Ignorando problemas reais do país, Câmara aumenta mandatos e fustiga o STF
Com a agenda econômica engavetada há meses, deputados votaram, nesta quarta, resolução para trancar ação contra bolsonarista no Supremo

Em mais uma demonstração de que as prioridades do Parlamento caminham divorciadas das necessidades imediatas do país, a Câmara aprovou, nesta quarta, uma resolução para trancar o processo de tentativa de golpe de Estado contra o deputado Alexandre Ramagem. Com as contas do governo explodindo — os juros nas alturas — e um assalto bilionário a aposentados descoberto, será que essa era a matéria mais urgente para o país nesta quarta?
O texto patrocinado pela oposição bolsonarista deu discurso aos setores do Parlamento que fazem campanha nas redes explorando a impopularidade do STF, mas terá pouco efeito prático. No Supremo, é ponto pacífico que a Câmara não tem o poder de trancar a ação em questão.
Os ministros da Corte avaliam agora os caminhos a seguir. Se abrem um conflito com deputados ao invalidar a votação por completo, ou se ignoram a decisão em parte e só aplicam o cancelamento de dois dos cinco crimes pelos quais responde Ramagem no STF.
Seja qual for a saída, o país já perdeu. Perdeu tempo, porque a Câmara deveria estar focada no escândalo do INSS e na agenda econômica engavetada há meses, mas consome recursos públicos e energia em discussões distantes da ordem do dia, como a situação de Ramagem na Justiça.
É fato que o debate busca dar peso a um movimento de proteção das excelências diante do STF e até abrir caminho para um eventual socorro a Jair Bolsonaro e outros bolsonaristas enrolados na trama golpista, mas o tema, de novo, não deveria ser prioridade do Legislativo.
Nesta quarta, o Banco Central voltou aumentar os juros no país, numa ação que reconhece a fragilidade fiscal e a falta de vontade política em Brasília de promover reformas que tornem a máquina menos perdulária e mais eficiente. Não há, na agenda imediata do Parlamento, interesse de avançar sobre os problemas reais do país que sufocam o setor produtivo.
Com o calendário caminhando para a metade de maio, os deputados só votaram o Orçamento da União de 2024 e uma proposta para ampliar ainda mais o custo financeiro da Câmara ao contribuinte, ampliando o número de mandatos na Casa. Despachantes de emendas e outros interesses de caráter duvidoso, as excelências, com algumas exceções, deram um sinal nada animador a quem ainda espera pelo despertar dos políticos para o verdadeiro trabalho pendente no país.
Bom seria se a Câmara estivesse atenta aos graves problemas de segurança pública enfrentados pelos brasileiros, o peso da inflação no supermercado e os desafios ambientais que ainda tornam o país vítima de um calendário anual de queimadas, enchentes e outros infortúnios conhecidos e não combatidos por quem se elegeu para isso.