Erosão costeira causa avanço do mar em todas as 20 cidades litorâneas do Ceará, aponta estudo

A erosão costeira provoca o avanço do mar e prejudica os atrativos naturais e as infraestruturas que sustentam a economia local. O Governo do Ceará instituiu o Comitê de Planejamento e Resposta à Erosão Costeira (CPREC) para buscar soluções para o problema. Ceará tem 215 de 553 pontos do litoral com erosão crítica O litoral do Ceará tem sido fortemente afetado pela erosão costeira nos últimos anos, o que causa o avanço do mar e prejudica os atrativos naturais e as infraestruturas que sustentam a economia local. Um estudo revela que dos 553 pontos analisados da linha de costa, 215 foram enquadrados como em erosão crítica em todas as 20 cidades litorâneas do estado. ✅ Clique aqui para seguir o canal do g1 Ceará no WhatsApp O Plano de Ações de Contingência para Processos de Erosão Costeira (PCEC), lançado em março, foi elaborado pela Secretaria do Meio Ambiente e Mudança do Clima (SEMA) e a Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FUNCAP). A praia do Icaraí, em Caucaia, é uma das áreas mais afetadas pela erosão costeira no Ceará. Mar avança há anos na orla do Icaraí, em Caucaia Fabiane de Paula/SVM Entre 1984 e 2020, o litoral da região perdeu cerca de 110 metros de faixa de areia, de acordo com um estudo da Universidade Estadual do Ceará (Uece). Nos últimos anos, moradores e comerciantes da região conviveram com os efeitos diretos desse avanço do mar: muros desabaram, trechos da Avenida Litorânea cederam, rachaduras surgiram em imóveis e o medo de desabamentos se tornou constante entre quem vive em condomínios à beira-mar. Para conter o avanço do mar na Praia do Icaraí, a Prefeitura de Caucaia adotou uma série de intervenções estruturais: Instalação de uma bagwall, estrutura em forma de escadaria feita com pedras na faixa de areia; Um sistema de enrocamento com pedras arrumadas para dissipar a força das ondas; Construção de três espigões em formato de serpente, inclinados na direção oeste, com o objetivo de reduzir a erosão e proteger a orla. Espigões construídos na orla de Caucaia seguem formato senoidal, em "S". Prefeitura de Caucaia/Divulgação Apesar das obras de contenção, os impactos da erosão costeira ainda fazem parte da rotina de quem mora na Praia do Icaraí. A professora Orlenilda Cunha de Souza, de 56 anos, vive há sete anos na região e relata que o problema persiste no condomínio onde mora, localizado após os espigões construídos pela prefeitura. Ela acredita que as estruturas acabaram desviando a força das ondas para o trecho onde está o imóvel. "No dia 22 de setembro do ano passado, as ondas mais altas derrubaram uma parte enorme do nosso muro. Ficamos desesperados”, relata. “São nossas casas, nossas vidas, são propriedades que foram atingidas com muito suor e a gente vê que não há uma preocupação muito grande das autoridades”, afirma. Entenda o que é a erosão costeira Icapuí é uma das cidades mais afetadas pela erosão costeira. Montagem/Gustavo Pellizzon/SVM As praias podem ter diferentes composições — arenosas, argilosas ou rochosas — e se formam nas áreas onde ocorrem as variações das marés. Segundo o professor Jeovah Meireles, do Departamento de Geografia da Universidade Federal do Ceará (UFC), a dinâmica das ondas, especialmente durante a maré cheia, movimenta constantemente os sedimentos, como a areia, ao longo da costa. Essa movimentação é guiada pelo ângulo em que as ondas quebram na faixa de areia, um processo influenciado pelos ventos alísios, correntes de ar constantes e regulares que sopram dos trópicos em direção à linha do Equador. A energia gerada por essas ondas garante o transporte contínuo das areias ao longo do litoral. No entanto, quando essa areia não é reposta — seja por sedimentos vindos de praias vizinhas, por rios ou por outros processos naturais —, o volume de areia diminui e dá início ao processo de erosão. "Como as ondas não param de promover essa descarga de energia, ocorre deflação de areia e a erosão é progressiva. A não reposição, a não entrada de sedimentos provenientes de outras praias, lançados pelos rios ou quando as ondas atingem as dunas que bordejam a linha de