A operação para salvar o Banco Master da bancarrota
No fim do ano passado, o Banco Central convocou os dirigentes do Banco Master para uma reunião urgente em Brasília. Fez duas exigências à comitiva do Master, liderada por seu presidente, Daniel Vorcaro: que parasse com as operações arriscadas, como a emissão desenfreada de Certificados de Depósito Bancário (CDBs), e fizesse um aumento de capital de mais 2 bilhões de reais. Foi dado um prazo de três meses, até março deste ano, para os ajustes. Caso contrário, o banco seria liquidado e os donos teriam o patrimônio congelado e ficariam proibidos de operar no mercado. Banco de pequeno porte, o Master tinha nada menos que 50 bilhões de reais emitidos em CDBs – e não tinha fundos para pagar os mais de 12 bilhões de reais de CDBs que vencerão neste ano. A carteira de ativos do banco, que poderia servir de garantia para os pagamentos, estava recheada de empresas à beira do precipício ou em plena recuperação judicial. Os outros ativos não passavam de uma batelada de precatórios, títulos que ninguém sabe quando serão pagos, pois tudo depende de decisão judicial. Caso o Master viesse a quebrar, os investidores tinham uma única fonte de garantia de pagamento: o Fundo Garantidor de Créditos (FGC), mantido pelos próprios bancos, que garante o pagamento de depósitos de até 250 mil reais. A liquidação do Master consumiria quase metade do patrimônio do FGC, que é de 132 bilhões de reais. The post A operação para salvar o Banco Master da bancarrota first appeared on revista piauí.

No fim do ano passado, o Banco Central convocou os dirigentes do Banco Master para uma reunião urgente em Brasília. Fez duas exigências à comitiva do Master, liderada por seu presidente, Daniel Vorcaro: que parasse com as operações arriscadas, como a emissão desenfreada de Certificados de Depósito Bancário (CDBs), e fizesse um aumento de capital de mais 2 bilhões de reais. Foi dado um prazo de três meses, até março deste ano, para os ajustes. Caso contrário, o banco seria liquidado e os donos teriam o patrimônio congelado e ficariam proibidos de operar no mercado.
Banco de pequeno porte, o Master tinha nada menos que 50 bilhões de reais emitidos em CDBs – e não tinha fundos para pagar os mais de 12 bilhões de reais de CDBs que vencerão neste ano. A carteira de ativos do banco, que poderia servir de garantia para os pagamentos, estava recheada de empresas à beira do precipício ou em plena recuperação judicial. Os outros ativos não passavam de uma batelada de precatórios, títulos que ninguém sabe quando serão pagos, pois tudo depende de decisão judicial. Caso o Master viesse a quebrar, os investidores tinham uma única fonte de garantia de pagamento: o Fundo Garantidor de Créditos (FGC), mantido pelos próprios bancos, que garante o pagamento de depósitos de até 250 mil reais. A liquidação do Master consumiria quase metade do patrimônio do FGC, que é de 132 bilhões de reais.
O mineiro Vorcaro buscou a ajuda de seus dois sócios, o baiano Augusto Lima e o carioca Maurício Quadrado, para atender ao ultimato do BC. Contou ainda com os préstimos do seu maior parceiro de negócios, o também baiano Nelson Tanure, que o mercado suspeita ser sócio oculto do Master. Mas a turma não se empenhou em fazer o ajuste, ou aportar capital no banco, como queria o BC. Em vez disso, pediram socorro aos seus padrinhos políticos, em todas as latitudes ideológicas, de bolsonaristas a petistas.
Na tarde de 28 de março, o mercado foi surpreendido pela notícia de que o Banco de Brasília (BRB), uma instituição estatal de médio porte controlada pelo governo do Distrito Federal, cujo patrimônio líquido não passa de 3,7 bilhões de reais, decidiu comprar o Master por 2 bilhões de reais – exatamente o valor do aporte de capital que o BC exigira. O presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, já estava a par do negócio: ele já recebera um relatório de 2,6 mil páginas com a análise feita pela equipe técnica do BC da operação do Master e do BRB. Agora, tem 360 dias para avaliar o caso, prazo que o mercado considera uma temeridade.
Dúvidas começaram a pipocar: afinal, por que o BRB, que não tem maior expressão, compraria o Master, uma instituição de reputação tão duvidosa? “Não foi uma operação econômica. Foi uma operação política. Eles jogaram uma crise privada para o BRB pagar. Querem empurrar o problema para o povo de Brasília”, diz o jornalista Ricardo Cappelli, pré-candidato ao governo do Distrito Federal pelo PSB. O alvo de suas críticas é o atual governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha, do MDB. “Essa maluquice do Ibaneis coloca em risco a sustentação financeira do Distrito Federal como um todo. Quem vai arcar com as consequências é o Tesouro do Distrito Federal e, em última instância, o contribuinte.”
E por que Ibaneis Rocha teria interesse em colocar o BRB no negócio? “Vai ver que é porque a QL 15 é muito próxima da QL 5”, disse um ex-governador do Distrito Federal à Consuelo Dieguez, na edição deste mês da piauí. Traduzindo: QL é a sigla de “Quadra do Lago” em Brasília e a quadra de número 5, onde mora Ibaneis Rocha, não fica muito longe da quadra de número 15, onde vive o senador Ciro Nogueira (PP-PI), ex-ministro da Casa Civil de Jair Bolsonaro que desenvolveu uma relação sólida com Vorcaro.
A geografia da influência do banco não fica restrita às duas quadras. Quando comprou o Máxima e transformou em Master, Vorcaro procurou cercar-se de nomes influentes. Para os membros do Comitê Consultivo, estabeleceu salários na faixa de 100 mil reais e recorreu a figuras que pudessem dar credibilidade à instituição. Entre os consultores, estão Guido Mantega, que foi ministro da Fazenda nos governos Lula e Dilma Rousseff, e Henrique Meirelles, que comandou a economia no governo Michel Temer. Como noticiou o jornal O Globo, Mantega não demorou a bater à porta do presidente Lula para pedir que ajudasse a evitar a bancarrota do banco.
Assinantes da revista podem ler a íntegra da reportagem neste link.
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