Menores de idade viram entregador de apps

Adolescentes da periferia de São Paulo, com idades abaixo dos 18 anos, burlam regras de cadastro e se arriscam trabalhando para aplicativos de delivery. Os entregadores utilizam métodos irregulares ou, como eles mesmos dizem, “fazem uma gambiarra” para driblar as regras im...

Fev 17, 2025 - 12:45
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Menores de idade viram entregador de apps

Adolescentes da periferia de São Paulo, com idades abaixo dos 18 anos, burlam regras de cadastro e se arriscam trabalhando para aplicativos de delivery.

Os entregadores utilizam métodos irregulares ou, como eles mesmos dizem, “fazem uma gambiarra” para driblar as regras impostas por empresas como iFood e Rappi no momento do cadastro. 

O problema foi revelado por uma matéria do site Repórter Brasil, que, embora não chegue a trazer dados exatos da extensão do problema, sim aponta indícios de uma prática difundida e fora do controle dos aplicativos. 

O perfil típico do menor entregador é um jovem da periferia  usando uma bicicleta, uma vez que, para dirigir uma moto é necessário ter 18 anos e possuir CNH.

O modo mais simples de começar a “trabalhar” é criar uma conta falsa, utilizando documentos de irmãos mais velhos, familiares — como pais — ou amigos. 

Em alguns casos, perfis de pessoas maiores de idade são alugados para que os adolescentes possam atuar como entregadores.

Um dos adolescentes relatou que chegava a pagar R$ 50 por semana para uma pessoa que alugava seus dados para ele.

Passada essa fase, há a exigência do reconhecimento facial, um requisito das plataformas. No entanto, muitos relatam que também há artimanhas para burlar essa exigência.

Alguns carregam no celular fotos das pessoas reais donas das contas. Se o cadastro exigisse apenas o envio de uma foto, o adolescente enviava a imagem armazenada no momento solicitado.

Quando a exigência era tirar uma foto em tempo real, o adolescente, já ciente dessa possibilidade, andava com um celular adicional contendo a foto da pessoa maior de idade. 

Bastava posicionar um aparelho diante do outro para que a biometria fosse reconhecida.

Muitos desses aplicativos exigem o reconhecimento facial diariamente, geralmente após a primeira entrega. 

Sabendo disso, alguns adolescentes realizavam a primeira entrega perto da residência da pessoa que cedeu os dados e, quando solicitado, iam até a casa dela para fazer a foto.

Todas essas dicas eram compartilhadas abertamente por esses adolescentes em redes sociais, com vídeos e pequenos tutoriais no YouTube e no TikTok.

Para esses jovens, a tática ilegal compensa. Muitos trabalham de 6 a 14 horas por dia, faturando entre R$ 150 e R$ 200, desde que atinjam o score e a métrica que avalia o desempenho dos entregadores, como pontualidade, taxa de entrega e avaliação dos clientes. Quanto mais rápido, mais entregas ficam disponíveis para eles.

As empresas citadas na reportagem afirmam que aprimoraram o controle rigoroso no cadastro dos entregadores, deixando clara a proibição do cadastro de menores de 18 anos e incentivando denúncias em suas contas oficiais.

O iFood informou que utiliza medidas robustas para impedir fraudes e que sua tecnologia de biometria facial, com uso de inteligência artificial, está cada vez mais precisa no bloqueio de tentativas de falsificação com fotos de terceiros.

Já a Rappi sinalizou que a foto enviada pelo entregador passa por um avançado software que garante a segurança do ecossistema. Se houver identificação de fraude, o bloqueio ocorre imediatamente.

Ambas as empresas ressaltam que quem empresta ou aluga perfis comete crime de falsidade ideológica. Além disso, o entregador se expõe a riscos físicos e econômicos, pois, em caso de acidente, não poderá solicitar o seguro.

O Ministério Público do Trabalho (MPT) reconhece que houve avanços no combate ao trabalho infantil por parte das empresas de delivery, mas frisa que é necessário aprimorar constantemente as soluções para identificar irregularidades.

O MPT também reforça que estabelecimentos que identificarem entregadores menores de idade devem denunciá-los nos canais oficiais dos aplicativos. Caso contrário, podem ser autuados como cúmplices da ilegalidade.