Vida em outro planeta? O que se sabe sobre a descoberta no planeta K2-18 b

Foram detectados na atmosfera desse planeta impressões químicas de gases que, na Terra, são produzidos apenas por processos biológicos. Ilustração do planeta K2-18b, um mundo distante que pode abrigar vida. Divulgação Com a ajuda do telescópio espacial James Webb, cientistas anunciaram uma descoberta que pode revolucionar a busca pela vida fora da Terra: foram detectados, na atmosfera de outro planeta, gases que, no nosso planeta, só são produzidos por processos biológicos. Segundo os pesquisadores, esses são sinais mais fortes até agora de possível vida além do nosso sistema solar. Confira abaixo perguntas e respostas com o resumo sobre o que se sabe até agora sobre a descoberta: O que os pesquisadores anunciaram objetivamente? Quem conduziu a pesquisa e o onde foi publicada? A descoberta é uma prova de vida alienígena? Já é uma prova definitiva ou mais observações são necessárias? Quais os anúncios anteriores mais relevantes? Os seres humanos vão poder habitar esse planeta? Quais as características desse planeta que pode abrigar vida? 1. O que os pesquisadores anunciaram objetivamente? Os cientistas que conduziram a pesquisa anunciaram que foram detectados na atmosfera de um planeta alienígena as impressões químicas de gases que, na Terra, são produzidos apenas por processos biológicos. Os dois gases — dimetil sulfeto (DMS) e dissulfeto de dimetila (DMDS) — observados no planeta chamado K2-18 b, são gerados na Terra por organismos vivos, principalmente por vida microbiana como o fitoplâncton marinho (algas). 2. Quem conduziu a pesquisa e o onde foi publicada? A pesquisa foi conduzida por uma equipe de cientistas da Universidade de Cambridge, nos Estados Unidos. O estudo tem como principal autor o astrônomo da universidade, Nikku Madhusudhan. Os resultados foram publicados na quarta-feira (16) na revista científica "Astrophysical Journal". 3. A descoberta é uma prova de vida alienígena? Ainda não. De acordo com os cientistas, a descoberta sugere que o planeta pode estar repleto de vida microbiana, segundo os pesquisadores. No entanto, eles enfatizaram que não estão anunciando a descoberta de organismos vivos, mas sim de uma possível bioassinatura — um indicativo de processo biológico — e que os achados devem ser vistos com cautela. Ainda assim, os eles demonstram entusiasmo. “Esses são os primeiros indícios de um mundo alienígena possivelmente habitado”, disse o astrofísico Nikku Madhusudhan. Segundo os pesquisadores, nesse planeta, caso existam, é de se esperar vida microbiana, possivelmente semelhante à encontrada nos oceanos da Terra. Os oceanos desses planetas seriam mais quentes. Quanto à possibilidade de organismos multicelulares ou vida inteligente, Madhusudhan é cauteloso: “Não podemos responder essa pergunta neste estágio. A suposição básica é de vida microbiana simples.” 4. Já é uma prova definitiva ou mais observações são necessárias? Apesar de verem a descoberta com muito otimismo e entusiasmo, os cientistas admitem que ainda são necessários mais estudos e observações. “Primeiro, precisamos repetir as observações duas ou três vezes para garantir que o sinal é real e aumentar a significância da detecção, até que a probabilidade de erro estatístico seja menor que uma em um milhão”, disse Madhusudhan. Ele ainda afirmou que é preciso realizar mais estudos teóricos e experimentais para garantir se não há um mecanismo abiótico (sem envolver vida) que possa produzir DMS ou DMDS em uma atmosfera como a do K2-18 b. 5. Quais os anúncios anteriores mais relevantes? Desde os anos 1990, cerca de 5.800 exoplanetas (planetas fora do nosso sistema solar) foram descobertos. Cientistas têm criado hipóteses sobre a existência dos chamados mundos hycean — cobertos por oceanos de água líquida habitáveis por microrganismos, com atmosfera rica em hidrogênio. Observações anteriores do Webb, que foi lançado em 2021 e entrou em operação em 2022, já haviam identificado metano e dióxido de carbono na atmosfera de K2-18 b — a primeira vez que moléculas baseadas em carbono foram detectadas na atmosfera de um exoplaneta na zona habitável de uma estrela. 6. Os seres humanos vão poder habitar esse planeta? É impossível afirmar isso ainda. Ainda que a descoberta seja um avanço na busca por vida em outros planetas e seja extremamente relevante, é cedo para concluir quais serão os próximos passos dessa descoberta. É uma pista. Mas ainda não podemos concluir que seja habitável", afirmou o cientista planetário da Universidade Johns Hopkins, Stephen Schmidt, ao jornal The New York Times. Isso porque primeiro é preciso descobrir se realmente há vida nesse planeta para, só então, entender as condições que permitem esses organismos sobreviverem. 7. Quais as características desse planeta que pode abrigar vida? K2-18 b é 8,6 vezes mais massivo que a Terra e tem um diâmetro cerca de 2,6 vezes maior. Ele orbita na “zona habitável” — uma distância de sua estrela onde a água líquida pode existir na superfície — de uma anã vermelha me

