Hora de repensar? BBB 25 chega ao final com dois participantes eliminados pelo Voto Único

Disputa de campeão é dominada por rejeitados na votação individual. Modelo atual fracassa, frustra o público e entrega pior audiência do programa

Abr 21, 2025 - 13:14
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Hora de repensar? BBB 25 chega ao final com dois participantes eliminados pelo Voto Único

Final ignora vontade do público

O BBB 25 chega ao fim na terça (22/4) com uma constatação incômoda: dois dos três finalistas — João Pedro Siqueira e Renata Saldanha — foram rejeitados pelo Voto Único durante a temporada. Em disputas diretas contra Daniele Hypolito e Vinícius Nascimento, os dois teriam sido eliminados pela maioria dos votos individuais. Ainda assim, seguiram no jogo graças ao sistema de média aritmética, que iguala o peso entre o Voto Único e o Voto de Torcida, e agora se juntam a Guilherme Vilar na decisão do campeão.

O modelo híbrido foi implantado pela Globo no ano passado com a promessa de reequilibrar a influência das torcidas, que dominaram os desfechos do BBB 21 ao BBB 23. No BBB 24, a fórmula passou despercebida por não haver divergência entre torcida e audiência. Mas no BBB 25, a separação ficou evidente e demonstrou que o remédio não teve efeito nenhum. O público continua refém das torcidas.

A final é simbólica do que aconteceu ao longo do programa. Se dependesse do público, nem João Pedro nem Renata teriam chegado tão longe. Ambos deveriam ter saído, mas seguiram até a final impulsionados por mutirões que contrariam a vontade geral.

A distância entre público e torcida

O rompimento entre o voto do público e a força das torcidas começou com Vitória Strada, que a torcida quis tirar num Paredão com Gabriel Yoshimoto, mas a público não deixou. A situação mostrou pela primeira vez a diferença entre as duas votações. Depois disso, o Voto Único perdeu vários favoritos para o Voto da Torcida.

A maior ruptura aconteceu na eliminação de Aline Patriarca, que venceu Maike Cruz no Voto Único, mas saiu por conta do peso do Voto de Torcida. Na ocasião, Aline recebeu 45,10% dos votos individuais contra 53,32% de Maike, uma diferença de 9%. Mas a média geral — sem qualquer correção de peso entre os dois formatos — provocou sua saída, invertendo o desejo do público.

Modelo híbrido perdeu a função

Criado para equilibrar engajamento e representatividade, o sistema de votação se mostrou ineficaz para cumprir sua função. Atribuir pesos iguais para um modelo dominado por torcidas apenas favorece o volume de votos sobre a preferência individual.

O resultado do BBB 25 escancara essa falha: o espectador assistiu, votou e tentou decidir, mas quem determinou o desfecho foi a capacidade de mobilização de quem o público quis tirar do programa.

Será a final de pior audiência?

Além de distorcer os resultados, o modelo de votação atual afetou diretamente o interesse do público. O BBB 25 chega ao fim como a edição de menor audiência da história do programa. A eliminação dos favoritos do público ao longo da temporada só agravou esse resultado.

Não é à toa que existe expectativa de recorde negativo para a exibição da final. Não só os vencedores do Voto Único foram eliminados como a ausência de embate real eliminou qualquer tensão no resultado. Sobrou uma final previsível, em que o público já sabe quem as torcidas escolheram para vencer — justamente quem deveria ter saído há vários Paredões, segundo a verdadeira vontade popular.

Globo vai fingir que não liga?

A nove meses do BBB 26, a Globo tem diante de si uma nova temporada para gestar. Vai fingir que está tudo bem e manter o modelo que afasta o público e prejudica a audiência? Ou corrigir a fórmula para devolver ao público o poder de decisão – e assim reconquistar a audiência perdida?

Se, no primeiro teste, viu-se que o remédio contra o domínio das torcidas não fez efeito, não seria hora de mudar a receita? Sem os devidos cuidados, o quadro só tende a piorar.

Alternativa é simples e funciona

Se quiser mudar as regras, a Globo tem dois caminhos claros diante de si. O mais radical é eliminar o Voto de Torcida, algo que é insistentemente pedido pela crítica televisiva. Isso valorizaria a vontade popular, mas reduziria drasticamente o número de votos computados — e, com eles, o volume de acessos ao Gshow, que ajuda o portal a subir no ranking de visitas e reverte mais publicidade.

Mas será que é preciso tratar disso como um dilema, em que a solução prejudica o modelo inteiro? Existe uma alternativa que funciona perfeitamente sem a necessidade de abrir mão dos cliques. Em “A Fazenda”, em vez de votar para eliminar, o público vota para quem quer que fique.

Essa simples inversão muda a lógica do jogo. Impede que torcidas se unam para derrubar adversários fortes e reduz a sobrevida das “plantas” escondidas por embates. Com esta simples mudança, a própria estrutura híbrida — com Voto Único e de Torcida — poderia ser mantida, deixando inalterada a avalanche de cliques.

É mudar ou perder público – e anunciantes

Se o objetivo é preservar a participação em massa sem perder o apoio do público, a solução é simples e já foi testada com sucesso na TV brasileira. Para salvar o BBB, basta a Globo inverter a direção dos votos.

Veremos essa pequena mudança ou vamos nos preparar para um BBB 26 com novos recordes de audiência negativa? Qual o limite de queda até os parceiros comerciais abandonarem o programa?

Será que vale a pena insistir no que não funciona e com isso prejudicar todo o negócio? Se os discursos do apresentador Tadeu Schmidt enfatizam que a passividade é o caminho certo da derrota, quem está correndo maior risco de encarar um Paredão decisivo é o próprio BBB.