Cientistas do Brasil ajudam a desvendar origem de Mercúrio

Novo estudo sugere que Mercúrio se formou após colisão oblíqua com protoplaneta de tamanho similar – e não com um corpo maior O post Cientistas do Brasil ajudam a desvendar origem de Mercúrio apareceu primeiro em Olhar Digital.

Abr 11, 2025 - 21:53
 0
Cientistas do Brasil ajudam a desvendar origem de Mercúrio

Uma equipe internacional de cientistas do Brasil, Alemanha e França propõe uma nova explicação para a origem do enigmático Mercúrio. Segundo o estudo, o planeta pode ter surgido após uma colisão violenta entre dois corpos celestes de tamanho semelhante, no início da formação do Sistema Solar.

Mercúrio é o menor mundo do Sistema Solar e também o mais próximo do Sol. Apesar do tamanho modesto, ele é surpreendentemente denso. Cerca de 60% da massa de Mercúrio está concentrada em seu núcleo, extremamente rico em ferro – algo que não se observa nos outros planetas rochosos, como Terra, Vênus ou Marte.

Essa característica sempre intrigou os cientistas, porque não se encaixa nas teorias tradicionais sobre como os planetas se formam. Além disso, a sonda MESSENGER, da NASA, que estudou Mercúrio entre 2011 e 2015, revelou outra surpresa: sua superfície é rica em elementos voláteis como potássio, enxofre e sódio.

Esses elementos são facilmente destruídos por calor extremo. Se Mercúrio tivesse sofrido um único impacto colossal, como se pensava antes, esses voláteis teriam desaparecido. Isso levou os pesquisadores a duvidar da ideia de uma colisão única e rara no passado do planeta.

Colisão com corpo celeste de tamanho semelhante ao de Mercúrio (e nao maior) teria dado origem ao planeta mais próximo do Sol. Crédito: Flavia Correia via DALL-E/Olhar Digital

Objeto “atropelou” Mercúrio e “fugiu”

Agora, novas simulações mostram que uma colisão diferente pode explicar tanto o núcleo grande quanto a presença de voláteis. Em vez de bater em um corpo muito maior, Mercúrio teria colidido de forma oblíqua com outro protoplaneta de tamanho parecido.

Esse tipo de colisão – apelidada de “atropelamento e fuga” – pode acontecer com mais frequência do que se imaginava. O impacto não teria destruído completamente os dois corpos, mas teria arrancado parte da camada externa de Mercúrio, sem vaporizar ou derreter seus elementos voláteis.

Segundo o astrofísico Patrick Franco, principal autor do estudo, esse tipo de evento não seria tão raro. “Esses impactos podem ser os verdadeiros responsáveis pela forma final dos planetas rochosos no sistema solar”, disse ele em entrevista ao site Live Science.

As simulações feitas pela equipe conseguiram recriar a estrutura interna e a composição química de Mercúrio com impressionante precisão. Um fator essencial foi o ângulo da colisão: certos ângulos permitiram que o planeta perdesse a quantidade certa de massa para adquirir sua atual configuração.

Outro fator importante é o momento em que o impacto teria ocorrido. A colisão teria acontecido dezenas de milhões de anos após o nascimento do Sistema Solar, quando os planetas jovens já possuíam núcleos e mantos bem definidos.

Um impacto nesse estágio da formação planetária poderia remover seletivamente parte do manto rochoso de Mercúrio, sem destruir sua estrutura interna. Segundo Franco, se o choque tivesse ocorrido antes, quando ainda havia muitos detritos no espaço, Mercúrio poderia ter sido reabsorvido por outros corpos.

Mercúrio é o planeta mais próximo do Sol, mas pode ter nascido entre as órbitas de Vênus e da Terra, migrando posteriormente. Cédito: Withan Tor – Shutterstock

Leia mais:

Planeta teria mudado de posição no Sistema Solar

As simulações também indicam que o impacto teria acontecido entre as órbitas de Vênus e da Terra – uma região muito mais tumultuada nos primeiros tempos do Sistema Solar. Isso sugere que Mercúrio pode ter se formado ali e migrado para mais perto do Sol mais tarde.

Essa nova hipótese ainda precisa ser confirmada por dados reais. E a resposta pode estar a caminho: a missão BepiColombo, uma parceria entre as agências espaciais da Europa e do Japão, chegará a Mercúrio em 2026. Seus instrumentos poderão testar as previsões do novo modelo.

Até lá, a origem exata de Mercúrio continua sendo um mistério em aberto. Mas o novo estudo oferece uma explicação mais plausível e coerente com o que se conhece hoje sobre colisões cósmicas e a formação dos planetas.

O post Cientistas do Brasil ajudam a desvendar origem de Mercúrio apareceu primeiro em Olhar Digital.