Conservadorismo: entenda o conceito em 4 pontos
Entenda o que é conservadorismo político, corrente de pensamento difusa que se manifesta em quase todos os países do mundo.

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O conservadorismo é um pensamento político que defende a manutenção das instituições sociais tradicionais, como a família, a comunidade local e a religião, além dos usos, costumes, tradições e convenções.
Essa corrente enfatiza a continuidade e a estabilidade das instituições, opondo-se a qualquer tipo de movimentos revolucionários e de políticas progressistas.
Acompanhe o texto para saber tudo sobre o que é conservadorismo!
Veja também nosso vídeo sobre ideologias políticas!
Qual a diferença entre conservadorismo e postura conservadora?
O conservadorismo é o pensamento político enquanto a postura conservadora é a atitude em relação às mudanças políticas (com outras como reacionários, progressistas e radicais).
O conservador, neste último sentido, busca manter a situação política do jeito que está, independentemente do conjunto de ideias a que se aplica. É um termo normalmente aplicável a qualquer pensamento político que esteja no poder.
Um socialista ou um liberal que esteja governando pode ser conservador nesse sentido, pois deseja manter-se no poder e almeja a continuação de suas políticas. Um revolucionário torna-se um conservador depois do sucesso de sua revolução.
O conservadorismo que será abordado aqui é aquele que existe no Brasil e tem diversas semelhanças com o conservadorismo ocidental existente na América Latina, na América do Norte e na Europa. Isso porque todos eles têm como base a doutrina cristã e a adoção, em maior ou menor grau, das ideias políticas liberais.
Mas é importante entender que mesmo o conservadorismo ocidental possui muitas variantes e é difícil identificar um posicionamento político específico. Partidos políticos conservadores podem até ter opiniões divergentes entre si sobre algumas questões.
Valores conservadores
É possível determinar algumas características fundamentais do pensamento conservador ocidental. O conservadorismo tem como seus principais valores a liberdade e a ordem, especialmente a liberdade política e econômica e a ordem social e moral.
O conservador acredita que há uma ordem moral duradoura e transcendente, que no caso do conservadorismo ocidental é baseada na doutrina cristã e tem na religião a sua base.
O conservadorismo valoriza a diversidade típica do individualismo e rejeita a igualdade como um objetivo da política.
Essa corrente não é um conjunto de ideias políticas definidas, pois os valores conservadores variam conforme os lugares e com o tempo.
O conservador, assim como o libertário, entende que a igualdade político-jurídica é suficiente para garantir a igualdade necessária entre as pessoas. Qualquer desigualdade material ou de resultado é consequência inevitável das diferenças naturais entre os indivíduos, de seus esforços e de suas decisões.
Na esfera política, o conservador procura preservar as instituições políticas e sociais que se desenvolveram ao longo do tempo sendo fruto dos usos, costumes e tradições.
O conservadorismo entende que as mudanças e o progresso são necessários para manter uma sociedade saudável, mas essas mudanças devem ser cautelosas e graduais.
Assim, a política do conservador é a política da prudência, sempre preferindo manter e melhorar as instituições estáveis e testadas do que tentar rupturas para implantar modelos de sociedade e instituições advindas da razão humana.
Essa postura coloca o pensamento conservador em conflito com ideologias essencialmente reformistas, que almejam criar uma sociedade “perfeita” pelo uso da política. Para o conservador, a política é a “arte do possível” e não um meio para se chegar a uma sociedade utópica.
Nas esferas social e moral, o conservador defende a manutenção dos usos, costumes e convenções, além de uma estrutura social e hierárquica tradicional. Na cultura, o conservadorismo valoriza as manifestações locais e uma identidade nacional.
Nessas esferas, os conservadores são coletivistas, pois entendem que toda a comunidade deve adotar certos padrões de comportamento e certos valores para garantir uma coesão social e a identificação dos indivíduos com a comunidade.
Assista ao nosso vídeo sobre o Conservadorismo no Brasil
Conservadorismo na economia
O conservadorismo defende o individualismo na esfera econômica. A defesa da propriedade privada também é vista como uma questão intimamente ligada à liberdade, pois não é possível ser livre se os meios de sobrevivência de um indivíduo estão nas mãos de outros, dos quais acaba se tornando dependente.
Entretanto, a defesa de uma economia de livre mercado não é assunto de consenso entre os conservadores de vários países do mundo, inclusive os brasileiros.
Mesmo os conservadores que defendem a globalização e a abertura dos mercados ao capital internacional tentam manter essa integração somente no âmbito econômico e financeiro, protegendo a cultura e a identidade nacionais de influências externas.
Como o conservadorismo costuma ter fortes traços de nacionalismo, as ideias econômicas acabam sendo influenciadas e, assim, boa parte dos conservadores nacionais preferem políticas econômicas desenvolvimentistas, nacionalistas e protecionistas.
