? A BlackRock está adquirindo dois portos estratégicos no Canal do Panamá, Balboa e Cristóbal, que foram desinvestidos pelo conglomerado CK Hutchinson Holdings, de Hong Kong. E não para por aí: o pacote inclui outras 40 instalações portuárias em um acordo bilionário de US$ 19 bilhões.

O que forçou essa mudança? A crescente pressão sobre os proprietários da CK Hutchinson, diante do aumento das tensões sobre o canal e das declarações incisivas de Trump sobre a administração da infraestrutura. Como resultado, o Goldman Sachs entrou na jogada para intermediar o negócio, assim que o consórcio liderado pela BlackRock sinalizou interesse nos ativos, colocando o plano de Trump em ação.

O curioso é que Trump celebrou a movimentação, mas sem mencionar diretamente que foi a BlackRock quem comprou – afinal, sua base mais ideológica e conspiracionista tem uma aversão irracional à gestora. De qualquer forma, o recado está dado: Trump tem ambições reais sobre o Panamá, e esse é apenas o primeiro lance de uma estratégia mais ampla. Devemos ficar atentos aos próximos passos (Groenlândia?).

· 04:12 — Há espaço para a China driblar sua recessão de balanço?

A recente flexibilização da política monetária e fiscal na China parece ter injetado algum fôlego na economia, mas a grande questão continua no ar: será o suficiente para restaurar de forma sustentável a confiança das empresas privadas e das famílias? Afinal, com um setor privado altamente endividado e priorizando a acumulação de caixa em vez de gastar ou investir, a China se viu presa em uma recessão de balanço nos últimos anos. E esse tipo de recessão tem uma particularidade incômoda: a política monetária convencional se torna praticamente inútil (vide caso japonês).

Enquanto o setor privado estiver focado em reparar seus balanços, cabe ao setor público intervir, absorver o excesso de poupança e direcionar investimentos estratégicos para evitar uma espiral deflacionária potencialmente catastrófica. Em outras palavras, estímulo fiscal não é apenas desejável – é essencial para evitar que o crescimento nominal do PIB entre em colapso. Para piorar, a China enfrenta ventos contrários estruturais, resultado de tendências demográficas e econômicas adversas, o que reforça nossa visão cautelosa sobre os mercados de capitais do país.

Ainda assim, alguns eventos recentes – como o avanço do DeepSeek e uma leve melhora em certos indicadores econômicos – têm ajudado o mercado a reagir, entregando altas não vistas há anos. A dúvida agora é se esses ganhos são estruturais ou apenas um respiro temporário antes de outra onda de desilusão. Para que a recuperação seja mais do que um soluço, Pequim precisará continuar despejando estímulos na economia. A questão é: o governo está disposto a pagar essa conta?

· 05:06 — Oportunidade estruturada para alta dobrada com barreira no mercado brasileiro

O mercado já se acostumou com a ideia de que o Brasil está barato — e isso não é de hoje. Após um desempenho particularmente desastroso dos ativos locais no ano passado, essa percepção de desconto ficou ainda mais evidente. Mas a grande questão não é apenas reconhecer que o Brasil está barato, e sim determinar se ele permanecerá assim indefinidamente, aprofundando ainda mais a desvalorização, ou se, em algum momento, veremos uma correção para patamares mais justos, quem sabe até entrando em um cenário de sobrevalorização.

O post Retaliações à guerra comercial de Trump, dados de inflação nos EUA e incertezas sobre a economia global: veja os destaques desta quinta-feira (13) apareceu primeiro em Empiricus.