Os desafios que apelam à tomada de decisão das empresas, segundo a LLYC

Num mundo em constante mudança e em que surgem novos protagonistas políticos — nomeadamente nos Estados Unidos e na Europa — começam a dar-se profundas alterações nas políticas comerciais, novas formas de interagir com a tecnologia e transformações demográficas drásticas. Perante este cenário, os decisores não podem ignorar as mudanças em desenvolvimento, até porque as […]

Abr 22, 2025 - 10:51
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Os desafios que apelam à tomada de decisão das empresas, segundo a LLYC

Num mundo em constante mudança e em que surgem novos protagonistas políticos — nomeadamente nos Estados Unidos e na Europa — começam a dar-se profundas alterações nas políticas comerciais, novas formas de interagir com a tecnologia e transformações demográficas drásticas.

Perante este cenário, os decisores não podem ignorar as mudanças em desenvolvimento, até porque as mesmas “têm impacto em todas as atividades e atitudes humanas”, desde o consumo, às relações laborais, ideias políticas ou valores fundamentais.

Neste contexto, a LLYC elaborou o relatório “Liderar, Decidir com Ousadia”, um documento que pretende funcionar como “guia das realidades que devem ser tidas em conta por todos aqueles cujo trabalho consiste em tomar decisões, desde o CEO de uma empresa até aos responsáveis pelos departamentos de finanças, marketing ou talento”.

Este estudo a consultora identificou nove “realidades incontornáveis” e analisou como estas podem ser geridas de forma estratégica para mitigar riscos e capitalizar oportunidades. A afirmação da IA, o retrocesso nos valores e políticas de diversidade e sustentabilidade, o crescimento da desinformação, em que “cada um estará na rede social onde pode consumir opiniões como a sua e ignorar as outras”, ou a fragmentação geopolítica são assim alguns dos desafios que moldam o futuro das empresas e aos quais as mesmas devem prestar atenção, nomeadamente para a tomada de decisão.

1. Um ciclo de mudança permanente

A mudança permanente e, desta vez, pode ser “mais radical”, começa por alertar a LLYC, observando que se acabou de experienciar um “super ciclo eleitoral”, com eleições em vários países como EUA ou Reino Unido — onde os cidadãos exigiram uma “mudança radical” — e com governos de outros países a ser forçados a formar novas coligações e a acolher novos atores políticos como aconteceu na Índia, França ou África do Sul.

“Mas a mudança política não é a única mudança. Faz parte de um processo tecnológico, cultural e económico mais vasto que engloba praticamente tudo. Isso irá criar uma grande instabilidade, mas também, possivelmente, algumas oportunidades. Fala-se sempre de mudança. Mas, desta vez, é provável que seja mais radical”, refere a empresa.

2. Afirmação da IA

Com a inteligência artificial a afirmar-se e a tentar-se perceber a dimensão do seu impacto, começa um “momento chave” para se saber o que se pode esperar do avanço da IA, numa altura em que cresce a concorrência “cada vez mais feroz entre empresas e modelos de IA”. A inteligência artificial afeta o bem-estar das pessoas, a gestão de talento, a deteção de grandes padrões e a automatização dos processos, tendo assim um “enorme impacto nas empresas”.

“A IA não é uma moda, é a base da próxima revolução industrial e as empresas que a adotarem no seu modelo vão liderar a próxima década”, diz Miguel Lucas, diretor global de inovação da LLYC.

“A ousadia e a antecipação serão fundamentais. As empresas que adotarem a IA de forma proativa e estratégica serão as que irão liderar na próxima década. Não se trata apenas de tecnologia, mas de reinventar modelos de negócio, otimizar recursos e, acima de tudo, antecipar-se às necessidades do mercado. A IA não é uma moda; é a base da próxima revolução industrial. E aqueles que não embarcarem estarão simplesmente fora do jogo”, acrescenta.

3. Recuo nos valores

O novo clima político — desde logo com a alteração de Governo nos EUA — veio ditar que muitas empresas estejam a abandonar os modelos DEI (Diversidade, Equidade e Inclusão) e ESG (Ambiente, Sustentabilidade e Governação), pelo que a LLYC antecipa um cenário provável de conflito com a visão europeia e as suas regulamentações.

No entanto, “enquanto os clientes, os colaboradores, os fornecedores, os acionistas e a sociedade em geral continuarem a ser pluralistas, defender a pluralidade é uma mais-valia. Enquanto os recursos forem escassos ou o clima continuar a aquecer, ser sustentável é uma estratégia vencedora. O modelo DEI e o modelo ESG não foram apenas uma moda, mas uma demonstração de orgulho e uma boa aposta a longo prazo”, refere a LLYC.

“É possível avançar, mesmo neste ambiente tão difícil, mas isso exige uma abordagem muito mais ponderada, baseada numa análise abrangente do ambiente e dos cenários possíveis. A narrativa resultante deve ser promovida aos mais altos níveis da organização e é importante que seja interiorizada pelas equipas de liderança das empresas”, aconselha Luisa García, partner & global CEO of corporate affairs.

4. Inação é o pior inimigo

Quando se quer que o sucesso perdure, o pior inimigo é a inação, defende a LLYC, que dá como exemplo a transição da fotografia analógica para a digital: as empresas dedicadas à primeira tiveram tanto sucesso que muitas tiveram dificuldade em “desaprender”, inovar e mudar o seu modelo. “Atualmente, sem nos darmos conta, muitos de nós podemos estar a cometer o grande erro da inação”, alerta a agência.

“Não se trata de tomar decisões sem rumo, mas de transformar a incerteza em vantagem competitiva. As empresas que desafiam as suas próprias certezas não só reagem melhor à mudança, como também a antecipam e a moldam a seu favor”, diz Luis Miguel Peña, partner and Europe CEO.

5. Desinformação

A desinformação já não se trata apenas de um “incómodo ocasional” mas antes do “novo ecossistema”, numa altura em que a Meta eliminou os controlos sobre os conteúdos, Elon Musk alterou o algoritmo do X e surgem novas redes sociais como a Bluesky ou a Rednote. “A fragmentação vai aumentar: cada um estará na rede social onde pode consumir opiniões como a sua e ignorar as outras”, vaticina a LLYC.

A desinformação, as falsas narrativas e a fragmentação ideológica vão assim dominar uma grande parte da conversa pública. “Neste contexto, os valores da empresa são suscetíveis de serem atacados ou manipulados em proveito próprio, sem que uma resposta formal ou a identificação da verdade seja uma resposta eficaz. É necessário refletir cuidadosamente sobre a forma de enfrentar a situação”, aconselha.

“Neste cenário, a criatividade e a inovação são mais cruciais do que nunca. Não basta que a informação seja precisa: as mensagens devem ligar-se aos públicos-alvo de forma emotiva, utilizando formatos dinâmicos, narrativas envolventes e estratégias que aproveitem a combinação de dados, tecnologia e segmentação inteligente”, refere Jorge López Zafra, partner & Europe corporate affairs general director da LLYC.

“Por último, a criação de conteúdos próprios é a única forma de se posicionarem como fonte primária de informação fiável. As empresas que conseguirem integrar estratégia, criatividade e tecnologia na sua gestão da desinformação serão as que não só protegerão a sua reputação, mas também reforçarão a sua liderança num ambiente em que a perceção é tão determinante como a realidade”, acrescenta.

6. Mudanças na regulamentação

Num mundo onde a regulamentação está a mudar cada vez mais rápido, “sentar-se à mesa onde são tomadas as decisões regulamentares tornar-se-á cada vez mais importante”. Da mesma forma que as entidades reguladoras “estão cada vez mais conscientes de que precisam de conhecer a experiência dos agentes económicos”, estes sabem também “cada vez melhor como se devem organizar para serem ouvidos de forma transparente”.

“Perante este cenário, não basta ter uma agenda para defender os interesses da empresa e, ao mesmo tempo, contribuir positivamente para as políticas públicas. São necessários dados para estabelecer uma ligação com o sentimento do eleitorado que julgará legisladores e governadores. E é necessária uma elevada capacidade de comunicação para conjugar interesses contraditórios em questões de enorme complexidade. Inovação e criatividade, também aplicadas aos assuntos públicos”, diz Iván Pino, partner & Latam corporate affairs general director.

7. Tecnologia

As pessoas têm uma relação cada vez mais ambígua com a tecnologia, com cerca de 90% da população dos países ricos a utilizar a internet diariamente, mas com a confiança neste meio a continuar a diminuir. “A nossa relação com as redes sociais e o mundo digital é hoje um pouco mais conflituosa do que no passado recente e não devemos considerar os cidadãos como adictos acríticos no lado digital da vida”, refere a LLYC.

Esta relação ambivalente “obriga as empresas a repensar as suas estratégias”, entende Anne Davie, north latam marketing solutions general director. “A reação contra a sobreexposição digital pode afetar a eficácia do marketing e a confiança nas plataformas, pelo que as marcas devem equilibrar a personalização e a privacidade para se manterem relevantes”, aconselha.

8. Geração Z está a redefinir a atualidade

A Geração Z está a torna-se maioritária no mercado de trabalho, definindo cada vez mais o consumo e as condições de trabalho. Quer mais sustentabilidade, mostra uma maior preocupação com o clima e a diversidade e não considera que a carreira seja a prioridade da vida, querendo mais flexibilidade. E, ao mesmo tempo que isto acontece, a população está a envelhecer, recorda a agência.

“A chave está na escuta ativa e na orientação para uma compreensão profunda dos insights: o que os move, o que os inspira, quem os influencia, sobre o que conversam e em que espaços? Só saindo dos nossos próprios sapatos e colocando-nos no lugar dos outros é que poderemos tomar decisões que sejam verdadeiramente relevantes, diferenciadoras e autênticas”, afirma Gemma Gutiérrez, Europe marketing solutions general director.

9. Risco da bipolaridade

Indo contra a ideia que se começou a cimentar na década de 1990, de que o mundo se tornaria cada vez mais globalizado e interligado, surge agora o risco da fragmentação e, mais concretamente, da bipolaridade. A perspetiva da LLYC é que os Estados Unidos e a China liderem dois blocos globais e que o resto do mundo terá de escolher entre pertencer a um ou a outro. “As cadeias logísticas, as estratégias de exportação e importação, os investimentos no estrangeiro e os padrões de consumo serão profundamente afetados por esta situação”, preconiza a agência.

“O mundo não está a recuar para o isolacionismo, mas está a avançar para uma ordem mais complexa e fragmentada. Para navegar nesta nova era de bioglobalização, as empresas têm de priorizar a agilidade, a diversificação e a previsão estratégica. Aquelas que se adaptarem com sucesso a este cenário em evolução encontrarão oportunidades no meio dos desafios, enquanto as que se agarrarem a pressupostos desatualizados poderão ter dificuldades em competir”, explica Mike Houston, U.S. CEO.