A EDP já não é uma empresa chinesa? “Nós nunca fomos uma empresa chinesa”, afirma Miguel Stilwell d’Andrade
A EDP já tinha decidido reconfigurar a cadeia de fornecimentos, comprando equipamentos feitos nos EUA, por isso, está mais protegida da guerra comercial e de tarifas, explica Miguel Stilwell d’Andrade no podcast do ECO e da CNN, ‘O Mistério das Finanças’. “Claramente, o contexto é mais incerto, como dizem. Eu acho que uma das vantagens […]


A EDP já tinha decidido reconfigurar a cadeia de fornecimentos, comprando equipamentos feitos nos EUA, por isso, está mais protegida da guerra comercial e de tarifas, explica Miguel Stilwell d’Andrade no podcast do ECO e da CNN, ‘O Mistério das Finanças’. “Claramente, o contexto é mais incerto, como dizem. Eu acho que uma das vantagens de um portfólio como o da EDP, ou de uma empresa como a EDP, que é global, ao ter várias regiões, é conseguir alocar capital e conseguir gerir também em função das diferentes dinâmicas“. Apesar da queda das ações, o CEO do grupo EDP garante que os investidores de longo prazo aumentaram o peso na estrutura acionista, para 60% do capital. Afinal, a EDP já não é uma empresa chinesa? “Nós nunca fomos uma empresa chinesa“, responde, rápido. “Acho que temos conseguido manter este equilíbrio, temos um bom entendimento com a Administração dos Estados Unidos, temos obviamente uma excelente relação com a CTG, portanto temos conseguido manter este equilíbrio de crescer nos Estados Unidos tendo um acionista chinês“.
Miguel Stilwell d’Andrade, o enorme ‘elefante da sala’ é o assunto de que toda a gente fala em todo o mundo, a guerra comercial. Que impacto é que está a ter, nomeadamente no setor da energia?
Bom, acho que é inquestionável que estamos num mundo cada vez mais incerto e volátil. Aliás, temos visto aqui um agravar de tensão entre os Estados Unidos e grande parte do resto do mundo, se não todo o mundo, e esta guerra comercial vem num momento absolutamente chave. Nós já tínhamos visto este agravar de tensão entre os Estados Unidos e China, agora acho que se agravou muito nesta guerra comercial, mas como temos visto, acho que são também os Estados Unidos com a Europa, os Estados Unidos enfim, com um múltiplo de países. Para nós, em particular a EDP, temos um negócio grande nos Estados Unidos. Acho que a boa notícia é que já há dois anos tínhamos reconfigurado a nossa cadeia de fornecimento e, portanto, já estávamos a comprar equipamentos feitos nos Estados Unidos. E, portanto, desse ponto de vista, estamos bastante defendidos desta guerra comercial.
Por que é que decidiram começar a fazer essas compras? À data, já antecipando o que poderia ser o novo ciclo, o novo enquadramento global?
Sim, a verdade é que o Trump agora elevou mais o nível de tensão, mas já na administração Biden tinha ficado muito claro que os Estados Unidos não queriam ficar dependente nem da China, nem de qualquer outro país relativamente ao tema da energia. Já na altura da administração Biden, tornaram muito difícil, para não dizer impossível, importar, por exemplo, equipamentos da China ou mesmo do Sudoeste Asiático. Já na altura, tivemos alguns problemas graves de importação, por exemplo, de painéis solares para os Estados Unidos.
O Miguel Stilwell não é apenas um observador, naturalmente é um ator, a EDP tem operação em quatro continentes, tem uma operação completamente global. Como é que se gera, como é que se toma decisões num contexto como este?
