O que significa o termo redpill?

O termo redpill vem do inglês e significa “pílula vermelha”. A expressão ganhou popularidade a partir do filme Matrix (1999), em que o personagem principal é convidado a “acordar para a realidade” ao tomar uma pílula vermelha. Nas mídias sociais e fóruns da internet, especialmente a partir dos anos 2010, o termo passou a ser […]

Abr 9, 2025 - 10:45
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O que significa o termo redpill?

O termo redpill vem do inglês e significa “pílula vermelha”. A expressão ganhou popularidade a partir do filme Matrix (1999), em que o personagem principal é convidado a “acordar para a realidade” ao tomar uma pílula vermelha.

Nas mídias sociais e fóruns da internet, especialmente a partir dos anos 2010, o termo passou a ser ressignificado em comunidades virtuais, muitas vezes com foco em debates sobre masculinidade, comportamento social e críticas aos valores progressistas.

Em 2025, a série Adolescência, disponível na Netflix, retomou o debate sobre termos como incel e redpill.

Mas o que exatamente significa redpill?

Neste texto, a Politize! te ajuda a entender o termo, sua origem, seus desdobramentos na internet e as diferentes formas como ele é interpretado e utilizado.

O que é e o que defende o redpill?

No contexto atual, redpill é um movimento, ou conjunto de ideias, que se define como “realista” quanto às relações de gênero. 

Assim, os redpillers afirmam que os homens perderam espaço ou poder social diante das conquistas femininas nas últimas décadas e, por isso, precisariam “despertar” para essa nova realidade e agir de forma estratégica para recuperar sua autoestima, autonomia e “posição natural” na sociedade.

Entre os principais pilares do pensamento redpill, destacam-se:

  • Realismo social: apontam que “enxergam o mundo como ele realmente é”, sem supostas “ilusões” do discurso progressista;
  • Masculinismo: valorização de traços considerados tradicionalmente masculinos, como força, liderança, racionalidade e controle emocional;
  • Críticas ao feminismo: parte do movimento entende que o feminismo teria ultrapassado sua função original de promover igualdade, favorecendo mulheres em detrimento dos homens;
  • Dinâmicas de poder nas relações afetivas: há a defesa de que, nas relações amorosas e/ou sexuais, os homens precisam adotar comportamentos considerados de “macho-alfa” para serem valorizados e respeitados.

Veja também: Movimento feminista: história no Brasil

Como surgiu o movimento redpill?

O termo redpill (pílula vermelha, em tradução literal), surgiu no universo do cinema, em uma cena do filme Matrix (1999), em que o protagonista da trama precisa escolher entre duas opções: a pílula azul, que o mantém preso a uma realidade ilusória, ou a pílula vermelha, que o desperta para a realidade, ainda que desconfortável.

Com o tempo, esse conceito foi apropriado por comunidades online e passou a representar uma forma de “despertar” para visões alternativas sobre a sociedade.

Assim, o movimento se intensificou em fóruns online internacionais no início dos anos 2000, principalmente em plataformas como Reddit e 4chan. Inicialmente, o termo era usado para representar uma “tomada de consciência” sobre dinâmicas sociais e políticas. 

Com o tempo, no entanto, a expressão foi apropriada por comunidades que discutiam gênero e masculinidade, muitas vezes de forma crítica ao feminismo e às mudanças nos papéis de gênero.

Esses fóruns deram origem a uma subcultura que se consolidou com base em experiências compartilhadas por homens que se sentiam insatisfeitos ou desorientados diante das transformações sociais. 

A ideia de “acordar para a realidade” passou a ser associada à percepção de que os homens estariam perdendo espaço ou poder, especialmente nas relações afetivas e nos ambientes institucionais.

Recipiente com duas pílulas: redpill e bluepill.
Imagem: Freepik.

O que redpill tem a ver com masculinismo?

O movimento redpill está diretamente ligado ao masculinismo, um conjunto de ideias e práticas que busca valorizar ou resgatar papéis sociais considerados tradicionalmente masculinos. 

Para os redpillers, o masculinismo oferece uma estrutura teórica que justifica a necessidade de reequilibrar as relações de gênero. Argumenta-se que a cultura contemporânea teria se tornado excessivamente crítica aos homens, favorecendo as mulheres na vida privada e na esfera pública.

