Da esquerda à direita, partidos lamentam morte do Papa Francisco
Partidos políticos destacam o Papa como um "exemplo" a seguir e um "farol de esperança para milhões de católicos e não só". Presidente da República reservou uma declaração ao país, marcada para as 20 horas, para reagir à morte de Francisco.


Haverá poucas situações ou personalidades a suscitar uma reação tão consensual: da esquerda à direita, partidos políticos portugueses lamentaram esta segunda-feira a morte do Papa Francisco e elogiaram o seu legado na Igreja Católica que consideram ter inspirado o mundo inteiro.
O primeiro-ministro, Luís Montenegro, destacou a “ligação muito forte” do Papa ao povo português, recordando as visitas de Francisco ao país, no Centenário das aparições de Nossa Senhora em Fátima, em 2017, e na Jornada Mundial da Juventude, em 2023. “Um Papa extraordinário que deixa um singular legado de humanismo, empatia, compaixão e proximidade às pessoas. A melhor forma de honrar o seu tributo será seguirmos no dia a dia, as nossas diferentes atividades, os seus ensinamentos e o seu exemplo”, acrescentou o presidente do PSD.
Da mesma cor política, o presidente da Câmara de Lisboa, Carlo Moedas, utilizou a rede social X para lembrar as primeiras palavras que o Papa Francisco lhe dirigiu, em 2023, antes das Jornadas Mundiais da Juventude, e assinalou que o líder da Igreja Católica “ficará para sempre no coração de Lisboa”.
“Lembro-me como se fosse hoje das primeiras palavras que o Papa Francisco me dirigiu: ‘Obrigado pela tua resistência. Obrigados aos lisboetas’. Foi no Vaticano a 22 de abril de 2023, a cem dias da JMJ. Desde então tornou-se no Papa que ficará sempre no coração de Lisboa: que aqui deixou uma marca que não esqueceremos, que connosco partilhou momentos únicos que fizeram de Lisboa a cidade de ‘todos, todos, todos’. Acima de tudo, transmitiu-nos esperança. Em Lisboa saberemos honrar o seu legado, o legado do Papa da esperança”, escreveu o autarca.
Pedro Nuno Santos, secretário-geral do Partido Socialista (PS), lembra Francisco como “um Papa dos pobres, dos excluídos, dos que não têm voz” e assinalou que “a sua liderança espiritual transcendeu fronteiras religiosas e políticas, tornando-se uma referência ética e moral para milhões em todo o mundo”.
“O seu legado ficará para sempre inscrito na história do nosso tempo. Em nome do Partido Socialista e em meu nome pessoal, expresso à Igreja Católica, à comunidade católica portuguesa e ao Vaticano o nosso mais sentido pesar”, acrescentou Pedro Nuno Santos na rede social X, desejando “que a sua memória continue a inspirar todos aqueles que acreditam num mundo mais humano, mais justo e mais fraterno”.
A candidata do PS à câmara de Lisboa, Alexandra Leitão, também usou o X para reagir à morte do Líder da Igreja Católica, “um farol de esperança para milhões de católicos e não só”. A socialista assinalou que o Papa Francisco “tem sido uma voz de coragem, empatia e inclusão num tempo em que o mundo parece ceder à intolerância e ao ódio”. “A sua ausência será sentida profundamente, sobretudo num momento em que emergem forças que se alimentam do individualismo e da desumanização para impor a divisão e o desprezo pelo outro. Francisco fará uma imensa falta ao mundo”, acrescentou.
O líder da Iniciativa Liberal (IL), Rui Rocha, também lamentou “profundamente” a morte do Papa Francisco. “Os meus pensamentos estão com a nossa comunidade católica, com a Igreja Católica, com o Vaticano e com aqueles que o Papa Francisco inspirou em todo o mundo. A todos, apresento as mais sentidas condolências”, assinalou o liberal.
Para André Ventura, presidente do Chega, “hoje é um dia de tristeza e sofrimento para os cristãos do mundo inteiro”. Numa mensagem deixada também nas redes sociais, o líder partidário destacou a “marca inspiradora de proximidade e simplicidades que a todos tocou profundamente” e deixou um apelo: “Que a sua vida intensa seja um exemplo para todos os que querem servir a causa pública.”