Claramente, o contexto é mais incerto, como dizem. Eu acho que uma das vantagens de um portfólio como o da EDP, ou de uma empresa como a EDP, que é global, ao ter várias regiões, é conseguir alocar capital e conseguir gerir também em função das diferentes dinâmicas. Como referi, nos Estados Unidos, lá estamos bem protegidos e, portanto, continua a ser um dos nossos grandes motores de crescimento. Na Europa, temos uma boa presença também em países como a Alemanha, na Polónia, França, Itália, obviamente a Península Ibérica. E conseguimos ir gerindo, alocando capital, fazendo os investimentos, em função também de onde é que existem as melhores oportunidades. Apesar deste contexto incerto, a área da transição energética, a área de investimento nas renováveis e nas redes, continua a ter imensas oportunidades. Há imenso investimento por fazer. E, portanto, temos que escolher os países, temos que escolher os bons projetos, mas, apesar de tudo, acho que tivemos bastante oportunidade, mesmo dentro deste contexto de grande incerteza.
Para um gestor, é preferível uma decisão de tarifas aumentadas ou este impasse? Vamos esperar 90 dias e logo depois vê-se o nível de tarifas…
Sem dúvida, a incerteza é a pior coisa para o investimento. Tomar decisões de investimento, ou em geral tomar decisões quaisquer que sejam, num ambiente de incerteza, é a pior coisa. Portanto, esperemos que os EUA consigam chegar a acordos rapidamente com os vários países para definir exatamente qual é o nível de tarifas que se aplicam e com isso acho que os investidores passam, então, a poder tomar as suas decisões. Dito isso, isto aplica-se basicamente nos Estados Unidos e com digo, aí estamos bem defendidos. No resto do mundo, continuam a existir condições de comércio e acho que, razoavelmente, sem grandes problemas. Aliás, uma das preocupações na Europa é que haja uma enchente de produtos vindos da China que estavam destinados para os Estados Unidos e que de repente venham em regime de dumping [abaixo do preço de custo].
A União Europeia vai ter que impor cotas a produtos chineses para responder a esse avalanche que não vai para os Estados Unidos e vem para a União Europeia, não é?
Sim, isto pode ter um efeito um bocadinho dominó. De repente, torna-se mais difícil exportar para os Estados Unidos, e esses produtos vão parar a outros países. Veremos como é que a Europa vai reagir.
O que é que tem visto do ponto de vista do negócio e da EDP que possa ou não antecipar um abrandamento económico significativo nos Estados Unidos?
É uma questão interessante. Se me perguntasse há duas ou três semanas, diria que as perspetivas dos Estados Unidos em termos de crescimento, em termos de procura, por exemplo, de energia e de eletricidade, era enorme. Depois de uma ou duas décadas, basicamente, de estagnação de procura de energia elétrica, perspetivasse um crescimento muito grande agora durante os próximos anos. Por causa de todo o tema digital, da inteligência artificial, toda a criação de data centers, tudo isso, a maior industrialização dos Estados Unidos, tudo isso provocaria um aumento muito grande de procura de energia elétrica. Obviamente, se centrarmos [a análise] nos Estados Unidos, isso pode mudar um bocadinho as contas. Estamos a monitorizar bem…
…Mas consegue-se perceber ou antecipar o grau de probabilidade de uma recessão nos EUA tendo em conta os números operacionais da EDP?
Acho que ainda é muito cedo. Temos um par de semanas desta guerra comercial, portanto, ainda é muito cedo. Se conseguirem estabilizar e reduzir essa incerteza a curto prazo, sinceramente acredito que isto pode continuar a crescer, porque os Estados Unidos, de facto, têm imenso potencial. Se isto perdurar muito no tempo, então, aí sim, pode criar este ambiente de incerteza e de falta de decisões de investimento, e pode depois ter um impacto na economia. De qualquer forma, relativamente ao nosso negócio, a verdade é que vemos ainda muita procura por energia elétrica para alimentar os data centers, para alimentar todo o tema da inteligência artificial. Acho que ainda continuamos a ver esses sinais positivos, ainda não vimos um abrandamento. O mundo está a consumir cada vez mais energia, não é?