Nesse contexto, os conteúdos redpill reforçam conceitos como “macho-alfa”, hierarquia sexual e sucesso financeiro como formas de reafirmar a masculinidade. 

Apesar disso, nem todos os redpillers se identificam explicitamente como masculinistas

O que dizem os redpill?

Os discursos redpill giram em torno da ideia de que os homens estão sendo enganados ou manipulados por um sistema que favorece as mulheres. Entre os principais argumentos usados pelo movimento, destacam-se:

  • A ideia de que as mulheres ganharam mais poder social do que os homens, especialmente nas relações afetivas;
  • A crítica a homens que demonstram vulnerabilidade emocional, rotulados como “betas” ou “fracos”;
  • A defesa do “macho-alfa” como ideal de comportamento masculino, centrado em liderança, força, desapego emocional e domínio;
  • A visão de que o feminismo contemporâneo teria ultrapassado sua função original de buscar igualdade e estaria agora promovendo “privilégios femininos”;
  • A ênfase em estratégias de sedução, status financeiro e hierarquia entre os gêneros como forma de “retomar” o poder masculino.

Essas ideias são compartilhadas em vídeos, fóruns e redes sociais, geralmente em formatos curtos, com linguagem direta e impactante, voltada ao público jovem masculino. Em muitos casos, o conteúdo apela para o senso de urgência e frustração de homens que enfrentam dificuldades em suas vidas afetivas ou profissionais.

O que dizem os críticos aos redpill?

Os críticos ao movimento redpill apontam diversos problemas em sua abordagem, principalmente pela forma como ele generaliza comportamentos e reforça estereótipos nocivos de gênero

Para especialistas em psicologia, educação e estudos de gênero, o conteúdo redpill pode influenciar negativamente jovens em formação, criando percepções distorcidas sobre relações humanas, afetividade e igualdade.

Entre as principais críticas estão:

  • A visão reducionista das mulheres, frequentemente retratadas como manipuladoras ou oportunistas;
  • A romantização de comportamentos autoritários e a repressão emocional dos homens como sinal de força;
  • O uso de uma narrativa conspiratória, que transforma avanços sociais em ameaças à masculinidade;
  • A deslegitimação do feminismo, ignorando seus impactos positivos em prol da equidade de direitos;
  • O risco de alimentar discursos de ódio e intolerância, especialmente em ambientes online pouco regulados.

Educadores também alertam para o papel das redes sociais na disseminação dessas ideias, destacando a necessidade de promover uma educação crítica sobre masculinidade, relações de gênero e empatia.

Movimento redpill no Brasil 

No Brasil, o movimento redpill começou a ganhar visibilidade a partir da década de 2010, especialmente em espaços digitais como fóruns, mídias sociais e canais de vídeo. Embora o conceito tenha origem internacional, ele destacou rapidamente ao se conectar com discussões sobre masculinidade, política, identidade de gênero e disputas culturais.

Um dos primeiros momentos de destaque público dos discursos ligados ao masculinismo no país envolveu o caso da professora e feminista Lola Aronovich, que passou a receber ameaças após criticar conteúdos que considerava misóginos em seu blog “Escreva, Lola, escreva”.

A partir dali, observou-se uma intensificação de postagens online que promovem ideias antagônicas ao feminismo e aos debates sobre equidade de gênero.

Esses discursos começaram a se expandir não apenas em perfis anônimos, mas também por meio de figuras públicas e influenciadores com grande alcance. 

Esses criadores de conteúdo passaram a produzir e disseminar conteúdos amplamente consumidos, especialmente entre o público jovem. 

Um exemplo desse tipo de conteúdo é o do influenciador Thiago Schutz, administrador da página Manual Redpill Brasil, que viralizou com vídeo em que exemplifica suposta manipulação de uma mulher que oferece cerveja a um homem que bebe Campari.

Muitos desses criadores se apresentam como mentores, “coaches de masculinidade”, criando vídeos e cortes de entrevistas em mesacasts, onde defendem ideias sobre hierarquia de gênero, valores masculinos e estratégias de comportamento nas relações amorosas.

E aí, conseguiu entender o que significa o termo redpill? Deixe suas dúvidas e opiniões nos comentários!

Este texto foi publicado oficialmente em 12/09/2023, atualizado em 08/04/2025.

Referências: