Buffett furou a bolha do mercado e deu à educação financeira status de cultura pop

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Mai 5, 2025 - 18:22
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Buffett furou a bolha do mercado e deu à educação financeira status de cultura pop

OMAHA – O indiano Mohit Kanodia, morador de Mumbai, visitou os Estados Unidos pela primeira vez neste ano só para ouvir o que Warren Buffett tinha a dizer sobre temas como tarifas de importação e mudanças climáticas.

Krysten MacEachern, uma canadense de 30 anos, tomou três voos com a filha de 7 anos para assistir ao megainvestidor no último fim de semana, enquanto o marido ficou cuidando das outras três meninas do casal.

O brasileiro Yhago da Costa, de 20 anos, chegou às 2h30 ao centro de convenções onde aconteceu a conferência anual de acionistas da Berkshire Hathaway (BERK34) no sábado (3), para ser um dos primeiros a entrar e escolher um bom lugar na plateia.

Brasileiro Yhago da Costa, de 20 anos, participa de evento com Warren Buffett. (Foto: Fernando Lima/InfoMoney)

Os três se juntaram a outras 38 mil pessoas que se dirigiram a Omaha, no Nebraska, para ter a chance de ouvir Buffett falar. Muitas delas – talvez a maioria – não são investidores profissionais. Algumas têm uma única ação da Berkshire na carteira, tida como uma espécie de ingresso para o show de um artista famoso.

Para além de um investidor extremamente bem-sucedido, Buffett também se tornou uma celebridade com os anos. E conseguiu furar a bolha do mercado financeiro, despertando o interesse por informações sobre investimentos entre públicos não especializados dos mais distintos.

Como ele conseguiu?

A performance de seus investimentos o lançou ao estrelato. O primeiro perfil de Buffett com chamada de capa no The Wall Street Journal, publicado em 1977, descreve como ele tinha feito o valor de um investimento de US$ 100 mil saltar para US$ 100 milhões em apenas 13 anos – e isso “silenciosamente, a partir de sua cidade natal”.

Mas isso não é tudo. Muitos outros excelentes gestores participam de conferências com relativa frequência – e em nenhuma delas se vê corre-corre e bate-boca na disputa pelas cadeiras das primeiras fileiras, como sempre acontece nas reuniões da Berkshire.

Há uma simplicidade autêntica em sua figura pública – Buffett é o investidor que optou por permanecer no interior, vivendo com hábitos frugais e bebendo a mesma Coca-Cola que você e eu, na mesma primeira casa que comprou ainda na juventude.

Com frequência, critica os excessos tão comuns em Wall Street e no mundo corporativo americano. Ao comentar sobre os recentes (e crescentes) investimentos em empresas japonesas na sua última carta aos acionistas da Berkshire, por exemplo, Buffett destacou que a diretoria dessas companhias era “bem menos agressiva nos programas de remuneração do que suas contrapartes nos EUA”. O salário de CEO e presidente de conselho de Buffett é de US$ 100 mil por ano há quatro décadas.

Ele também ficou conhecido do público em geral por aparecer em programas de televisão muito populares, como a série The Office – em um episódio exibido em 2011, Buffett interpretou um candidato ao cargo de gerente regional da Dunder Mifflin Paper Company.

Warren Buffett contracena com atores da série The Office em episódio exibido em 2011 (Foto: Reprodução YouTube)

Sua popularidade, na visão do “buffettologista” Alex Morris, autor do livro Buffett and Munger Unscripted (Buffett e Munger sem roteiro, numa tradução livre), tem a ver com seu conhecimento sobre uma grande variedade de assuntos e sua habilidade de comunicação. O megainvestidor sempre ressalta como um curso de oratória no renomado instituto Dale Carnegie Training, feito ainda nos anos 1950, foi definidor para seu sucesso profissional.

“Ele consegue se conectar tanto com pessoas que estão fazendo isso há décadas quanto com aquelas que não conhecem tanto de negócios e investimentos. Fala coisas que elas podem entender e gostar”

— Alex Morris

Para Adam J. Mead, outro “buffettologista”, autor de The complete financial history of Berkshire Hathaway. (A história financeira completa da Berkshire Hathaway, numa tradução livre), Buffett é apenas um ótimo professor. “Ele já disse que gostaria de ser lembrado dessa forma, como um professor”, diz.

“Buffett faz isso de uma maneira divertida, contando histórias. Volto a assistir os vídeos das reuniões de dez ou 20 anos atrás e elas ainda são interessantes, com nuances para aplicar ao que está acontecendo no momento. Há ainda muito a aprender com Warren Buffett e a Berkshire Hathaway”

— Adam J. Mead

Por isso, o anúncio de sua aposentadoria, feito por ele mesmo no sábado, foi recebido com um misto de reverência e tristeza entre os investidores presentes. Foi o “equivalente corporativo à demissão de Washington”, segundo Mead, mas feito bem ao estilo da Berkshire. Há anos a sucessão de Buffett por Greg Abel – aprovada no domingo (4) em reunião do conselho da empresa – era planejada e comunicada.

Foi um grande anúncio e há lógica em como foi feito, segundo Morris – afinal, Buffett “ainda é incrivelmente perspicaz, mas não tanto quanto era há cinco ou dez anos”, afirma. “Tenho esperança de que ainda teremos muitas reuniões anuais com Warren no palco”.

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