Lucros da Sonae derrapam 37,5% em 2024
O grupo assinala, contudo, que os 223 milhões atingidos no final do exercício representariam um crescimento de 18% “se excluída a mais-valia de 168 milhões registada em 2023 com a venda da participação no ISGR”.


O resultado líquido atribuível aos acionistas do grupo Sonae atingiu 223 milhões de euros (M€), crescendo 18% se excluída a mais-valia de 168M€ registada em 2023 com a venda da participação no ISGR. Em 2023, o resultado líquido foi de 357 M€ – que comparava (eram mais 6,4%) com os 336 milhões registados em 2022. Os 223 M€ obtidos no final de 2024 são 37,5% menos que os 357 milhões inscritos nos indicadores financeiros de 2023.
Por outro lado, refere o grupo em comunicado enviado à CMVM, o volume de negócios consolidado cresceu 18%, para quase 10 mil milhões de euros, “com reforço das posições de liderança no retalho e investimento na expansão orgânica dos negócios e em movimentos estratégicos no portefólio, nomeadamente as aquisições da Musti e da Druni”.
O EBITDA superou os mil milhões de euros, crescendo 4% “com um sólido desempenho operacional dos negócios e a contribuição das empresas recém-adquiridas”. O EBITDA subjacente aumentou 26% no ano, para 908M€, “com fortes melhorias na rentabilidade operacional dos negócios e uma contribuição sólida das empresas recentemente adquiridas. Os resultados pelo método de equivalência patrimonial beneficiaram de melhores resultados da NOS (+57% em termos homólogos) e Sierra (+10% em termos homólogos), refletindo os seus desempenhos robustos e crescimento sustentado”.
O investimento consolidado atingiu o valor recorde de 1.589M€, “mais do que duplicando com aquisições e expansão e digitalização dos negócios”. O grupo refere ainda que 86% das linhas de financiamento de longo prazo estão indexadas a desempenho Sustentável, ‘Green’ ou ESG. E que a Sonae “prosseguiu no seu percurso com vista à neutralidade carbónica das suas operações em 2040, reduzindo as emissões de CO2 em 19% face a 2022, e aumentou para 90% o nível de embalagens plásticas recicláveis de produtos de marca própria”.
A proposta de dividendo de 5,921 cêntimos de euro por ação, o que corresponde a um dividend yield de 6,5% e a um payout ratio de 52% do resultado líquido consolidado atribuível ao grupo.
Comentado o balanço, Cláudia Azevedo, CEO da Sonae, disse, citada pelo comunicado, que “globalmente, todos os nossos negócios tiveram um desempenho excecional num contexto de elevada competitividade. Para além do desempenho sólido dos nossos negócios atuais, o ano também foi marcado por uma mudança significativa na configuração do nosso portefólio, possibilitando oportunidades importantes de crescimento e ampliando o nosso alcance geográfico. A aquisição da Musti, empresa líder no retalho de produtos e cuidados para animais de estimação, presente nos países nórdicos, permitiu à Sonae entrar num setor de grande crescimento. Da mesma forma, a fusão da Druni e da Arenal, duas empresas proeminentes no mercado espanhol de retalho de beleza, robusteceu a nossa proposta de valor na Península Ibérica”.
Em 2024 a Sonae prosseguiu com a sua estratégia ativa de gestão de portefólio, tendo realizado parcerias, aquisições e transações de ativos. No primeiro trimestre de 2024 (1T24) o consórcio liderado pela Sonae garantiu o controlo da Musti ao alcançar cerca de 81% do seu capital social, num investimento total de cerca de 700M€. A aquisição da Musti, líder no retalho de cuidados para animais de estimação nos nórdicos, representou um passo estratégico para expandir e internacionalizar o portefólio de retalho da Sonae, capitalizando num setor de elevado crescimento. A Musti foi consolidada nas contas da Sonae desde março.