O mundo está a consumir cada vez mais energia, ao mesmo tempo que o mundo está a lidar ou a enfrentar problemas climáticos existenciais. Isso leva-nos ao nosso primeiro mistério, que foi trazido, aliás, por si. Tendo em conta uma aparente inversão de prioridades, pelo menos nos EUA, o investimento em energias renováveis continua a ser necessário?
Acho que a transição energética é inexorável. Isto vai acontecer. Podemos debater ou discutir o ritmo, se chegamos lá em 2050, se é 2055, se é 2045, mas a direção, para mim, está claríssima.
Não há uma inversão?
Não há uma inversão. Podemos discutir o ritmo, mas não há dúvida sobre a direção. Relativamente aos Estados Unidos, em particular, vamos ser claros, há de facto uma crescente procura, como eu já referi. O nuclear não vai estar disponível nos próximos dez anos… Obviamente há vontade dos Estados Unidos de avançar com o nuclear, mas não é uma tecnologia para o curto prazo. Ninguém vai construir novas centrais a carvão. No limite podem estender algumas das atuais, mas ninguém vai apostar em novas centrais. Portanto, sobram o gás e as renováveis. Se forem pedir uma turbina de gás para instalar, enfim, nos próximos tempos, não vão conseguir, o mais cedo que conseguiriam seria 2030, 2031, por isso, para fornecer a energia elétrica que for preciso para os próximos anos, só será realmente possível com energias renováveis. Seja o solar, seja uma bateria, seja eólica, isso vai continuar a existir. Isso nos Estados Unidos. Na Europa, para mim também é indiscutível, e por outras razões. Os Estados Unidos têm a sua independência energética também com os combustíveis fósseis. Mas a Europa não tem combustíveis fósseis, não tem petróleo, não tem gás nas quantidades necessárias. E portanto as renováveis, no fundo, tipicamente falamos num ‘trilema’ da energia. Neste caso, para a Europa, a independência energética é importantíssima. Poder produzir com renováveis, aproveitando a eólica, o vento, o sol, a chuva, permite-nos não ter que importar energia. Portanto, é ótimo do ponto de vista da Europa. Do ponto de vista de competitividade da energia, as renováveis são muito mais baratas do que as alternativas. O gás na Europa, por exemplo, é quatro vezes mais caro do que nos Estados Unidos, enquanto a energia elétrica produzida com renováveis é basicamente aos mesmos níveis dos Estados Unidos. O sol é igual, o vento é igual, a tecnologia, até é mais barata cá, portanto, consegue ser mais competitiva. E, portanto, a independência energética pode ser mais competitiva e, ainda por cima, é mais limpa… Indo ao ponto das alterações climáticas, se ainda por cima é mais limpa e não emite CO₂, as energias renováveis fazem todo o sentido.
Se as alternativas são mais caras e mais morosas, como a nuclear, por exemplo, e se a Europa tem um problema de dependência energética, basta ver o que aconteceu com a Alemanha e o o gás russo, então, qual a razão para não se avançar mais rapidamente no investimento nas renováveis?
Acho que um dos grandes problemas da Europa, e não é específico ao setor da energia, tem a ver com os prazos de licenciamento, tem a ver com a carga administrativa, com a burocracia. A Europa tem muitas forças, é um bloco, se pensarmos isto num bloco do ponto de vista de população, do ponto de vista de PIB, é dos mais fortes, ao nível dos Estados Unidos, mas depois tem um grande problema de implementação, um grande problema de execução. E nós o que temos defendido desde há muito é que não precisamos de mais de legislação, não precisamos de mais regulamentação da Europa, precisamos de execução. Conseguir construir um projeto de renováveis demora muitas vezes sete, oito anos. A parte da construção demora 12 a 18 meses. Dos sete anos, 12 a 18 meses, é que são a parte de construção mesmo. O resto são licenciamentos. E é isso que ocorre muitas vezes na Europa. É burocracia. É muito impressionante a quantidade de vezes que aqui nesta mesa já ouvimos na mesma frase diferentes convidados a palavra Europa e a palavra burocracia, a palavra mudança.