costa, a erosão é progressiva e ampliada em trechos mais extensos", explica o professor. A erosão pode ser intensificada tanto por mudanças climáticas, como por atividades humanas. Jeovah aponta três principais causas que vêm potencializando esse processo: Ocupação urbana e retirada de areia: A zona de berma, faixa entre a praia e o continente, vem sendo ocupada de forma desordenada e usada como fonte de areia para construção, o que compromete a reposição natural de sedimentos e agrava a erosão; Interferência nos rios e barragens: Em nível regional, barragens nos rios têm reduzido o volume de sedimentos que alcança as praias, prejudicando o abastecimento natural de areia; Crise climática e elevação do nível do mar: Dados do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) mostram que a elevação do nível do mar está acelerando de forma preocupante. En

Abr 27, 2025 - 08:28
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Erosão costeira causa avanço do mar em todas as 20 cidades litorâneas do Ceará, aponta estudo

A erosão costeira provoca o avanço do mar e prejudica os atrativos naturais e as infraestruturas que sustentam a economia local. O Governo do Ceará instituiu o Comitê de Planejamento e Resposta à Erosão Costeira (CPREC) para buscar soluções para o problema. Ceará tem 215 de 553 pontos do litoral com erosão crítica O litoral do Ceará tem sido fortemente afetado pela erosão costeira nos últimos anos, o que causa o avanço do mar e prejudica os atrativos naturais e as infraestruturas que sustentam a economia local. Um estudo revela que dos 553 pontos analisados da linha de costa, 215 foram enquadrados como em erosão crítica em todas as 20 cidades litorâneas do estado. ✅ Clique aqui para seguir o canal do g1 Ceará no WhatsApp O Plano de Ações de Contingência para Processos de Erosão Costeira (PCEC), lançado em março, foi elaborado pela Secretaria do Meio Ambiente e Mudança do Clima (SEMA) e a Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FUNCAP). A praia do Icaraí, em Caucaia, é uma das áreas mais afetadas pela erosão costeira no Ceará. Mar avança há anos na orla do Icaraí, em Caucaia Fabiane de Paula/SVM Entre 1984 e 2020, o litoral da região perdeu cerca de 110 metros de faixa de areia, de acordo com um estudo da Universidade Estadual do Ceará (Uece). Nos últimos anos, moradores e comerciantes da região conviveram com os efeitos diretos desse avanço do mar: muros desabaram, trechos da Avenida Litorânea cederam, rachaduras surgiram em imóveis e o medo de desabamentos se tornou constante entre quem vive em condomínios à beira-mar. Para conter o avanço do mar na Praia do Icaraí, a Prefeitura de Caucaia adotou uma série de intervenções estruturais: Instalação de uma bagwall, estrutura em forma de escadaria feita com pedras na faixa de areia; Um sistema de enrocamento com pedras arrumadas para dissipar a força das ondas; Construção de três espigões em formato de serpente, inclinados na direção oeste, com o objetivo de reduzir a erosão e proteger a orla. Espigões construídos na orla de Caucaia seguem formato senoidal, em "S". Prefeitura de Caucaia/Divulgação Apesar das obras de contenção, os impactos da erosão costeira ainda fazem parte da rotina de quem mora na Praia do Icaraí. A professora Orlenilda Cunha de Souza, de 56 anos, vive há sete anos na região e relata que o problema persiste no condomínio onde mora, localizado após os espigões construídos pela prefeitura. Ela acredita que as estruturas acabaram desviando a força das ondas para o trecho onde está o imóvel. "No dia 22 de setembro do ano passado, as ondas mais altas derrubaram uma parte enorme do nosso muro. Ficamos desesperados”, relata. “São nossas casas, nossas vidas, são propriedades que foram atingidas com muito suor e a gente vê que não há uma preocupação muito grande das autoridades”, afirma. Entenda o que é a erosão costeira Icapuí é uma das cidades mais afetadas pela erosão costeira. Montagem/Gustavo Pellizzon/SVM As praias podem ter diferentes composições — arenosas, argilosas ou rochosas — e se formam nas áreas onde ocorrem as variações das marés. Segundo o professor Jeovah Meireles, do Departamento de Geografia da Universidade