Exportadores chineses adotam diversificação e mercado interno para enfrentar tarifas dos EUA

A imposição de tarifas adicionais por parte dos Estados Unidos sobre produtos chineses levou empresas exportadoras da China a reformular estratégias de atuação internacional. A nova rodada de tarifas, promovida durante o governo do ex-presidente Donald Trump, inclui alíquotas que chegam a 245% e tem provocado ajustes nas cadeias de suprimento e nos mercados-alvo das […] O post Exportadores chineses adotam diversificação e mercado interno para enfrentar tarifas dos EUA apareceu primeiro em O Cafezinho.

Abr 19, 2025 - 15:56
 0
Exportadores chineses adotam diversificação e mercado interno para enfrentar tarifas dos EUA

A imposição de tarifas adicionais por parte dos Estados Unidos sobre produtos chineses levou empresas exportadoras da China a reformular estratégias de atuação internacional.

A nova rodada de tarifas, promovida durante o governo do ex-presidente Donald Trump, inclui alíquotas que chegam a 245% e tem provocado ajustes nas cadeias de suprimento e nos mercados-alvo das companhias chinesas.

Diante das restrições tarifárias, empresas chinesas passaram a intensificar a diversificação geográfica de suas exportações, ampliar a integração com o mercado doméstico e ressaltar a centralidade da China no sistema global de manufatura como forma de conter os impactos das medidas norte-americanas.

A BEIFA, fabricante de artigos de papelaria sediada em Ningbo, no leste da China, é um dos exemplos de adaptação. A companhia projeta um crescimento de 30% nas vendas para um grande varejista europeu neste ano, mesmo em meio à redução das exportações para os Estados Unidos.

A empresa também registra aumento na demanda por seus produtos em países do Sudeste Asiático. Representantes da área comercial indicam expectativas de expansão, mesmo com a retração no mercado americano.

A China mantém posição dominante no fornecimento global de produtos de papelaria, representando mais de 30% das exportações mundiais do setor. Somente a cidade de Ningbo é responsável por aproximadamente 3 bilhões de yuans em exportações anuais desses produtos.

Segundo Zhao Zhongxiu, presidente da Universidade de Negócios Internacionais e Economia, a relevância da China no setor industrial global, aliada à capacidade de inovação, sustenta a confiança de parceiros internacionais.

“O sistema de produção global não pode funcionar sem a China. Esta é a base da nossa confiança para combater choques tarifários e navegar em guerras comerciais”, afirmou Zhao ao China Media Group.

Casos como o da BEIFA refletem movimentos mais amplos no setor manufatureiro chinês. Uma fabricante de autopeças de Dongguan, no sul do país, que antes dependia majoritariamente de clientes norte-americanos, reduziu essa exposição ao transferir parte de sua produção para a Tailândia.

A mudança permitiu à empresa diminuir a participação dos EUA em sua receita para menos de 30% e ampliar sua presença para cerca de 40 países.

A estratégia está alinhada às diretrizes da política industrial chinesa, que tem como um de seus pilares a redução da vulnerabilidade a medidas comerciais unilaterais por meio da diversificação de mercados.

Além da realocação geográfica das exportações, outra frente de atuação está voltada para o fortalecimento do mercado doméstico.

Em resposta à desaceleração do comércio com os Estados Unidos, o governo chinês tem incentivado a absorção de produtos voltados originalmente à exportação por meio de plataformas de comércio eletrônico e redes varejistas nacionais.

Empresas como a FreshHippo e a Yonghui Superstores lançaram campanhas para promover esses produtos no mercado interno.

A JD.com, uma das principais varejistas on-line da China, anunciou a criação de um fundo de compras de 200 bilhões de yuans, o equivalente a US$ 27,4 bilhões, para apoiar essa iniciativa ao longo dos próximos doze meses.

A medida atende a apelos de autoridades chinesas que buscam formas de estimular o consumo interno como instrumento de sustentação da atividade econômica.

Para Tian Lihui, professor de Finanças da Universidade de Nankai, esse movimento é relevante não apenas como resposta conjuntural, mas também como parte de uma reformulação mais ampla da economia chinesa.

Segundo declarou ao Securities Daily, a colaboração entre exportadores e redes varejistas locais “não apenas alivia as pressões operacionais de curto prazo, mas também impulsiona a reforma estrutural do lado da oferta”.

Enquanto as empresas chinesas buscam mitigar os impactos das tarifas, os efeitos colaterais das medidas também atingem o próprio mercado norte-americano. A elevação de preços de bens importados tem gerado custos adicionais para consumidores e empresas dos Estados Unidos.

Uma máquina de lavar fabricada em Cixi, no leste da China, passou a custar US$ 270 no varejo americano, frente aos US$ 180 anteriores à implementação das tarifas. A mudança reduziu a demanda pelo produto.

De acordo com o Laboratório de Orçamento da Universidade de Yale, as famílias dos Estados Unidos podem enfrentar uma elevação de até US$ 5.000 nos gastos com consumo em razão do aumento nos preços das importações.

Especialistas do setor alertam ainda para possíveis perdas nas exportações agrícolas americanas, que podem ser atingidas por medidas retaliatórias da China.

A reconfiguração das estratégias comerciais por parte da China ocorre em um cenário de tensões prolongadas entre as duas maiores economias do mundo.

A combinação de diversificação de mercados, integração com o mercado doméstico e manutenção da posição central na indústria global de manufatura constitui a base da resposta chinesa aos desafios impostos pelas tarifas americanas. O desfecho dessas medidas dependerá da evolução das políticas comerciais e das negociações bilaterais nos próximos meses.

O post Exportadores chineses adotam diversificação e mercado interno para enfrentar tarifas dos EUA apareceu primeiro em O Cafezinho.