Tendo em conta a experiência internacional da EDP, como é que Portugal compara com outros países em matéria de licenciamento e burocracia?
Acho que Portugal até está relativamente bem, acho que obviamente não está onde gostaríamos que estivesse, mas estamos em 12 países europeus, incluindo, como digo, os grandes, incluindo a Alemanha, a França, a Itália, E vemos países que têm uma carga administrativa ainda pior. Por exemplo, França e Itália, infelizmente, têm imenso potencial, têm imensa vontade de fazer mais renováveis e até são bons projetos, mas é muito difícil construí-los por estes atrasos de licenciamento e burocracia. Em Portugal, já agora, e acho que uma das coisas que vale a pena salientar, é que realmente temos feito esse caminho. Portugal é dos países com mais penetração de renováveis na Europa, e diria mesmo do mundo. 71% da geração elétrica no ano passado foi [feita] a partir de fontes renováveis, eólica, solar ou hídrica. Obviamente essa energia é limpa, nós sabemos, mas…
…reflete-se no custo do consumidor? Esse volume de energia limpa reflete-se na fatura?
Neste momento o consumidor português tem um preço que está 16% abaixo da média europeia. E do ponto de vista grossista, está mais de 20% abaixo da média europeia. Ou seja, de facto, com esta penetração de renováveis, temos um preço bastante abaixo da média europeia. Penso que há uns anos, recordam-se, havia o mito que tínhamos de preços de energia pouco competitivos. Hoje em dia, acho que é um fator de competitividade de Portugal e de Espanha, que também tem uma elevada penetração de renovável. E acrescentava só mais um que que me parece relevante. Em 2022, recordam-se, tivemos uma crise energética, em 2022, 2023, os preços dispararam na Europa por causa do preço do gás, quando se cortou o gás da Rússia. Nós, em Portugal, se repararem, não tivemos uma crise energética. Porquê? Porque tínhamos uma grande penetração de renováveis que é imune ao preço do gás e do petróleo. Portanto, o consumidor português não teve aumentos da fatura. Nós, por exemplo, na Alemanha e em França, houve aumentos que eram o dobro ou o triplo. De repente, o cliente recebia em casa uma fatura que era o triplo daquilo que tinham recebido há um ano.
O preço da ação não reflete o passado, reflete as expectativas futuras. Eu acho que este ambiente de incerteza relativamente à geopolítica, incerteza relativamente às políticas macroeconómicas nos Estados Unidos, relativamente à erra tarifária, tudo isso gera aqui um ambiente em que os investidores de mais curto prazo vendem, esperam que a poeira assente e depois já tomam a sua decisão se voltam a entrar ou não. Mas acho que é interessante que os nossos acionistas de longo prazo reforçaram neste período. Atualmente os nossos dez maiores acionistas representam 60% do capital.
A perspetiva é que essa estabilidade de preços vai manter-se com o aumento do peso das energias renováveis?
Sim, e vemos uma tendência decrescente dos preços em Portugal, à medida que, obviamente, essas energias renováveis vão entrando. É uma vantagem competitiva, como eu digo, obviamente para o consumidor doméstico, importantíssimo, para o cliente empresarial também. Ou seja, indústrias eletrointensivas têm aqui uma boa oportunidade. O que é que eu acrescentava? Mas isto não é só um tema de preço de energia. Como sabem, na fatura, muitas vezes existem mais coisas, impostos, existem uma série de outros custos que não têm nada a ver com o preço de energia. E isso sim é uma das coisas que às vezes torna os países menos competitivos. Portanto, não é tanto um tema de custo de energia, é um tema dos outros custos que estão metidos na fatura.
Isso é um bom ponto talvez para passarmos ao segundo mistério desta semana. Apesar do retrato que acaba de fazer sobre a importância e necessidade das energias renováveis, o que aconteceu ao valor do grupo EDP em bolsa no ano de 2024? A EDP Renováveis perdeu mais de oito mil milhões de euros em bolsa e a EDP cerca de seis mil milhões. Este ano, a EDP Renováveis recuperou ligeiramente, enquanto a EDP continuou a cair. Os investidores não estão a dizer que o grupo EDP está no sítio certo.