Federal do Ceará (UFC), a dinâmica das ondas, especialmente durante a maré cheia, movimenta constantemente os sedimentos, como a areia, ao longo da costa. Essa movimentação é guiada pelo ângulo em que as ondas quebram na faixa de areia, um processo influenciado pelos ventos alísios, correntes de ar constantes e regulares que sopram dos trópicos em direção à linha do Equador. A energia gerada por essas ondas garante o transporte contínuo das areias ao longo do litoral. No entanto, quando essa areia não é reposta — seja por sedimentos vindos de praias vizinhas, por rios ou por outros processos naturais —, o volume de areia diminui e dá início ao processo de erosão. "Como as ondas não param de promover essa descarga de energia, ocorre deflação de areia e a erosão é progressiva. A não reposição, a não entrada de sedimentos provenientes de outras praias, lançados pelos rios ou quando as ondas atingem as dunas que bordejam a linha de costa, a erosão é progressiva e ampliada em trechos mais extensos", explica o professor. A erosão pode ser intensificada tanto por mudanças climáticas, como por atividades humanas. Jeovah aponta três principais causas que vêm potencializando esse processo: Ocupação urbana e retirada de areia: A zona de berma, faixa entre a praia e o continente, vem sendo ocupada de forma desordenada e usada como fonte de areia para construção, o que compromete a reposição natural de sedimentos e agrava a erosão; Interferência nos rios e barragens: Em nível regional, barragens nos rios têm reduzido o volume de sedimentos que alcança as praias, prejudicando o abastecimento natural de areia; Crise climática e elevação do nível do mar: Dados do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) mostram que a elevação do nível do mar está acelerando de forma preocupante. Entre 1900 e 1990, o aumento anual variava entre 1,2 mm e 1,7 mm. Em 2000, subiu para 3,2 mm; em 2016, para 3,4 mm; e em 2024, atingiu 5,9 mm ao ano. Entre os principais fatores que contribuem para a intensificação da erosão nas praias do Ceará, o professor destaca o desmatamento das bacias hidrográficas, a impermeabilização do solo e a ocupação desordenada de áreas sensíveis, como dunas, falésias e manguezais. Os efeitos da erosão são sentidos rapidamente. A faixa de praia se modifica com velocidade, restringindo o uso para lazer, turismo e moradia por parte das comunidades litorâneas. Praticamente toda a linha de costa do Ceará está passando por processos erosivos, o que interfere na qualidade dos aquíferos. Com a construção dos muros e espigões para salvaguardar praias em erosão, eleva o poder erosivo das ondas em setores desprotegidos, e logo precisa-se de mais obras de engenharia para proteger as edificações em risco de desmoronamentos. Panorama da erosão costeira no Ceará Avanço do mar destrói casas e comércios da praia da Peroba, em Icapuí. Kilvia Muniz/Sistema Verdes Mares O Ceará possui mais de 570 km de costa com 20 municípios no litoral, incluindo: Acaraú, Amontada, Aquiraz, Aracati, Barroquinha, Beberibe, Camocim, Cascavel, Caucaia, Cruz, Fortaleza, Fortim, Icapuí, Itapipoca, Itarema, Jijoca de Jericoacoara, Paracuru, Paraipaba, São Gonçalo do Amarante e Trairi. Para avaliar o impacto da erosão costeira no Ceará, o PCEC utilizou técnicas e ferramentas de sensoriamento remoto, com o objetivo de identificar alterações na linha de costa ao longo do tempo. No diagnóstico, foram gerados transectos (linhas imaginárias traçadas perpendicular à costa) posicionados na plataforma CASSIE — uma ferramenta web que realiza a detecção e análise automática da linha de costa a partir de imagens de satélite. Esses transectos foram distribuídos a cada 1 km ao longo da costa, possibilitando o cálculo das variações. Ao todo, foram estabelecidos 553 transectos distribuídos nos 20 municípios com frente marítima. Esses transectos funcionam como pontos de análise da evolução da linha de costa entre os anos de 2016 e 2024. A partir dessa análise, foi possível obter um panorama abrangente da erosão costeira em escala estadual e direcionar investigações mais detalhadas para os trechos mais impactados. O estudo classificou os 553 pontos da seguinte maneira: