Aumento de tarifas nos EUA ameaça investimentos publicitários

A incerteza em torno das tarifas impostas por Donald Trump está a criar ondas de choque no setor publicitário norte-americano. Segundo um novo estudo da Kantar, 80% dos consumidores nos Estados Unidos manifestam preocupações sobre o impacto das tarifas nas suas finanças e hábitos de consumo. Wayne Levings, CEO da Kantar para o continente americano, revela a o site americano citado na Ad Age: “É provável que o setor veja menos marcas a investir na inovação até ter uma noção mais clara das tarifas que serão aplicadas e durante quanto tempo estarão em vigor.”

A pesquisa da Kantar aponta ainda que os consumidores estão a adotar estratégias de poupança, optando por promoções e privilegiando produtos alimentares e marcas próprias, ao mesmo tempo que restringem a aquisição de bens não essenciais. Sobre a impossibilidade de absorção total dos custos, Wayne Levings sublinha: “Claramente, se as tarifas forem de 30%, 40% ou 50%, não é possível as marcas absorverem esses níveis de tributação, pelo que as tarifas serão transferidas para os consumidores.”

Esta imprevisibilidade está, também, a afetar as decisões das marcas, que atrasam o lançamento de campanhas e produtos. Levings explica: “As empresas, por si só, preferem a certeza, mesmo que essa certeza implique tarifas elevadas, porque lhes permite planear, fazer escolhas de investimento e lançar campanhas.”

Para Martin Sorrell, fundador do grupo WPP e atual presidente executivo da S4 Capital, a situação reflete as dificuldades macroeconómicas globais. Em entrevista ao jornal britânico Financial Times, Sorrell apontou a redução dos orçamentos de marketing, sobretudo no setor tecnológico, como a razão por trás do prejuízo de 306,9 milhões de libras (€367,4 milhões) registado pela S4 Capital em 2024. “O desempenho da S4 reflete o impacto das difíceis condições macroeconómicas mundiais, a manutenção de taxas de juro elevadas e um desempenho inferior ao dos nossos mercados-alvo,” referiu.

Olhando para 2025, Sorrell antecipa um cenário de volatilidade, marcado por tensões económicas e políticas globais, desde as relações entre os Estados Unidos e a China, à guerra na Ucrânia e ao papel do Irão. “Os clientes provavelmente vão permanecer cautelosos”, prevê.