Crítica: “Phonetics On And On”, Horsegirl, ou três garotas querendo salvar o rock’n’roll

"Phonetics On And On", lançado pela Matador Records, é um álbum de 11 grandes canções que transitam entre o pop, o rock'n'roll minimalista e a experimentação lúdica, mas que nunca são um fim em si mesmas.

Mar 28, 2025 - 04:08
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Crítica: “Phonetics On And On”, Horsegirl, ou três garotas querendo salvar o rock’n’roll

texto de Matteo Maioli

Eis o segundo álbum das muito jovens Horsegirl – as guitarristas/cantoras Nora Cheng e Penelope Lowenstein mais a baterista Gigi Reece – que, depois de produzidas por John Agnello na estreia, desta vez se confiaram às mãos e ao talento de produção de Cate Le Bon, gravando no estúdio de Wilco (The Loft) em Chicago. Uma entrada decisiva na vida adulta: primeiro a mudança para Nova York para estudos universitários, depois a necessidade de expandir horizontes, tanto como ouvintes quanto como musicistas.

Enquanto “Versions Of Modern Performance”, de 2022, representava um manifesto programático de um certo indie-rock na tradição de Sonic Youth e My Bloody Valentine, “Phonetics On And On”, lançado pela Matador Records, é um álbum de 11 grandes canções que transitam entre o pop, o rock’n’roll minimalista e a experimentação lúdica, mas que nunca são um fim em si mesmas.

A gravação de “Phonetics On And On” aconteceu na cidade natal das garotas, Chicago, que viu o desenvolvimento de um novo movimento (Hallogallo, da lendária peça de Neu) que está trazendo de volta à moda as guitarras “distorcidas”, que engloba nomes como Lifeguard (outra jovem banda também do catálogo Matador), twin coast e TV Buddha. Não poderia ter sido um janeiro mais frio em Illinois em 2024, mas a decisão foi deixar o aquecimento desligado para evitar interferência de ruído; Nora, Penelope e Gigi enfrentaram o frio vestindo suéteres pesados, unidas pelo desejo de criar, ao lado de Le Bon, uma música que soasse, acima de tudo, nova para elas.

“Where D’You Go?” abre o álbum com uma atitude surfista em uma melodia tipicamente Velvet Underground, enquanto “Rock City” é um deleite para os ouvidos (experimente com fones!), com as guitarras surgindo e desaparecendo em conceito de repetição muito caro ao The Fall, e com um final motorizado acelerado que deixara você sem fôlego. A meditativa “In Twos” soa como algo saído de um disco de Cate Le Bon – com direito a violinos sintetizados causando um efeito hipnótico; “Well I Know You’re Shy” aborda o pós-punk à maneira das grandes bandas de Dunedin (um gancho, aliás, a ser desenvolvido mais abaixo).

E então o pop entra em campo. Quando todos os aspectos mencionados – a paixão pelos anos sessenta, o pós-punk angular entre Wire e Raincoats, o twee pop de Beat Happening – encontram o refrão cativante, presente em “2468” e “Switch Over”: são composições que transcendem a era a que pertencem, dançantes, corais… e simples apenas para uma audição apressada.

Outros dois números soam de natureza diferente, mais focados nas letras e nas experiências do trio: “Julie”, cantada por Penelope, eleva o amor como um remédio para todas as dificuldades (“Ter o mesmo sonho três vezes por semana / Febres grandes demais para você manter / Temos tantos erros a cometer / Erros a cometer com você / Você sabe que eu os quero também”) entre as pinceladas impressionistas da guitarra de Nora, enquanto a sonhadora e acústica “Frontrunner” é a música perfeita para o dia em que foi lançada (“Dia dos Namorados”) e para os demais também.

As Horsegirl tocam juntas há cinco anos, mas a harmonia que as une as levou a um rápido e necessário amadurecimento, convertendo a energia punk de sua estreia em uma total confiança em seus próprios meios e ideias, desabrochando em uma paleta com mais cores.

No dia lançamento oficial do disco, em 14 de fevereiro, houve uma festa de lançamento no Bandcamp para “Phonetics On And On”. e impressionou como fãs do mundo inteiro – Nova Zelândia, Argentina, Japão, Brasil, Itália – se reuniram na ocasião para bater um papo com o grupo e demonstrar carinho incondicional. Na conversa, elas contaram queos teclados e a programação por trás de “I Can’t Stand To See You” são obra de Gigi e não de Cate, e que a capa homenageia – não muito sutilmente – os gráficos de Spacemen 3. E que bandas cult como The Feelies e Young Marble Giants entraram à força em suas listas de audição. (Viva!)

Um entusiasmo justificado e explosivo para três garotas que querem salvar o rock’n’roll.

Texto publicado originalmente no site italiano Kalporz, parceiro de conteúdo do Scream & Yell.