Acho que é importante separar duas coisas. Uma coisa é a performance da empresa, operacional, os resultados financeiros, resultados operacionais. E outra coisa é o preço da ação. Relativamente aos resultados, em 2024 foi um excelente ano. Nós tivemos bons resultados operacionais, não só do ponto de vista financeiro, em termos de resultado líquido. Temos um balanço sólido, portanto, já estamos em investment grade, triple B, uma conquista de há uns anos para cá, mas mantemos esse balanço sólido. Batemos um recorde em termos de instalações de novos projetos, 4.000 megawatts, enfim, é um número quase praticamente o dobro do que o que tinha sido o ano anterior. E 95% da nossa geração foi renovável. Há 20 anos, a componente de renováveis na nossa geração era de 20%, há cinco anos era de 70%, neste momento é de 95%, portanto já fizemos a transição. Bons resultados financeiros, bons resultados operacionais, balanço sólido, isso é a fotografia da empresa…
Com dois contratempos pesados, na Colômbia e no offshore dos EUA…
…Aproveitámos para limpar esses dois projetos, a da Colômbia, que realmente era um projeto já muito problemático, e provisionámos também um valor para os projetos de offshore eólico nos Estados Unidos, assumindo que vão atrasar-se quatro anos.
E foi isso que fez com que os resultados líquidos caíssem de 16%?
Aproveitámos que tínhamos tido bons resultados para limpar, para assumir essas perdas. O preço da ação não reflete o passado, reflete as expectativas futuras. Eu acho que este ambiente de incerteza relativamente à geopolítica, incerteza relativamente às políticas macroeconómicas nos Estados Unidos, relativamente à erra tarifária, tudo isso gera aqui um ambiente em que os investidores de mais curto prazo vendem, esperam que a poeira assente e depois já tomam a sua decisão se voltam a entrar ou não. Mas acho que é interessante que os nossos acionistas de longo prazo reforçaram neste período. Atualmente os nossos dez maiores acionistas representam 60% do capital.
Afinal, a EDP já não é uma empresa chinesa, ao contrário do que se diz…
Nós nunca fomos uma empresa chinesa. Claramente, temos 40% na mão de nove acionistas… Americanos, do Abu Dhabi, europeus, canadianos, de Singapura. Portanto, temos uma ótima estrutura acionista. Essa composição da nossa estrutura dá-nos perspetivas para conseguirmos aguentar agora também os próximos tempos, porque eles realmente pensam a cinco anos, a dez anos, e não necessariamente qual vai ser o preço nos próximos dias.
A EDP está nos Estados Unidos, tem um acionista de referência chinês. Alguma vez a EDP foi confrontada com essa questão, de uma forma direta, pelas autoridades americanas, nomeadamente políticas e ou regulatórias?
Bom, acho que a primeira coisa a dizer é que nós temos a China Three Gorges (CTG) desde desde 2012, temos tido uma excelente cooperação e relação ao longo destes muitos anos, enquanto acionista, também têm alguns representantes no Conselho de Supervisão. Portanto, acho que a relação [com a CTG] é excelente…
…o problema é o que os Estados Unidos decidem sobre essa relação…
…mas ia terminar e dizer que, ao longo deste período, temos conseguido sempre crescer nos Estados Unidos, independentemente dessa estrutura acionista.
Mas pode ser um constrangimento no futuro? Nas atuais circunstâncias, chamemos de geopolíticas, para quem tem a operação nos Estados Unidos e também tem acionistas norte-americanos, ter um acionista chinês pode vir a ser um constrangimento?
Acho que temos conseguido manter este equilíbrio, temos um bom entendimento com a Administração dos Estados Unidos, temos obviamente uma excelente relação com a CTG, portanto temos conseguido manter este equilíbrio de crescer nos Estados Unidos tendo um acionista chinês. Obviamente, vamos monitorizando a situação, mas até agora temos encontrado esses compromissos e esses equilíbrios.
