Hiperalgesia pós-anestésica

Imagem ChatGPT Os milionários que em Portugal trabalham por conta de outrem e que recebam mais do que o Salário Mínimo Nacional, sabem que a respectiva entidade patronal tem de lhe reter uma parcela do salário a título de adiantamento de imposto, e que é entregue depois pelo empregador às Finanças. Esta operação é chamada a Retenção na Fonte. No final de cada ciclo fiscal, é então aplicada a taxa de imposto e se o valor já adiantado for superior ao montante devido, a AT devolve-o ao contribuinte. Se, pelo contrário, as retenções acumuladas forem inferiores, o contribuinte terá de pagar o valor em falta. Um professor de Fiscalidade explicou-me uma vez que quem inventou este método de cobrança foram os italianos. Para além das estradas pavimentadas, do betão, das cúpulas, dos aquedutos, do vidro soprado, do Direito Romano, das pizzas, do café expresso, do sistema de injecção Common Rail, e sem esquecer à Máfia, o Fascismo e, o pior de tudo, o Fiat Multipla, o incrível povo italiano inventou ainda esta maravilha que é a retenção na fonte. Tivesse sido inventada no norte da Europa, por um povo com menos jogo de rins e menos amante dos floreados linguísticos e o invento seria conhecido pela sua exacta função e chamar-se-ia Anestesia Fiscal. É até ternurento ver a alegria de alguns contribuintes quando recebem o reembolso do empréstimo de imposto que fazem ao Tesouro. Este ano as taxas de IRS estão mais baixas e, por isso, na cobrança acumulada, a AT arrecadará menos IRS. Esta parte importa repetir. Os portugueses vão pagar menos IRS. Acontece que como durante alguns meses de 2024 a dita retenção na fonte foi inferior aos anos anteriores, os reembolsos em 2025 serão menores, nulos ou negativos, ou seja, contribuintes que habitualmente recebiam um reembolso, poderão ter de agora entregar imposto em falta. Num país onde a iliteracia financeira não andasse a galope estendido, esta mudança seria apenas um não-assunto. Cá, dará pano para mangas. Para partidos que não se acanhem em tentar tirar benefícios políticos do desconhecimento dos contribuintes, será fácil usar este assunto como arma de arremesso político contra o governo. E fazer isso, não será intelectualmentente desonesto? Para a maior da oposição, e como estamos em Abril, isso será um outro nome para a Primavera. Diz-me o melhor anestesista que conheço, o Chat GPT, que o nome clínico do período de tempo em que a anestesia perde o efeito é “fase de recuperação anestésica" e, acrescenta, quando a recuperação é acompanhada de dor intensa, designa-se por "hiperalgesia pós-anestésica". É nisso que estamos.

Abr 4, 2025 - 09:18
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Hiperalgesia pós-anestésica

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Imagem ChatGPT

Os milionários que em Portugal trabalham por conta de outrem e que recebam mais do que o Salário Mínimo Nacional, sabem que a respectiva entidade patronal tem de lhe reter uma parcela do salário a título de adiantamento de imposto, e que é entregue depois pelo empregador às Finanças. Esta operação é chamada a Retenção na Fonte. No final de cada ciclo fiscal, é então aplicada a taxa de imposto e se o valor já adiantado for superior ao montante devido, a AT devolve-o ao contribuinte. Se, pelo contrário, as retenções acumuladas forem inferiores, o contribuinte terá de pagar o valor em falta.

Um professor de Fiscalidade explicou-me uma vez que quem inventou este método de cobrança foram os italianos. Para além das estradas pavimentadas, do betão, das cúpulas, dos aquedutos, do vidro soprado, do Direito Romano, das pizzas, do café expresso, do sistema de injecção Common Rail, e sem esquecer à Máfia, o Fascismo e, o pior de tudo, o Fiat Multipla, o incrível povo italiano inventou ainda esta maravilha que é a retenção na fonte. Tivesse sido inventada no norte da Europa, por um povo com menos jogo de rins e menos amante dos floreados linguísticos e o invento seria conhecido pela sua exacta função e chamar-se-ia Anestesia Fiscal. É até ternurento ver a alegria de alguns contribuintes quando recebem o reembolso do empréstimo de imposto que fazem ao Tesouro.

Este ano as taxas de IRS estão mais baixas e, por isso, na cobrança acumulada, a AT arrecadará menos IRS. Esta parte importa repetir. Os portugueses vão pagar menos IRS. Acontece que como durante alguns meses de 2024 a dita retenção na fonte foi inferior aos anos anteriores, os reembolsos em 2025 serão menores, nulos ou negativos, ou seja, contribuintes que habitualmente recebiam um reembolso, poderão ter de agora entregar imposto em falta.

Num país onde a iliteracia financeira não andasse a galope estendido, esta mudança seria apenas um não-assunto. Cá, dará pano para mangas. Para partidos que não se acanhem em tentar tirar benefícios políticos do desconhecimento dos contribuintes, será fácil usar este assunto como arma de arremesso político contra o governo. E fazer isso, não será intelectualmentente desonesto? Para a maior da oposição, e como estamos em Abril, isso será um outro nome para a Primavera.

Diz-me o melhor anestesista que conheço, o Chat GPT, que o nome clínico do período de tempo em que a anestesia perde o efeito é “fase de recuperação anestésica" e, acrescenta, quando a recuperação é acompanhada de dor intensa, designa-se por "hiperalgesia pós-anestésica". É nisso que estamos.