No 2T24, a Sparkfood, subsidiária da Sonae, concluiu a aquisição de uma participação de 89,1% na BCF Life Sciences por 160,5M€. A BCF produz ingredientes para a indústria da nutrição através de um processo de produção inovador sustentado por várias patentes de propriedade intelectual e baseado em princípios de economia circular. A BCF foi consolidada nas contas da Sonae desde abril.
No 3T24, a MC concluiu a operação com os fundadores da Druni para a fusão da Druni com a Arenal, consolidando a posição da MC como líder ibérica no mercado de saúde, beleza e bem-estar e reforçando a sua estratégia de crescimento a longo prazo em Portugal e Espanha. A Druni foi consolidada nas contas da Sonae no 2S24.
No 4T24, a Musti adquiriu a Pet City, uma empresa líder no setor de retalho para animais de estimação e clínicas veterinárias nos países bálticos, assinalando o início da sua expansão internacional para além dos mercados nórdicos.
“O resultado líquido atribuível aos acionistas atingiu 223M€ em 2024, refletindo o crescimento e melhoria de desempenho dos negócios, o maior apoio às famílias, o aumento dos custos financeiros e dos impostos, o investimento na expansão e internacionalização do portefólio, a aposta na digitalização dos negócios e o esforço contínuo por ganhos de eficiência para oferecer a melhor proposta de valor aos clientes. Excluindo a mais-valia de 168M€ com a alienação do ISRG registada em 2023, o resultado líquido teria aumentado 18%”, enfatiza o comunicado.
O investimento consolidado da Sonae atingiu 1.589M€ em 2024, tendo mais do que duplicado face aos 665M€ de 2023. O investimento operacional dos negócios (Capex) ascendeu a 467M€, aumentando mais de 5% com a expansão e remodelação do parque de lojas e a digitalização dos negócios. O investimento em aquisições ascendeu a 1.121M€, com destaque para os investimentos na Musti e na Druni. Apesar deste investimento e do pagamento de dividendos de 154M€, a dívida líquida consolidada foi de 1,6 mil milhões de euros no final de 2024. A estrutura de capitais da Sonae manteve-se sólida, com níveis significativos de liquidez disponível e um perfil de maturidade confortável.
Destaques operacionais e financeiros dos negócios
No retalho alimentar, a MC encerrou 2024 com posições de liderança reforçadas nos mercados onde opera: retalho alimentar em Portugal e saúde, beleza e bem-estar na Península Ibérica. A fusão entre a Druni e Arenal, concluída já no 3T24, impulsionou significativamente o segmento de saúde, beleza e bem-estar, reforçando a sua forte trajetória de crescimento. Num contexto operacional altamente competitivo, o volume de negócios aumentou 15,3% em termos homólogos, atingindo 7,6 mil milhões de euros em 2024 (+24% em termos homólogos para 2,2 mil milhões de euros no 4T24), impulsionado por sólidos desempenhos tanto do segmento de retalho alimentar como do segmento de saúde, beleza e bem-estar, com um contributo relevante da Druni no 2S24. No segmento alimentar, a MC apresentou um desempenho robusto de vendas, impulsionado por um sólido crescimento de volume em todos os formatos, num contexto de inflação baixa. A MC inaugurou um recorde de 25 novas lojas próprias durante o ano – das quais 24 lojas de proximidade Continente Bom Dia -, enquanto fez investimentos estratégicos em remodelações, com maior foco em formatos de loja maiores. O segmento de saúde, beleza e bem-estar apresentou um crescimento de dois dígitos em todas as insígnias, impulsionado por fortes tendências favoráveis do mercado de beleza e pelo reforço da proposta de valor da MC nas diferentes categorias. Numa base comparável (excluindo a contribuição da Druni), o volume de negócios de saúde, beleza e bem-estar cresceu 10% em termos homólogos. A expansão da presença da Wells e Arenal, aliada à aquisição da Druni, levou a rede de lojas de saúde, beleza e bem-estar a mais do que duplicar durante o ano, atingindo 797 lojas próprias no final de 2024.