Não espera acordar um dia deste como o TiK ToK?
Espero que não.
Como é que se consegue recuperar o valor da ação, porque seguramente estes não são os números que gostaria de ter?
Acho que há coisas que dependem de nós e há outras coisas que são externas. Naquilo que depende de nós, o que temos vindo a fazer é, por um lado, ajustar as expectativas em termos de crescimento e, portanto, ajustar este ciclo para sermos mais prudentes, para defendermos o balanço. Estamos a apontar para instalar cerca de dois gigawatts este ano, um gigawatt e meio no próximo ano.
Cerca de metade do que estava no plano estratégico anterior…
… nove mil milhões de euros de investimento, 1,5 mil milhões em Portugal. Portanto, ajustámos as expectativas em termos de crescimento, temos um plano de eficiência forte, obviamente para adequar também a empresa a este contexto.
Com rescisões, pela primeira vez.
Nós utilizamos todas as ferramentas, mas faz parte dos programas de eficiência que temos nas várias geografias. E, portanto, no fundo isto são ciclos. Nós estamos a adaptar-nos a um ciclo de menor crescimento, mas mantendo a flexibilidade depois de voltar a acelerar ou desacelerar em função também daquilo que vier a acontecer nas várias geografias. Isto é o que depende de nós. Externamente, estamos à espera de perceber melhor como é que aterra a política energética nos Estados Unidos, a política macroeconómica, algumas coisas também em Portugal. Por exemplo, vamos ter também uma proposta da ERSE a 15 de outubro relativamente à distribuição, portanto, ao negócio das redes em Portugal, e vamos ter uma coisa parecida também em Espanha. Portanto, pós-verão vamos também ter mais visibilidade sobre as perspetivas de crescimento nesse negócio também. O nosso objetivo é que, no final do ano, possamos ir ao mercado com o plano revisto, já incorporando toda esta informação, e dar mais visibilidade sobre…
Ainda recentemente, teve a oportunidade de dar uma entrevista a um jornal espanhol em que desmentia a possibilidade de fusão ibérica. Porque é que rejeita ganhar escala, juntando-se a um parceiro espanhol?
Acho que o que é importante para uma empresa é ter o seu caminho próprio. Nós temos de ter o nosso caminho, o nosso projeto industrial, tem de ser atrativo para os acionistas e temos de estar concentrados nisso. Não vamos estar concentrados agora em especulações sobre fusões ou decisões. Temos de estar concentrados em entregar resultados dia após dia, ano após ano e é isso que temos como objetivo.
Há outro caminho, aliás, já tentado e que falhou: A fusão da EDP com a EDP Renováveis. Tendo em conta estas cotações em queda e tendo em conta que o Miguel Stilwell é presidente das duas e tem estrutura de liderança do grupo que é comum às duas empresas, quando é que avança para uma proposta de uma fusão da EDP com a EDP Renováveis?
A resposta que dou sempre é que estamos confortáveis com a atual estrutura, que vem desde o ano de 2008.
Estão confortáveis? Com uma duplicação de custos e de ineficiência?
Eu sou presidente das duas, portanto não há duplicação de custos. Temos feito um grande esforço de integração. Uma está em Madrid, outra está aqui, em Lisboa.
Tem que andar de um lado para o outro…
Eu passo o meu tempo a viajar, mas também faz parte do trabalho. Realmente temos procurado fazer uma integração das estruturas, seguramente tudo aquilo que é parte do Back Office, das estruturas de suporte, Tudo que sejam estruturas que possam ser duplicadas, temos evitado fazer isso.
Só falta mesmo a fusão…
…parte do esforço de eficiência. Precisamente, não queremos ser obrigados a ter que fazer a fusão. Faremos a fusão, se fizer sentido, em determinado momento. Mas, neste momento, estamos confortáveis.