Confira a cronologia da trama golpista envolvendo Bolsonaro e aliados, segundo a denúncia da PGR

Jair Bolsonaro e aliados foram denunciados no inquérito que apura suposta tentativa de tramar um golpe de Estado no país, após o candidato à reeleição perder nas urnas em 2022. PGR denuncia Jair Bolsonaro e mais 33 por trama golpista A Procuradoria-Geral da República (PGR) denunciou, nesta terça-feira (18), o ex-presidente Jair Bolsonaro e aliados pela tentativa de golpe de Estado em 2022. Se a denúncia for aceita pelo Supremo Tribunal Federal (STF), Bolsonaro se tornará réu e passará a responder a um processo penal no tribunal. Também foram denunciados o ex-ministro e ex-vice na chapa de Bolsonaro, o general Braga Netto; e o ex-ajudante de ordens Mauro Cid. Ao todo, são 34 denunciados. Segundo a denúncia, a conduta criminosa dos indiciados começou ainda em 2021, em tom de ruptura com a democracia. 21 de novembro - O ex-presidente Jair Bolsonaro foi indiciado pela Polícia Federal por tentativa de golpe. Além dele, outras 36 pessoas também foram indiciadas pelos crimes de abolição violenta do Estado Democráio de Direito, golpe de Estado e organização criminosa. TON MOLINA/FOTOARENA/FOTOARENA/ESTADÃO CONTEÚDO As investigações da Procuradoria-Geral da República indicam que o plano envolvia diversos núcleos de atuação, desde a difusão de notícias falsas para descredibilizar o sistema eleitoral até estratégias para incitar militares a aderirem ao golpe. Com a revelação desses documentos e provas reunidas pela Polícia Federal, a PGR denunciou Bolsonaro e seus aliados ao Supremo Tribunal Federal, que agora decidirá se os transforma em réus por crimes contra o Estado Democrático de Direito. Cronologia dos fatos 2018: Bolsonaro inaugurou ataques ao sistema eleitoral Segundo a PGR, as investidas contra o sistema eleitoral brasileiro de Bolsonaro começaram ainda durante a campanha presidencial de 2018 e persistiu na narrativa infundada de fraude, após ser eleito. "A fraude, que nunca conseguiu nem descrever nem demonstrar, teria impedido que se houvesse sagrado vencedor das eleições de 2018 desde o primeiro turno", diz a denúncia. 2021: início do tom de ruptura democrática Os pronunciamentos do denunciado, que, até então, aparentavam ser pontuais e insuficientes para afetar significativamente a opinião pública, "ganharam contornos massivos e contundentes" a partir de 2021, quando o então presidente realizou transmissão ao nas dependências do Palácio do Planalto, para tratar especificamente do sistema eletrônico de votação. A procuradoria diz, na denúncia, que "a partir de 2021, o Presidente da República adotou crescente tom de ruptura com a normalidade institucional em seus repetidos pronunciamentos públicos". Nessas falas, Bolsonaro expressava "descontentamento com decisões de tribunais superiores e com o sistema eleitoral eletrônico em vigor", escreveu Gonet, na denúncia. 2021: anotações com planejamento prévio para fabricar narrativa contra as urnas Dentre os materiais encontrados na casa do general Augusto Heleno, ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Presidência, foram identificadas anotações manuscritas, em uma agenda com logomarca da Caixa Econômica Federal, sobre o planejamento prévio da organização criminosa de fabricar um discurso contrário às urnas eletrônicas. 2022: agravamento do discurso Ainda de acordo com o procurador-geral, Bolsonaro se tornou mais antidemocrático a partir das eleições de 2022. "Essa escalada ganhou impulso mais notável quando Luiz Inácio Lula da Silva, visto como o mais forte contendor na disputa eleitoral de 2022, tornou-se elegível, em virtude da anulação de condenações criminais. Gonet também afirmou que o ambiente político entre novembro e dezembro de 2022 foi marcado por intensa mobilização golpista, resultando nos ataques de 8 de janeiro. Segundo ele, a tentativa de golpe foi fruto de uma escalada iniciada ainda em 2021, quando o então presidente Jair Bolsonaro adotou um “crescente tom de ruptura com a normalidade institucional”. “Para melhor compreensão dos fatos narrados, convém recordar que, a partir de 2021, o presidente da República adotou crescente tom de ruptura com a normalidade institucional nos seus repetidos pronunciamentos públicos em que se mostrava descontente com decisões de tribunais superiores e com o sistema eleitoral eletrônico em vigor”, afirmou Gonet. 2022: Lula recupera direitos políticos Essa escalada, segundo o procurador-geral, ganhou mais força quando Luiz Inácio Lula da Silva recuperou seus direitos políticos, tornando-se o principal adversário de Bolsonaro nas eleições de 2022. Documentos encontrados pela Polícia Federal indicam que, já em março de 2021, aliados do então presidente discutiam abertamente a desobediência a decisões do Supremo Tribunal Federal (STF), chegando a traçar um plano de fuga caso a postura golpista não fosse tolerada pelos militares. “O grupo de apoio do então Presidente da República, que formará o núcleo da organização criminosa, cogitou de o Presidente abertamente passar a afrontar e a des