À esquerda, a coordenadora nacional do Bloco de Esquerda, Mariana Mortágua, lembrou que o Papa Francisco “pediu a Paz”.
“Nos últimos dias, exigiu o cessar-fogo em Gaza e opôs-se à corrida ao armamento. Condenou o ódio contra imigrantes e a “economia que mata”. Fez opção pelos pobres e pelo cuidado da Terra, casa comum. Crentes ou não crentes, a todos Francisco deu esperança”, considerou a líder bloquista na rede social X.
O PCP, por sua vez, assinalou que Francisco “marcou a Igreja, os católicos e outros cristãos nesta fase da história da humanidade com uma grande proximidade às causas da Paz, de defesa dos direitos económicos e sociais e de justiça para os excluídos desta sociedade ‘submetida a interesses financeiros‘”.
Num comunicado enviado às redações, os comunistas exaltam a ação do Papa Francisco a “favor do diálogo e contra a intolerância”. “O PCP, que tem uma história de décadas e uma intervenção atual relevante com católicos e outros crentes, em diversas frentes de intervenção progressista, e onde tantos católicos participam nas lutas pela Paz e a transformação social, assinala a ação do Papa Francisco a favor do diálogo e contra a intolerância, e lamenta o seu falecimento e apresenta as suas condolências a todos os católicos e à Igreja Católica”, pode ler-se.
Do lado da Presidência da República, Marcelo Rebelo de Sousa marcou para as 20 h desta segunda-feira.
A última aparição pública na véspera da morte
O Papa Francisco morreu esta segunda-feira aos 88 anos, após 12 anos de um pontificado marcado pelo combate aos abusos sexuais, guerras e uma pandemia.
Nascido em Buenos Aires, em 17 de dezembro de 1936, Francisco foi o primeiro jesuíta a chegar à liderança da Igreja Católica.
O Papa Francisco esteve internado durante 38 dias devido a uma pneumonia bilateral, tendo tido alta em 23 de março. A sua última aparição pública foi no domingo de Páscoa, no Vaticano, na véspera de morrer.
Segundo o Santuário de Fátima, um exemplo da devoção foi “o pedido da presença da imagem original da Virgem de Fátima, em Roma, no Jubileu da Espiritualidade Mariana, a celebrar em outubro”.
“Ao longo do seu pontificado de 12 anos, mereceram especial destaque três momentos no que ao Santuário de Fátima diz respeito”, adiantou o templo mariano, referindo que, em 2013, a imagem da Virgem de Fátima foi a Roma, a pedido de Francisco, “para a Jornada Mariana promovida pelo Pontifício Conselho para a Promoção da Nova Evangelização”.
Já em 2017, no centenário dos acontecimentos na Cova da Iria, Francisco deslocou-se “pela primeira vez à Cova da Iria para rezar aos pés da Imagem venerada na Capelinha das Aparições e para canonizar os beatos Francisco e Jacinta”.
O santuário recordou que Francisco esteve em Fátima como “peregrino da luz, da esperança e da paz” e caracterizou Fátima como “manto de luz”, assumindo ainda, no regresso a Roma, “o compromisso de levar ao mundo a mensagem de Paz que Fátima representa”.
“Mais recentemente, em 2023, no contexto da Jornada Mundial da Juventude, regressou a Fátima para rezar na companhia de jovens com deficiência e de jovens reclusos”, assinalou o santuário, referindo que, hoje de manhã, “os sinos da Basílica de Nossa Senhora do Rosário de Fátima tocaram, em sinal de luto pela partida do Papa Francisco”.
O santuário acrescentou que foram “muitos mais os momentos e os episódios que ligaram o líder mundial da Igreja Católica a Fátima”, desde a sua escolha para bispo, passando pela dinâmica pastoral que exerceu como arcebispo de Buenos Aires”, acrescentando que “Jorge Bergoglio deixou uma marca única de coragem e de proximidade”.