Abr 17, 2025 - 06:18
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Vida em outro planeta? O que se sabe sobre a descoberta no planeta K2-18 b

Foram detectados na atmosfera desse planeta impressões químicas de gases que, na Terra, são produzidos apenas por processos biológicos. Ilustração do planeta K2-18b, um mundo distante que pode abrigar vida. Divulgação Com a ajuda do telescópio espacial James Webb, cientistas anunciaram uma descoberta que pode revolucionar a busca pela vida fora da Terra: foram detectados, na atmosfera de outro planeta, gases que, no nosso planeta, só são produzidos por processos biológicos. Segundo os pesquisadores, esses são sinais mais fortes até agora de possível vida além do nosso sistema solar. Confira abaixo perguntas e respostas com o resumo sobre o que se sabe até agora sobre a descoberta: O que os pesquisadores anunciaram objetivamente? Quem conduziu a pesquisa e o onde foi publicada? A descoberta é uma prova de vida alienígena? Já é uma prova definitiva ou mais observações são necessárias? Quais os anúncios anteriores mais relevantes? Os seres humanos vão poder habitar esse planeta? Quais as características desse planeta que pode abrigar vida? 1. O que os pesquisadores anunciaram objetivamente? Os cientistas que conduziram a pesquisa anunciaram que foram detectados na atmosfera de um planeta alienígena as impressões químicas de gases que, na Terra, são produzidos apenas por processos biológicos. Os dois gases — dimetil sulfeto (DMS) e dissulfeto de dimetila (DMDS) — observados no planeta chamado K2-18 b, são gerados na Terra por organismos vivos, principalmente por vida microbiana como o fitoplâncton marinho (algas). 2. Quem conduziu a pesquisa e o onde foi publicada? A pesquisa foi conduzida por uma equipe de cientistas da Universidade de Cambridge, nos Estados Unidos. O estudo tem como principal autor o astrônomo da universidade, Nikku Madhusudhan. Os resultados foram publicados na quarta-feira (16) na revista científica "Astrophysical Journal". 3. A descoberta é uma prova de vida alienígena? Ainda não. De acordo com os cientistas, a descoberta sugere que o planeta pode estar repleto de vida microbiana, segundo os pesquisadores. No entanto, eles enfatizaram que não estão anunciando a descoberta de organismos vivos, mas sim de uma possível bioassinatura — um indicativo de processo biológico — e que os achados devem ser vistos com cautela. Ainda assim, os eles demonstram entusiasmo. “Esses são os primeiros indícios de um mundo alienígena possivelmente habitado”, disse o astrofísico Nikku Madhusudhan. Segundo os pesquisadores, nesse planeta, caso existam, é de se esperar vida microbiana, possivelmente semelhante à encontrada nos oceanos da Terra. Os oceanos desses planetas seriam mais quentes. Quanto à possibilidade de organismos multicelulares ou vida inteligente, Madhusudhan é cauteloso: “Não podemos responder essa pergunta neste estágio. A suposição básica é de vida microbiana simples.” 4. Já é uma prova definitiva ou mais observações são necessárias? Apesar de verem a descoberta com muito otimismo e entusiasmo, os cientistas admitem que ainda são necessários mais estudos e observações. “Primeiro, precisamos repetir as observações duas ou três vezes para garantir que o sinal é real e aumentar a significância da detecção, até que a probabilidade de erro estatístico seja menor que uma em um milhão”, disse Madhusudhan. Ele ainda afirmou que é preciso realizar mais estudos teóricos e experimentais para garantir se não há um mecanismo abiótico (sem envolver vida) que possa produzir DMS ou DMDS em uma atmosfera como a do K2-18 b. 5. Quais os anúncios anteriores mais relevantes? Desde os anos 1990, cerca de 5.800 exoplanetas (planetas fora do nosso sistema solar) foram descobertos. Cientistas têm criado hipóteses sobre a existência dos chamados mundos hycean — cobertos por oceanos de água líquida habitáveis por microrganismos, com atmosfera rica em hidrogênio. Observações anteriores do Webb, que foi lançado em 2021 e entrou em operação em 2022, já haviam identificado metano e dióxido de carbono na atmosfera de K2-18 b — a primeira vez que moléculas baseadas em carbono foram detectadas na atmosfera de um exoplaneta na zona habitável de uma estrela. 6. Os seres humanos vão poder habitar esse planeta? É impossível afirmar isso ainda. Ainda que a descoberta seja um avanço na busca por vida em outros planetas e seja extremamente relevante, é cedo para concluir quais serão os próximos passos dessa descoberta. É uma pista. Mas ainda não podemos concluir que seja habitável", afirmou o cientista planetário da Universidade Johns Hopkins, Stephen Schmidt, ao jornal The New York Times. Isso porque primeiro é preciso descobrir se realmente há vida nesse planeta para, só então, entender as condições que permitem esses organismos sobreviverem. 