No Brasil, 93% das mulheres contribuem financeiramente para o lar

Elas são as maiores responsáveis pela saúde financeira do lar em um país com alta desigualdade de gênero e classe

Abr 11, 2025 - 13:25
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No Brasil, 93% das mulheres contribuem financeiramente para o lar

Estou de mudança. Eu e meu filho vamos trocar de apartamento. Neste final de semana, ele está com o pai. Neste final de semana, eu preciso colocar toda a minha casa em caixas e sacos. Poderia ser algo mecânico, com a ajuda dos amigos que ofereceram os braços. Mas, não sei o que quero guardar do velho, o que preciso levar para o novo, minha cabeça não pensa no tempo da resposta esperada pelo outro. Decido fazer sozinha.  

Bate aquela vontade de começar do zero. Muita coisa não abandonei com medo de precisar no futuro, para economizar na posterioridade. É o caso da roupa de frio e do edredom gigante e pesado. Também não me livrei de antiguidades por inércia em procurar um novo destino: é o caso do forninho elétrico, da torre do computador e do cabideiro no canto do quarto, sempre cheio de roupas que deveriam estar no armário. Me incomoda todo santo dia. 

Ser a única responsável financeiramente pela família é carregar medos que muitas de nós conhecemos bem — ainda que nem sempre os admitamos para nós mesmas. Não tem como fugir, estão ali, nem que seja em uma das gavetas do inconsciente. E penso que não estou sozinha.

Uma pesquisa mostrou que hoje, no Brasil, 93% das mulheres contribuem financeiramente para suas famílias, e 33% delas carregam essa responsabilidade sozinha.

Não quer dizer, claro, que toda mulher que é a única responsável pelas finanças da família não tenha com quem compartilhar decisões. Por outro lado, também não podemos descartar que muitas das escolhas são, sim, solitárias.

Essa pesquisa foi realizada pela Serasa em parceria com a Opinion Box. E, para completar esse contexto, um outro recorte chama atenção: quanto menor a classe, maior a responsabilidade nas mãos das mulheres. Enquanto apenas 18% das mulheres de alta renda são as únicas responsáveis, o número sobe para 43% entre as de baixa renda. A desigualdade de gênero e de classe dói. 

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Dinheiro é uma questão, precisamos olhar para o bolso de todas, se quisermos ver maior equidade no país. Oito em cada dez mulheres buscaram crédito no último ano, mas a maioria teve o pedido negado. Elas queriam pagar uma despesa inesperada (26%), pagar dívidas de cartão de crédito (22%) e limpar o nome (21%), entre outros preocupantes motivos.

Em relação aos mais recorrentes objetivos financeiros das mulheres, informou a Serasa, 36% das mulheres entrevistadas querem comprar a casa própria; o mesmo tanto, outros 36%, querem pagar suas dívidas; e 35% gostariam de conquistar a segurança financeira. 

É aí que mora o trabalho extra que consome a rotina. A tal informalidade, segundo a pesquisa, mostra-se necessária para sustentar as contas da casa: sete em cada dez mulheres já realizaram algum trabalho informal para complementar a renda.

Penso nisso enquanto olho para as caixas abertas. A mudança de um apartamento para outro é mais do que embalar e transportá-las. Umas guardam apenas objetos, outras carregam o peso invisível de tudo o que hesitamos deixar para trás: o que pode ser útil mais adiante, o que é preciso desapegar, o que faz sentido continuar carregando.

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No fim, coloco o edredom gigante na pilha. Não porque preciso dele agora, mas porque sei que um dia ele pode nos aquecer. Algumas escolhas são assim: solitárias, pesadas, estratégicas. 

Porque, no final das contas, toda mudança é isso: um equilíbrio delicado entre o que pesa e o que aquece, entre o que soltamos e o que seguramos para seguir em frente. 

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