Fev 19, 2025 - 03:33
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Confira a cronologia da trama golpista envolvendo Bolsonaro e aliados, segundo a denúncia da PGR

Jair Bolsonaro e aliados foram denunciados no inquérito que apura suposta tentativa de tramar um golpe de Estado no país, após o candidato à reeleição perder nas urnas em 2022. PGR denuncia Jair Bolsonaro e mais 33 por trama golpista A Procuradoria-Geral da República (PGR) denunciou, nesta terça-feira (18), o ex-presidente Jair Bolsonaro e aliados pela tentativa de golpe de Estado em 2022. Se a denúncia for aceita pelo Supremo Tribunal Federal (STF), Bolsonaro se tornará réu e passará a responder a um processo penal no tribunal. Também foram denunciados o ex-ministro e ex-vice na chapa de Bolsonaro, o general Braga Netto; e o ex-ajudante de ordens Mauro Cid. Ao todo, são 34 denunciados. Segundo a denúncia, a conduta criminosa dos indiciados começou ainda em 2021, em tom de ruptura com a democracia. 21 de novembro - O ex-presidente Jair Bolsonaro foi indiciado pela Polícia Federal por tentativa de golpe. Além dele, outras 36 pessoas também foram indiciadas pelos crimes de abolição violenta do Estado Democráio de Direito, golpe de Estado e organização criminosa. TON MOLINA/FOTOARENA/FOTOARENA/ESTADÃO CONTEÚDO As investigações da Procuradoria-Geral da República indicam que o plano envolvia diversos núcleos de atuação, desde a difusão de notícias falsas para descredibilizar o sistema eleitoral até estratégias para incitar militares a aderirem ao golpe. Com a revelação desses documentos e provas reunidas pela Polícia Federal, a PGR denunciou Bolsonaro e seus aliados ao Supremo Tribunal Federal, que agora decidirá se os transforma em réus por crimes contra o Estado Democrático de Direito. Cronologia dos fatos 2018: Bolsonaro inaugurou ataques ao sistema eleitoral Segundo a PGR, as investidas contra o sistema eleitoral brasileiro de Bolsonaro começaram ainda durante a campanha presidencial de 2018 e persistiu na narrativa infundada de fraude, após ser eleito. "A fraude, que nunca conseguiu nem descrever nem demonstrar, teria impedido que se houvesse sagrado vencedor das eleições de 2018 desde o primeiro turno", diz a denúncia. 2021: início do tom de ruptura democrática Os pronunciamentos do denunciado, que, até então, aparentavam ser pontuais e insuficientes para afetar significativamente a opinião pública, "ganharam contornos massivos e contundentes" a partir de 2021, quando o então presidente realizou transmissão ao nas dependências do Palácio do Planalto, para tratar especificamente do sistema eletrônico de votação. A procuradoria diz, na denúncia, que "a partir de 2021, o Presidente da República adotou crescente tom de ruptura com a normalidade institucional em seus repetidos pronunciamentos públicos". Nessas falas, Bolsonaro expressava "descontentamento com decisões de tribunais superiores e com o sistema eleitoral eletrônico em vigor", escreveu Gonet, na denúncia. 2021: anotações com planejamento prévio para fabricar narrativa contra as urnas Dentre os materiais encontrados na casa do general Augusto Heleno, ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Presidência, foram identificadas anotações manuscritas, em uma agenda com logomarca da Caixa Econômica Federal, sobre o planejamento prévio da organização criminosa de fabricar um discurso contrário às urnas eletrônicas. 2022: agravamento do discurso Ainda de acordo com o procurador-geral, Bolsonaro se tornou mais antidemocrático a partir das eleições de 2022. "Essa escalada ganhou impulso mais notável quando Luiz Inácio Lula da Silva, visto como o mais forte contendor na disputa eleitoral de 2022, tornou-se elegível, em virtude da anulação de condenações criminais. Gonet também afirmou que o ambiente político entre novembro e dezembro de 2022 foi marcado por intensa mobilização golpista, resultando nos ataques de 8 de janeiro. Segundo ele, a tentativa de golpe foi fruto de uma escalada iniciada ainda em 2021, quando o então presidente Jair Bolsonaro adotou um “crescente tom de ruptura com a normalidade institucional”. “Para melhor compreensão dos fatos narrados, convém recordar que, a partir de 2021, o presidente da República adotou crescente tom de ruptura com a normalidade institucional nos seus repetidos pronunciamentos públicos em que se mostrava descontente com decisões de tribunais superiores e com o sistema eleitoral eletrônico em vigor”, afirmou Gonet. 