Esse fato não impede que políticos conservadores sejam chamados de neoliberais na América Latina, o que não é uma designação correta geralmente, visto que muitos conservadores advogam políticas intervencionistas no âmbito econômico.
Quais são as principais críticas ao conservadorismo?
A crítica mais comum ao conservadorismo é a sua ideia de que toda a sociedade deve acatar o código moral e a estrutura social tradicionais, o que é uma visão conflituosa com as ideias progressistas.
Herbert Marcuse, no livro Eros e Civilização, critica o moralismo conservador por reprimir a liberdade individual e o prazer em nome da ordem social, por exemplo.
A moral tradicional, para ele, carrega uma sabedoria histórica que não pode ser substituída por projetos abstratos de libertação.
Para os seus críticos, é uma contradição o conservadorismo defender indivíduos autônomos na esfera econômica enquanto defende a aceitação de padrões na esfera social e moral.
Nesse sentido, Karl Polanyi, em A Grande Transformação, mostra como a liberalização econômica cria instabilidade social, que os conservadores tentam resolver com rigidez moral.
Já Patrick J. Deneen, em Why Liberalism Failed, argumenta que a autonomia econômica e moral promovida pelo liberalismo, mesmo quando dentro da perspectiva do conservadorismo, levou à fragmentação das comunidades e à erosão das tradições. Para Deneen, a verdadeira liberdade não está na ausência de vínculos, mas no pertencimento a instituições enraizadas, como a família, a religião e a cultura local.
Outra crítica comum ao conservadorismo é sua rejeição ao multiculturalismo e ao cosmopolismo cultural, comuns nos grandes centros urbanos. Para o conservador, uma cultura local ou nacional compartilhada por todos os membros da sociedade é uma condição necessária para criar coesão social e espírito de comunidade.
Yoram Hazony, em The Virtue of Nationalism, oferece uma defesa articulada dessa posição. Ele argumenta que a valorização da identidade nacional é essencial para garantir a autodeterminação dos povos e a estabilidade política.
Segundo Hazony, sociedades coesas precisam de um núcleo cultural comum, não como forma de excluir, mas como fundamento da solidariedade e da responsabilidade mútua. Para ele, o multiculturalismo radical pode minar os laços comunitários ao diluir valores compartilhados.
Na esfera política, o principal embate entre os conservadores e seus adversários ocorre em torno do valor da igualdade. Os conservadores, assim como os liberais, elogiam a diversidade e entendem que não é papel do Estado promover políticas igualitárias para além da igualdade político-jurídica.
Mas os seus opositores argumentam que não basta promover uma igualdade político-jurídica de cunho formal se esta não se concretiza pela igualdade material e de resultados.
Thomas Piketty, por exemplo, demonstra como as desigualdades econômicas se perpetuam sem ação redistributiva do Estado. Além disso, critica o conservadorismo por manter privilégios patrimoniais.
Na mesma linha de pensamento, os conservadores entendem que a assistência estatal deve limitar-se somente aos que realmente precisam dela e não deve se estender a toda a vida das pessoas, como é proposto pelo Estado do Bem-Estar Social.
Essa visão atrai as críticas daqueles que entendem que o Estado deve prover uma rede de segurança aos cidadãos durante todas as fases da vida e que cubra um grande leque de situações.
Patrick Deneen e Hazony, nesse ponto, argumentam que uma assistência estatal extensa pode enfraquecer o senso de responsabilidade pessoal e a solidariedade comunitária.
Ambos defendem uma rede de apoio baseada em instituições intermediárias (família, igrejas, vizinhanças), e não num Estado centralizador que substitui essas relações por burocracias impessoais.
E agora, já sabe tudo sobre conservadorismo? Se ficou alguma dúvida, deixe nos comentários!
Publicado em 6 de janeiro de 2017. Atualizado em 25 de abril de 2025.
Referências
- RAMALHO, José Ricardo. A construção social do conservadorismo no Brasil: apontamentos para uma abordagem sociológica. Economia e Sociedade, Campinas, v. 30, n. 2 (82), p. 569-589, maio/ago. 2021. Disponível em: https://www.scielo.br/j/ecos/a/gtvwjhhpkWBtPqnYzV4fmPN/. Acesso em: 24 abr. 2025.
- Livro Urgente da Política Brasileira
- G1 – Em livro provocador, Roger Scruton explica as ideias conservadoras
- SOUZA, Jessé de. A formação do pensamento conservador brasileiro: a ideologia da competência e a naturalização da desigualdade social. Revista Subjetividades, v. 11, n. 1, 2011. Disponível em: http://www.revispsi.uerj.br/v11n1/artigos/html/v11n1a08.html. Acesso em: 24 abr. 2025.
- POLANYI, Karl. A grande transformação
- HAZONY, Yoram. The virtue of nationalism