Hospitais deixam de atender plano dos Correios após calote milionário
Em plena crise financeira, estatal não faz repasses para o custeio da Postal Saúde desde novembro de 2024

Em plena crise financeira, os Correios não fazem repasses para o custeio da Postal Saúde, operadora de autogestão de planos para funcionários da estatal, desde novembro de 2024. O Radar apurou que o rombo já chegou a 400 milhões de reais.
Diante do calote, vários prestadores da rede credenciada da Postal Saúde comunicaram à empresa a suspensão unilateral do atendimento a beneficiários da operadora dos Correios, entre eles Rede D’Or, Unimed, Dasa, grupo Kora e Beneficência Portuguesa (BP).
Fundada em 2013, a Postal Saúde tem cerca de 200.000 beneficiários, entre funcionários dos Correios e dependentes, e uma rede credenciada com 13.000 prestadores em todo o Brasil. A operadora depende dos repasses da estatal para pagar os contratos.
Como mostrou o Radar, os Correios fecharam 2024 com um prejuízo de 3,2 bilhões de reais sob o comando de Fabiano Silva dos Santos. No início do atual mandato, o presidente Lula tirou a estatal de programas de privatização.
“A nossa saúde, a nova vida depende disso. Nós pagamos mensalmente, pagamos compartilhamento, que é um absurdo, na nossa conta, e, quando procura a nossa assistência médica, vêm dizer que não está sendo atendida por falta de pagamento?”, questiona Shirlene Souza, dirigente do Sindicato dos Trabalhadores em Correios e Telégrafos no Estado da Bahia, lembrando que os beneficiários continuam tendo a coparticipação dos planos descontada do contracheque.
“Se não pagarem as clínicas e hospitais, nós vamos paralisar as atividades de toda a Bahia”, afirma a sindicalista em vídeo compartilhado por funcionários da estatal.
Historicamente, os Correios injetam uma média de 170 milhões de reais por mês no custeio da Postal Saúde, somando cerca de 2 bilhões de reais por ano. Se não houver qualquer repasse à operadora de autogestão até a próxima quinta-feira, 10 de abril, o rombo vai saltar para perto dos 600 milhões de reais.
Na cúpula da Postal Saúde, existe o temor de que, persistindo o calote, a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) decrete uma intervenção na empresa. Isso porque, sempre que fazem o descredenciamento unilateral de um plano de saúde, as prestadoras são obrigadas a notificar a ANS, justificando a decisão.
Nos primeiros meses sem repasses dos Correios desde novembro, os executivos da Postal Saúde ainda conseguiram negociar com algumas das maiores redes para que os atendimentos aos beneficiários não fossem suspensos. Mas a situação se tornou insustentável – até mesmo para gigantes do setor.
O Radar procurou os Correios e a Postal Saúde, mas não recebeu resposta até o momento. O espaço segue aberto e será atualizado imediatamente se as empresas se posicionarem.