No retalho de eletrónica, apesar do ambiente operacional desafiante no mercado ibérico, a Worten reforçou a sua liderança no retalho de eletrónica e eletrodomésticos em Portugal, consolidando a sua quota de mercado em 2024. O volume de negócios cresceu 8,8% em termos homólogos, para 455M€ no 4T24, com um LfL robusto de 5,6%. Em 2024, o volume de negócios situou-se em 1,4 mil milhões de euros, +7,6% em termos homólogos. Este desempenho foi suportado pela sólida procura nas principais categorias (eletrónica e eletrodomésticos) e pelo crescimento nos outros dois principais segmentos de negócio – novas categorias de produtos e serviços. O canal online registou um crescimento significativo no trimestre (+21% em termos homólogos) e no ano (+17% em termos homólogos), alavancando o marketplace Worten e representando 17% do volume de negócios total em 2024. Em termos de expansão da rede, destaque para a iServices, que continuou a fazer crescer a sua presença tanto a nível nacional como internacional – na Bélgica, França e nas ilhas Canárias. A Worten abriu 38 novas lojas iServices em 2024, terminando o ano com 61 lojas em Portugal e 32 lojas no estrangeiro.
No retalho de produtos para animais, a Musti reforçou a sua liderança no setor de cuidados para animais de estimação nos nórdicos e expandiu-se com sucesso para os países bálticos com a aquisição da Pet City nos últimos três meses de 2024. As vendas cresceram 5,6% para 122M€ no trimestre, beneficiando de ganhos de vendas no parque de lojas comparável (LfL), do desempenho sólido do canal online e do contributo da Pet City, após a sua aquisição em novembro.
No setor imobiliário, a Sierra terminou o ano de forma positiva, mantendo o momentum positivo no seu portefólio de centros comerciais na Europa, enquanto registou um progresso sólido nos seus negócios de serviços e promoção imobiliária. Em 2024, o resultado líquido subiu para 97M€ (+9,8% em termos homólogos), impulsionado pelo desempenho positivo do portefólio de centros comerciais europeus e pelos resultados mais elevados de vendas de imóveis. O portefólio europeu de centros comerciais da Sierra teve um desempenho forte no 4T24 e em 2024, com vários ativos a atingir taxas de ocupação de 100%, resultando numa taxa de ocupação global de 98,4%. Estes resultados foram impulsionados pelo dinamismo das atividades de gestão de portefólio e arrendamento, levando a contratos com mais de 190 novos inquilinos e à renovação de outros 380. No segmento dos serviços, a empresa continuou a registar um desempenho favorável, nomeadamente nas áreas de Gestão de Investimentos e Gestão de Ativos, alavancando a sua experiência consolidada e rede de investidores institucionais. Na área de promoção imobiliária, os trabalhos de construção avançaram de forma contínua, com bons progressos nos cinco projetos em curso. Quanto a novos projetos, a empresa deu passos relevantes no segmento residencial, adquirindo um lote para o seu primeiro projeto Build-to-Rent em Portugal e garantindo o seu primeiro projeto residencial em Espanha durante o 4T24.
Nas telecomunicações, a NOS apresentou resultados excecionais, alcançando um crescimento recorde de vendas, rentabilidade e geração de cash flow, e simultaneamente expandiu a sua quota no mercado. Nas contas consolidadas da Sonae, os resultados pelo método de equivalência patrimonial da NOS atingiram 100M€ em 2024, um aumento de 57% em termos homólogos (29M€ no 4T24, +30% em termos homólogos). Já em 2025, a NOS anunciou a aquisição da Claranet Portugal, alcançando um marco fundamental no reforço da sua oferta para clientes empresariais, potenciando simultaneamente as suas capacidades no setor tecnológico de rápido crescimento.