2022: Lula recupera direitos políticos Essa escalada, segundo o procurador-geral, ganhou mais força quando Luiz Inácio Lula da Silva recuperou seus direitos políticos, tornando-se o principal adversário de Bolsonaro nas eleições de 2022. Documentos encontrados pela Polícia Federal indicam que, já em março de 2021, aliados do então presidente discutiam abertamente a desobediência a decisões do Supremo Tribunal Federal (STF), chegando a traçar um plano de fuga caso a postura golpista não fosse tolerada pelos militares. “O grupo de apoio do então Presidente da República, que formará o núcleo da organização criminosa, cogitou de o Presidente abertamente passar a afrontar e a desobedecer a decisões do Supremo Tribunal Federal, chegando a criar plano de contingenciamento e fuga de Bolsonaro, se a ousadia não viesse a ser tolerada pelos militares”, relatou Gonet. Com a proximidade das eleições e a perspectiva de derrota nas urnas, os apoiadores de Bolsonaro intensificaram a ofensiva contra o processo eleitoral, promovendo desinformação e fomentando ataques ao sistema democrático. Segundo o procurador-geral, a organização criminosa que arquitetou os eventos de 8 de janeiro tinha um plano estruturado para impedir a alternância de poder. “Durante as investigações, foram encontrados manuscritos, arquivos digitais, planilhas e trocas de mensagem reveladores da marcha de ruptura da ordem democrática”, destacou. 2022: Reunião com embaixadores Bolsonaro, como chefe de Estado, convidou formalmente os mais altos representantes diplomáticos estrangeiros acreditados no país, bem como diversas autoridades brasileiras, ao Palácio da Alvorada para falar sobre a falta e confiabilidade do sistema eletrônico de votação. O discurso antidemocrático ganhou difusão nacional, por meio de sistema de televisão pública federal e por meio de reprodução em redes sociais de Bolsonaro, dirigindo-se ao conjunto dos eleitores brasileiros, e não apenas aos representantes diplomáticos ali reunidos. "O discurso, que reiterava outros tantos, reforçou a estratégia da organização criminosa de perturbar a tranquilidade social que deveria ambientar as eleições no sistema democrático". PGR: Bolsonaro e Braga Netto eram líderes do golpe 2022: utilização indevida da estrutura da PRF Os denunciados se utilizaram especialmente da estrutura da Polícia Rodoviária Federal (PRF), sob o comando do denunciado Silvinei Vasques, para obstruir o funcionamento do sistema eleitoral e minar os valores democráticos, dificultando a participação de eleitores que se presumiam contrários ao então Presidente. 2022: vitória de Lula nas urnas "Para manter o ambiente propício à intervenção militar, a organização criminosa também se preocupou em dar continuidade ao sentimento de suspeita e de inconformidade popular, especialmente nos acampamentos formados em frente às instalações militares". A necessidade de desacreditar os resultados das urnas elevou a produção de notícias falsas e maliciosas sobre o sistema eleitoral brasileiro, de acordo com a procuradoria. 2022: início da operação 'Punhal Verde Amarelo' O plano "Punhal Verde e Amarelo" foi detalhado a partir de investigações da Polícia Federal no âmbito da Operação Contragolpe, que prendeu militares e um policial suspeitos de envolvimento no caso. A operação previa o assassinato de autoridades —o presidente Lula; o vice-presidente Geraldo Alckmin e o ministro Alexandre de Moraes. A ação ocorreria como um desdobramento do golpe de Estado em 2022, caso ele fosse consumado. "A fixação de um 'centro de gravidade' reforça a concepção dos denunciados de que se encontravam em situação de 'guerra', com necessidade de uso da força. A indicação do Ministro Alexandre de Moraes como alvo não deixa dúvida sobre a previsão de violência nas ações de 'neutralização'." O plano previa envenenar Lula e Moraes e, em seguida, instituir o "Gabinete Institucional de Gestão da Crise". Havia, inclusive, uma minuta pronta para a sua criação, documento encontrado com o general Mário Fernandes em 19 de novembro. 2023: atos antidemocráticos de 8 de janeiro Os fatos narrados ao longo desta peça acusatória "não deixam dúvidas de que o cenário de instabilidade social identificado após o resultado das eleições de 2022 foi fruto de uma longa construção da organização criminosa que se dedicou, desde 2021, a incitar a intervenção militar no país", diz a denúncia. Segundo a procuradoria, os indiciados se dedicaram a disseminar, por múltiplos canais, ataques aos poderes constitucionais e espalhar a falsa narrativa do emprego do sistema eletrônico de votação pra prejudicar Bolsonaro. "Como demonstrado, o núcleo central da organização criminosa estava em constante interlocução com as lideranças populares, em claros atos de direcionamento, mostrando-se plenamente ciente de todos os movimentos que seriam realizados por seus apoiadores".