Nem no 13 de Maio se safam
Caravaggio, 1594, I bari (Os trapaceiros) O resultado da sondagem do Barómetro DN/Aximage não engana. E mostra a consistência do juízo que os portugueses fazem dos seus dirigentes políticos. "[N]ão há um líder partidário com saldo positivo". Estão ali, em São Bento ou na Gomes Teixeira, como podiam estar ao balcão de um banco, a receber formulários numa repartição qualquer, a tirar cafés ou a servir imperiais na tasca do pai. São consistentemente maus aos olhos dos seus concidadãos para as funções que querem desempenhar. Mas estão convencidos de que nasceram para aquilo. Até tratarem da vidinha. Incapazes de melhorarem a sua imagem, de apresentarem desempenhos decentes ou de suscitarem algum aplauso. Os seus discursos vão permanentemente do irado ao monocórdico. São repetitivos, repletos de banalidades, desligados da realidade e das verdadeiras preocupações dos portugueses, recheados de frases feitas e lugares-comuns. A grande pobreza vocabular das suas intervenções, o nível da linguagem, espelham a sua insuficiência formativa, o afastamento da realidade nacional, a falta de talento para a direcção política, a total ausência de carisma e de capacidade mobilizadora. Nunca políticos carreiristas, semi-ignorantes, cábulas e com espírito de funcionário poderão alguma vez mobilizar um país, erguê-lo da mediocridade em que medra de eleição em eleição. Ainda que a população fosse exclusivamente composta por bimbos com "sonhos de menino", o desencanto seria sempre o mesmo. E isto já não é sina. É uma escolha consciente. Porque até as crianças se recusam a nascer. E mesmo os mais capazes se conformam para não terem chatices e não se incompatibilizarem com os vizinhos. Assim vamos seguindo, sem chama, sem apelo, sem horizonte, empurrando com a barriga, escovando os fatos, mudando a naftalina, seguindo atrás de uma elite de moribundos alegres. Tivéssemos nós um Rimbaud e teria desertado para Java. Como um foi para a Índia e o outro para Macau. Para não terem de nos aturar. Cumprem obrigações como quem vai à missa dominical, virando as folhas do calendário, celebrando os aniversários, respeitando veneradamente as efemérides, sabendo que a seguir à Primavera virá o Verão, depois o Outono, antes de chegar o Inverno, enquanto se ensaia a ladainha seguinte e se cumpre a promessa ao longo da berma das estradas. E no final dar-se-á à volta para que tudo se repita de novo. Com os mesmos e nos mesmos dias para que não se perturbe a paz dos mortos e a conformação dos vivos. Venha então de lá o Dez de Junho.

Caravaggio, 1594, I bari (Os trapaceiros)
O resultado da sondagem do Barómetro DN/Aximage não engana. E mostra a consistência do juízo que os portugueses fazem dos seus dirigentes políticos. "[N]ão há um líder partidário com saldo positivo".
Estão ali, em São Bento ou na Gomes Teixeira, como podiam estar ao balcão de um banco, a receber formulários numa repartição qualquer, a tirar cafés ou a servir imperiais na tasca do pai.
São consistentemente maus aos olhos dos seus concidadãos para as funções que querem desempenhar. Mas estão convencidos de que nasceram para aquilo. Até tratarem da vidinha.
Incapazes de melhorarem a sua imagem, de apresentarem desempenhos decentes ou de suscitarem algum aplauso.
Os seus discursos vão permanentemente do irado ao monocórdico. São repetitivos, repletos de banalidades, desligados da realidade e das verdadeiras preocupações dos portugueses, recheados de frases feitas e lugares-comuns.
A grande pobreza vocabular das suas intervenções, o nível da linguagem, espelham a sua insuficiência formativa, o afastamento da realidade nacional, a falta de talento para a direcção política, a total ausência de carisma e de capacidade mobilizadora.
Nunca políticos carreiristas, semi-ignorantes, cábulas e com espírito de funcionário poderão alguma vez mobilizar um país, erguê-lo da mediocridade em que medra de eleição em eleição.
Ainda que a população fosse exclusivamente composta por bimbos com "sonhos de menino", o desencanto seria sempre o mesmo.
E isto já não é sina. É uma escolha consciente.
Porque até as crianças se recusam a nascer. E mesmo os mais capazes se conformam para não terem chatices e não se incompatibilizarem com os vizinhos.
Assim vamos seguindo, sem chama, sem apelo, sem horizonte, empurrando com a barriga, escovando os fatos, mudando a naftalina, seguindo atrás de uma elite de moribundos alegres.
Tivéssemos nós um Rimbaud e teria desertado para Java. Como um foi para a Índia e o outro para Macau. Para não terem de nos aturar.
Cumprem obrigações como quem vai à missa dominical, virando as folhas do calendário, celebrando os aniversários, respeitando veneradamente as efemérides, sabendo que a seguir à Primavera virá o Verão, depois o Outono, antes de chegar o Inverno, enquanto se ensaia a ladainha seguinte e se cumpre a promessa ao longo da berma das estradas.
E no final dar-se-á à volta para que tudo se repita de novo. Com os mesmos e nos mesmos dias para que não se perturbe a paz dos mortos e a conformação dos vivos.
Venha então de lá o Dez de Junho.