7. Quais as características desse planeta que pode abrigar vida? K2-18 b é 8,6 vezes mais massivo que a Terra e tem um diâmetro cerca de 2,6 vezes maior. Ele orbita na “zona habitável” — uma distância de sua estrela onde a água líquida pode existir na superfície — de uma anã vermelha menor e menos luminosa que o Sol, localizada a cerca de 124 anos-luz da Terra, na constelação de Leão. Ele pertence à classe de planetas “sub-Netuno”, com diâmetro maior que o da Terra, mas menor que o de Netuno (o menor gigante gasoso do nosso sistema solar). As incríveis chuvas de meteoros que poderão ser observadas do Brasil Um “mundo hycean” Desde os anos 1990, cerca de 5.800 exoplanetas (planetas fora do nosso sistema solar) foram descobertos. Cientistas têm criado hipóteses sobre a existência dos chamados mundos hycean — cobertos por oceanos de água líquida habitáveis por microrganismos, com atmosfera rica em hidrogênio. Observações anteriores do Webb, que foi lançado em 2021 e entrou em operação em 2022, já haviam identificado metano e dióxido de carbono na atmosfera de K2-18 b — a primeira vez que moléculas baseadas em carbono foram detectadas na atmosfera de um exoplaneta na zona habitável de uma estrela. “O único cenário que atualmente explica todos os dados obtidos até agora pelo JWST, incluindo as observações passadas e atuais, é aquele onde K2-18 b é um mundo hycean repleto de vida”, disse Madhusudhan. “No entanto, precisamos estar abertos e continuar explorando outros cenários.” Segundo ele, nesses mundos, caso existam, é de se esperar vida microbiana, possivelmente semelhante à encontrada nos oceanos da Terra. Os oceanos desses planetas seriam mais quentes. Quanto à possibilidade de organismos multicelulares ou vida inteligente, Madhusudhan foi cauteloso: “Não podemos responder essa pergunta neste estágio. A suposição básica é de vida microbiana simples.” Os gases DMS e DMDS, pertencentes à mesma família química, têm sido apontados como importantes bioassinaturas em exoplanetas. O telescópio detectou a presença de um ou outro (ou ambos) na atmosfera do planeta com 99,7% de confiança estatística, o que ainda deixa uma chance de 0,3% de ser um erro ou ruído estatístico. Eles foram detectados em concentrações atmosféricas superiores a 10 partes por milhão em volume. “Para comparação, isso é milhares de vezes mais do que suas concentrações na atmosfera da Terra, e não pode ser explicado sem atividade biológica, segundo o conhecimento atual”, afirmou Madhusudhan. Cientistas que não participaram do estudo recomendaram cautela. “Os dados de K2-18 b são riquíssimos, tornando-o um mundo fascinante”, disse Christopher Glein, cientista do Southwest Research Institute, no Texas. “Esses novos dados são uma contribuição valiosa, mas devemos testá-los o máximo possível. Espero ver mais análises independentes já na próxima semana.” LEIA TAMBÉM: Telescópio Webb registra planeta sendo engolido por uma estrela; veja Cientistas criam imagem que mostra circuito de neurônios no cérebro Método de trânsito K2-18 b pertence à classe de planetas “sub-Netuno”, com diâmetro maior que o da Terra, mas menor que o de Netuno (o menor gigante gasoso do nosso sistema solar). Para determinar a composição química da atmosfera de um exoplaneta, os astrônomos analisam a luz de sua estrela enquanto o planeta passa na frente dela do ponto de vista da Terra — isso é chamado de método de trânsito. Durante esse trânsito, parte da luz da estrela atravessa a atmosfera do planeta e, ao ser captada pelo telescópio, permite determinar os gases presentes. As observações anteriores do Webb já haviam sugerido a presença de DMS. As novas observações usaram um instrumento diferente e outra faixa de luz para confirmação. “O Santo Graal da ciência de exoplanetas”, disse Madhusudhan, “é encontrar evidências de vida em um planeta parecido com a Terra, fora do nosso sistema solar.” Madhusudhan disse que a humanidade se pergunta há milênios se estamos sozinhos no universo, e que agora talvez estejamos a apenas alguns anos de descobrir uma possível vida alienígena em um mundo hycean. Mas ele ainda pediu prudência: “Primeiro, precisamos repetir as observações duas ou três vezes para garantir que o sinal é real e aumentar a significância da detecção, até que a probabilidade de erro estatístico seja menor que uma em um milhão”, disse. “Segundo, precisamos de mais estudos teóricos e experimentais para garantir se não há um mecanismo abiótico (sem envolver vida) que possa produzir DMS ou DMDS em uma atmosfera como a de K2-18 b.” Apesar de estudos anteriores já considerarem esses gases como bioassinaturas confiáveis, inclusive nesse planeta, Madhusudhan conclui: “É um grande se que os dados estejam mesmo apontando para vida. E não interessa a ninguém afirmar prematuramente que detectamos vida.” Nasa divulga registro inédito do supertelescópio James Webb